Desvio de quase R$ 1 milhão em formatura da USP acende alerta sobre cuidados em Campo Grande

Confira dicas para evitar ficar no prejuízo e sem formatura

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Formatura
(Foto: Ticomia Formaturas)

Após pipocar na Internet, o suposto caso de desvio de R$ 927 mil de fundo de formatura, por parte de estudante de medicina da USP (Universidade de São Paulo), que seria a presidente da comissão, acende alerta sobre a importância de analisar os contratos de movimentação bancária entre integrantes do grupo e empresa responsável pela festa. Segundo empresários do setor de eventos de Campo Grande, os estudantes precisam ficar atentos e buscar mais informação sobre os processos que envolvem grandes quantias de dinheiro.

Tudo começou quando, no último domingo (15), alegações sobre o golpe começaram a circular nas redes sociais. Assim, estudantes de medicina da universidade, que fariam festa de formatura, denunciaram que a acadêmica Alicia Dudy Muller Veiga, de 25 anos, tinha feito o desvio de quase R$ 1 milhão da poupança de custeio da festa em São Paulo.

Alicia Dudy Muller Veiga
Alicia Dudy Muller Veiga é acusada de golpe na USP (Foto: Reprodução)

Segundo o G1 SP, a jovem alega ter aplicado R$ 800 mil em uma corretora de investimentos chamada Sentinel Bank, que a teria enganado e ficado com o dinheiro. A quantia restante teria sido utilizada para pagar advogados na tentativa de recuperar o dinheiro.

Dessa forma, o desvio foi constatado pela Comissão no dia 6 de janeiro deste ano e vítimas registraram boletim de ocorrência.

Em última atualização sobre o caso, a empresa ÁS Formatura, contratada para organizar o evento da turma, foi intimada a prestar esclarecimentos ao Procon sobre o contrato firmado com estudantes e poderá ser multada em R$ 11 milhões caso não dê o retorno. A empresa foi notificada pelo órgão na terça-feira (17).

Alunos que ‘cuidam’ do próprio dinheiro

Conforme pontuado por Elaine Batista, empresária do setor de eventos há 20 anos e à frente de empresa Ticomia – voltada a formaturas sediada na Capital – a turma de medicina de Alicia Dudy Muller procurou a franquia da empresa onde trabalha, na sede de Campinas (SP), para fazer orçamento. No entanto, acadêmicos optaram por cuidar do dinheiro por conta própria e fecharam acordo com outro empreendimento.

Segundo ela disse ao Jornal Midiamax, o principal problema desse setor é a imaturidade dos acadêmicos, que muitas vezes não leem o contrato direito e sequer acompanham as movimentações do próprio dinheiro. Além disso, jovens se deixam iludir por propostas fora do padrão, enquanto tem comissões que são compradas pela promessa de benefícios.

“A comissão de formatura, quando vai fechar contrato no início, são alunos muito imaturos, de 20 anos em média. Isso faz com que cometam erros, inclusive na escolha das empresas sem procedência, que atuam no mercado prometendo o mundo para os formandos, mas que não cumprem o contrato. E esses alunos não têm noção dos valores e acabam acreditando”, explica.

Há anos à frente do setor, Elaine já precisou assumir oito turmas de formaturas que ficaram desesperadas com contratos não completos ou desvios de dinheiro, situações que impossibilitaram a realização dos eventos. Assim, estudantes buscaram ajuda de Elaine.

“A franquia onde trabalho tem 18 unidades na rede, ou seja, é no Brasil inteiro. A gente trabalha com modelo de arrecadação que evita esse tipo de problema, já que blindamos o dinheiro. A gente tem uma gerência e uma financeira, que arrecada e recebe o dinheiro. O valor fica guardado num fundo de renda fixa, garantido, durante todos os anos. Durante esse tempo, a unidade tem percentual mínimo para retirar o dinheiro, manter a estrutura da festa e fazer atendimento. Depois, 80% da quantia do contrato é usada no último ano para fazer a festa”, explica.

