Após ajuste nos valores dos convênios, servidores estaduais se reúnem na Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul) na manhã desta quinta-feira (3) para protestar sobre as últimas decisões e, ainda, pedem CPI (Comissão Parlamentar de Inquéritos) para que seja investigado um déficit de R$ 17 milhões na Cassems. Em meio às movimentações, servidores reclamam que valores são desproporcionais aos serviços prestados pelo convênio de saúde por ser considerado precário.

A concentração começou por volta de 9h15 e, até a publicação desta reportagem, ao menos 35 pessoas seu reúnem em frente à Alems e plenário se encontra lotado para manifestação em desfavor da Cassems. Ao Jornal Midiamax, servidores alegam que o reajuste dos valores é desproporcional ao salário recebido e ao serviço prestado pelo convênio, considerado precário.

O sargento Jeferson Chaves explica que possui os dois netos e sua esposa como agregados à Cassems, o que resulta num pagamento de quase R$ 1 mil de mensalidade ao convênio.

“Ganho pouco e o valor não condiz com a minha renda. Não importa se você é soldado ou concursado, o valor é desproporcional com a realidade do que o servidor ganha. O acréscimo de R$ 46 será descontado a cada pessoa incluída no plano da família, a pessoa. Eu não pago para viver de hospital, são paliativos quando não tem saída, mas se colocar na caneta o servidor vai pagar um carro popular por cada quatro anos”, opina.

Outra servidora, que preferiu anonimato, disse que paga mensalmente R$ 270. Recentemente, o filho precisou fazer uma cirurgia de enxerto e ouviu do médico que os produtos utilizados não seriam de qualidade.

“A cirurgia de enxerto no rosto foi pelo plano da Cassems, mas em outro hospital. Ele [filho] teve que fazer enxerto ósseo porque o médico fez uma cirurgia semelhante em outra criança e o produto esfarelou. Então, ele se recusou fazer com o mesmo produto. Vamos pagar e precisamos de melhoria no serviço”, pontua a mulher.

Servidores querem anular assembleia da Cassems

Toda a movimentação dos servidores começou depois que a Cassems realizou assembleia na última quinta-feira (27). Ocasião contou com 700 servidores que votaram pelas mudanças no plano de saúde. Porém, uma das alegações dos manifestantes é que a quantidade de pessoas presentes no dia não representaria nem 1% do total porque são 87 mil titulares.

Assim, uma outra servidora acredita que a maioria dos 700 representantes presentes na última assembleia eram sindicalizados.

“Ou são do sindicato ou funcionário da própria Cassems, que não representa toda a categoria. Na minha casa, por exemplo, são quatro pessoas que dependem do plano, se for para folha é R$ 180 descontado só para isso, fora o adicional por exame”, critica.

Dessa forma, a categoria diz que a votação para reajuste deveria ser feita de forma clara. “Teve vários meios para reajuste a favor do servidor, pelo aplicativo da Cassems, por lista. Não há como saber se os votantes são ativos. Não é um serviço de qualidade para mudar agora”. A intenção é, principalmente, anular as decisões da última reunião.

Servidores se concentram para pedir anulação das mudanças (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Falhas no plano de saúde

Edvania Biserra Amario Garcia, policial penal de 43 anos, também conversou com a reportagem. Ela alega que no ano passado os filhos gêmeos, de 1 ano e 3 meses, foram internados com pneumonia. Um deles sofreu complicações e o tratamento acarretou sequelas no filho, diagnóstico atualmente com autismo leve, atraso na fala e dificuldades em locomoção.

“Pago em média R$ 700 mensal, fora exames. Na época, a equipe de enfermaria disse que meu filho era gordinho e teve dificuldade em inserir os acessos, o braço dele ficou roxo, tiveram que implantar o acesso central, próximo da cabeça porque ele já não aguentava mais de dor. Ele não melhorava e foi levado para o CTI. Ficou internado umas 3 semanas e chegou a ficar em coma”, recorda.

Assim, ela afirma não reclamar do reajuste, mas que o novo valor deveria caminhar junto com a qualidade do serviço, atualmente considerado precário e falho pela policial.

“A Cassems possui apenas um neuropediatra, as enfermeiras não tiveram cuidado e eu quase perdi meu filho. Ele voltou com sequelas. Teve outra vez que fiz uma teleconsulta para minha filha. Não informaram que tinha que ser pago R$ 22. Nem tinha conhecimento desse débito e o plano ficou bloqueado por esse valor. Tive de ir até lá, fiquei 3h esperando atendimento. Falta clareza na prestação do serviço”, afirma.

Nesse mesmo sentido, Elder Mendes é representante da Associação de Bombeiros Militares de MS e também está presente no local. Ele contou todo o acompanhamento do protesto mostra a insatisfação dos servidores com a cobrança. Além disso, pontua falha na divulgação da assembleia porque “o servidor não fica no dia a dia acompanhando o diário oficial”.

Entenda o protesto

Depois que a Cassems votou num reajuste do valor cobrado do plano de saúde na última quinta-feira, servidores estaduais se movimentam contra a cobrança. Além disso, pedem abertura de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar déficit de R$ 17 milhões da Cassems.

Os servidores querem anular medidas que encareceram a mensalidade, como a contribuição fixa de R$ 45, limitada a R$ 180 por família, sobre tratamentos odontológicos e de outras terapias em que seja necessário o uso de materiais de OPME (Órtese, Prótese e Materiais Especiais).

Em conversa com a reportagem na última segunda-feira, Ricardo Ayache, presidente da Cassems, defendeu que a assembleia da quinta-feira foi realizada com ampla convocação e divulgação.

“Houve uma maioria absoluta que aprovou a mudança de contribuição. Existem grupos de Whatsapp as pessoas estão se movimentando, mas nós já nos reunimos com representantes dos grupos na sexta-feira (28) e mostrou com mais detalhes ainda todo o cenário, a importância na mudança de modelo que traz benefícios, como a extinção da cobrança de fatores participativos de materiais cirúrgicos, por exemplo, que são muito caros”.