Indígenas ‘migratórios’ serão monitorados após morte de bebê por suspeita de desnutrição em MS
Criança não era cadastrada no DSEI, que promete força-tarefa em todo Mato Grosso do Sul
Karina Campos –
Notícias mais buscadas agora. Saiba mais
A morte de um bebê causada possivelmente por desnutrição, no Assentamento Santa Felicidade, em Dourados, escancara a falta de monitoramento de famílias indígenas migratórias, aquelas que deixaram aldeias e decidiram morar nas áreas urbanas de Mato Grosso do Sul. Diante do novo caso, a coordenação regional do DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) afirma que fará uma força-tarefa para cadastrar famílias em todas as regiões do Estado, já que a criança que morreu na semana passada não era monitorada.
A comunidade a qual a família da criança fazia parte foi despejada da retomada de Apyka’i, em 2016. Segundo a Entidade de Defesa das Mulheres Indígenas, uma megaoperação despejou nove famílias Guarani Kaiowa da propriedade arrendada para o plantio de cana. Desde então, a maioria migra para outros assentamentos ou vive à beira de rodovias.
“Só em Dourados há 20 mil indígenas e há uma cultura migratória entre as famílias e há milhares que saem da aldeia, de uma terra e não avisa o DSEI. Há uma falha no monitoramento pela dificuldade em percorrer as longas distâncias e a quantidade de equipes atuando. Por exemplo, o polo de Dourados atende Maracaju, Douradina e distritos da região, somando apenas uma assistente social, três nutricionistas. É pouco servidor para uma população considerável e o tamanho territorial de Mato Grosso do Sul”, explica o coordenador do DSEI Arildo Alcântara.
O monitoramento ineficaz de famílias migratórias faz com que crianças indígenas recém-nascidas não tenham cadastro no SIASI (Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena), dados que facilitam a estimativa de povos que são assistidos pelo poder público. O coordenador informada que um dos dados desatualizados é o do bebê morto por falta de alimentação saudável.
A partir da tragédia, o DSEI esclareceu que irá intensificar ações continuadas com equipes remotas em campo para inserir indígenas no SIASI. Conversas com o poder público devem ser revisadas para reforçar o pedido de novos editais e contrações, uma vez que a diretriz da saúde indígena regula uma equipe de atendimento para 4 mil indígenas.
“Assumi há um mês a gestão do DSEI e queremos reduzir esse porcentual ou reajuste na contratação. Temos seis equipes e duas volantes, nosso território é extenso e há muito gasto de gasolina, alimentação. Por exemplo, se vamos fazer visita em Rio Brilhante, como ir para distrito distante no mesmo dia?”.
Investigação
Uma força-tarefa esteve no local no último sábado (6) para um mapeamento da situação. Apesar da extrema pobreza constatada na casa onde a criança morava, tudo indica tratar-se de um caso isolado. O grupo composto pelo MPF (Ministério Público Federal), Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul e Secretaria Estadual de Assistência Social e Diretos Humanos conversou com a mãe da vítima e também com vizinhos. A visita foi acompanhada com exclusividade pela reportagem do Jornal Midiamax.
Duas panelas abertas sobre a mesa, com restos de bobó de galinha, arroz e alguns pedaços de carne, espalhadas entre um litro de leite longa vida, uma lata de suplemento vitamínico e um pacote de biscoitos. A cena, apesar de estarrecedora, diante do aspecto de insalubridade, mostra que a família tinha alimentos, pelo menos, durante a operação.
Encravado quase no final de uma das ruas estreitas de terra, está o barraco onde morava a criança de pouco mais de um ano. O lugar de chão batido coberto por lonas, já em deterioração e paredes de papelão e cobertores, tem apenas dois cômodos.
“Nossa preocupação principal desde o início foi verificar se era uma situação generalizada, ou seja, se a fome tinha atingido outras crianças da família e a gente verificou que não. Há indícios de que ela tinha uma doença e isso obviamente vai ter que ser apurado”, explicou o procurador do MPF, Marco Antônio Delfino.
O que diz a prefeitura de Dourados
Em nota, a prefeitura de Dourados informou que a morte da criança indígena está sendo apurada pelo Ministério Público Federal em Dourados. “A família da criança é atendida pelo CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), que é vinculado à Secretaria de Assistência Social do município”, diz um trecho da nota.
Ainda segundo a prefeitura, no assentamento Santa Felicidade, onde morava a criança, há 21 famílias indígenas. “Segundo o CRAS, a mãe da criança é cadastrada e recebe o Bolsa Família, programa do governo federal”, informa a Assessoria de Comunicação do município.
“Por meio da parceria com a Funai, a família também recebe do CRAS uma cesta básica de alimentos mensalmente. Todo histórico de atendimento à família já foi repassado ao Ministério Público Federal. Lamentamos a morte da criança e informamos que a família continuará sendo assistida”, conclui a nota da prefeitura.
*Com Marcos Morandi.
Notícias mais lidas agora
- Com mudanças no feriado, repartições municipais estarão fechadas a partir desta quinta-feira
- Governo do Estado altera Dia do Servidor Público e decreta ponto facultativo em 14 de novembro
- Duas mulheres e uma adolescente são resgatadas por PMs após ficarem ilhadas em correnteza em Campo Grande
- VÍDEO: Furacão Milton ganha ‘Big Brother’ com câmeras ao vivo na internet
Últimas Notícias
Campo-grandense que enganou Exército por 30 anos terá que devolver R$ 3,2 milhões
Se passou como filha de um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial
Bioparque Pantanal realiza evento global de observação de aves
O Bioparque Pantanal realiza o Big Day, evento global que reúne grupos em todo o mundo para a observação de aves, neste sábado (12). Trata-se da terceira vez que o local recebe os participantes no Parque das Nações Indígenas. Os observadores terão desafios como identificar aves em diferentes níveis de dificuldade, compartilhar uma foto da…
Missões internacionais dizem que eleições ocorreram de forma ordenada
Os representantes do Parlasul reconheceram que o pleito ocorreu de forma pacífica
1,1 mil celulares apreendidos em presídios de MS são entregues a alunos de escolas públicas
Dispositivos passam por rigorosa verificação
Newsletter
Inscreva-se e receba em primeira mão os principais conteúdos do Brasil e do mundo.