Comissão descentralizada

Entre as medidas para evitar problemas com desvio de dinheiro, Elaine ressalta a importância de descentralizar as comissões de formatura, ou seja, não deixar tudo a cargo de apenas uma pessoa – especialmente quando se trata de movimentações monetárias.

“A comissão precisa ir ao banco com o presidente da comissão da formatura e o tesoureiro, por exemplo, para firma o seguinte contrato: para que haja qualquer movimentação na conta da formatura, é necessária a assinatura de ao menos duas pessoas. Isso pode fazer com que mais pessoas tenham conhecimento do que está sendo feito com aquele dinheiro”. Isso vale tanto para os pagamentos da formatura, quanto para as arrecadações extras.

Outra dica é que os próprios alunos fiquem por dentro da arrecadação e peçam retorno sobre situação financeira da poupança periodicamente, como a cada três meses. Em suma, acadêmicos precisam acompanhar de perto e não confiar cegamente.

Conforme José Roberto Fontes, diretor e sócio-proprietário da DZM Eventos, problemas como da USP são esporádicos na Capital e acontecem quando o dinheiro está na mão da comissão. “Normalmente os contratos mais sérios são pagos diretamente da empresa de eventos aos fornecedores. Quem está no setor faz justamente isso para se proteger e prevenir qualquer empecilho”, ressalta.

Atenção às empresas de fora

Outro ponto que necessita atenção é a quantidade de empresas de fora de Mato Grosso do Sul que vendem propostas ‘mirabolantes’ para alunos daqui. Isso porque prometem ‘mundos’ para os formandos, mas na hora de se deparar com o mercado regional, não conseguem cumprir o contrato. O resultado disso: formandos frustrados com a entrega realizada.

“É um problema comercial comum: a empresa de fora monta proposta que não é condizente com o cenário daqui, encanta o formando e não consegue realizar. Vende um sonho e entrega o pesadelo”, ressalta José Roberto.

Elaine ainda explica que são contratos de R$ 500 mil a R$ 1 milhão assinados sem garantia nenhuma. Por isso, “os estudantes precisam estar à frente das negociações e pesquisar locais confiáveis. Não é só porque é de fora que é melhor”.

Por isso, os especialistas afirmam que a pesquisa bem-feita sempre deve ocorrer antes da assinatura do contrato.

Dicas para evitar golpes e frustrações

Segundo os empresários, os estudantes devem:

  • Descentralizar a comissão e responsáveis por movimentações bancárias;
  • Consultar históricos de empresas, CNPJ e ver se existe processo judicial;
  • Pegar referências de antigos formandos que já contrataram determinadas empresas;
  • Analisar contrato junto ao Procon e pedir direcionamento;
  • Definir regras para movimentações bancárias.

Casos já ocorridos em Campo Grande

Problemas com desvios de dinheiro não acontecem só no Estado de São Paulo. Em 2015, ao menos 29 estudantes saíram prejudicados depois que o dinheiro, concentrado na mão do presidente da comissão, sumiu.

Na época, o estudante de jornalismo da Universidade Anhanguera-Uniderp Leonardo Barbosa era suspeito de sumir com R$ 10 mil do dinheiro que seria utilizado para realizar a festa de formatura da turma. Ele chegou a confessar o desvio à polícia mediante justificativa de que passava por dificuldades financeiras.

Segundo Ana Cláudia Medina, então delegada da 1ª Delegacia de Polícia Civil, Leonardo confessou que se apropriou do dinheiro e disse que passava por dificuldades financeiras e tinha dívidas pessoais. Após se apropriar, ele disse ter ficado com vergonha de assumir o erro.

O estudante era o presidente da comissão de formatura e o responsável pelo dinheiro arrecadado para a festa de conclusão de curso. Até que, em certo momento, os estudantes perceberam que o extrato tinha irregularidades, questionaram o colega e ele sumiu da faculdade na época. Caso foi registrado na polícia.

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