O uso de IA (Inteligência Artificial) está cada vez mais presente no cotidiano da população brasileira, por meio dela é possível facilitar tarefas que normalmente exigiriam inteligência humana, como reconhecimento de imagens, redação de textos em linguagem natural e até tomada de decisões.

Mesmo que você não saiba, a IA está presente em nossa rotina, nos aplicativos de celular, redes sociais, serviços de streaming, assistentes virtuais e até aplicativos de rotas como Google Maps e Uber que usam a IA para calcular o melhor trajeto, estimar o tempo de chegada e evitar congestionamentos.

Uma das ferramentas mais comuns é o ChatGPT, modelo de linguagem avançado desenvolvido pela OpenAI, a ferramenta é treinada com milhões de exemplos de texto, o que permite compreender e responder a perguntas sobre diferentes assuntos.

Em pouco tempo, o Chat se tornou um fenômeno e é utilizado para diversas atividades, desde as mais simples como resolver problemas matemáticos básicos e receitas culinárias até o desenvolvimento de códigos de programação.

Guilherme Yamaji trabalha como artista 3D generalista e utiliza ferramentas de IA, como ChatGPT e Adobe Firefly para facilitar o trabalho e auxiliar em seu processo criativo.

“Uso o ChatGPT, Adobe Firefly e as ferramentas integradas dentro de aplicativo, como os apps da Adobe e Notion, elas ajudam com alguns scripts para automatizar processos criativos e imagens que eu posso usar como referência para ajudar na criação e desenvolvimento do meu trabalho. No Notion, por exemplo, criar templates de cronograma de projetos estruturados, a partir do texto que eu escrevi na página do projeto”, explicou.

Para o artista, as ferramentas existem para auxiliar e potencializar o trabalho e a experiência de quem as usa e não devem ser vistas como ameaça ao trabalhador.

“Houve muitos desconfortos e receios da IA banalizar o trabalho criativo, mas gosto de lembrar que quando estou buscando referência de trabalhos de artistas, existe a experiência e a visão de mundo dessa pessoa. Quando se usa IA, depende do prompt que você mesmo diz a ela, sobre aquilo que você espera que gere como resultado. Nem sempre o resultado te agrada. Por isso, vejo como uma ferramenta para ajudar no trabalho e não como o resultado daquilo que eu estudei, aprendi e treinei pra criar no meu trabalho”, explicou Yamaji.

Artista Inteligência Artificial
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Muito além do Chat GPT

Apesar da ferramenta ter se popularizado e se tornado referência quando o assunto é inteligência artificial, existe uma infinidade de plataformas que oferecem os mesmos recursos ou até mais avançadas que o ChatGPT. Por meio das redes sociais, o perfil @IAGenmoney dá dicas de diferentes plataformas que utilizam IA para facilitar atividades diversas, como criação de fotos e vídeos.

Desenvolvido pelo OpenAI, mesmo criador do ChatGPT, o DALL-E 2 é um gerador de imagem extremamente realista. Com ele é possível gerar imagens em questão de minutos para serem utilizadas em diferentes áreas como anúncios e peças publicitárias.

A ferramenta Elai cria vídeos com IA a partir de textos simples. Com ela, é possível criar vídeos personalizados com um apresentador sem precisar de câmera ou Chroma-Q.

Conhecido como o criador de sites com IA mais rápido do mundo, o Durable é capaz de criar um site inteiro com imagens e texto em questão de segundos.

Assim como o ChatGPT, o Murf tem ganhado cada vez mais popularidade, a ferramenta é um dos geradores de voz com IA mais avançadas do mercado e permite converter textos em fala.

Além de oferecer opções de personalização, a ferramenta possui um trocador de voz, que possibilita gravar sem usar a própria voz para a locução.

Inteligência artificial aliada à sociedade

Na área da saúde, a IA permite que profissionais e pacientes tenham acesso a diagnósticos mais precisos, tratamentos eficazes, gestão integrada e até novas descobertas. Em Campo Grande, pesquisas desenvolvidas na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) utilizam inteligência artificial para facilitar o diagnóstico de doenças em humanos, animais e plantas.

Cícero Cena, Doutor em Ciência dos Materiais e professor do Infi (Instituto de Física da UFMS), explica que por meio de métodos de inteligência artificial associados à espectroscopia óptica é possível criar modelos capazes de prever doenças como leishmaniose e paracoccidioidomicose (doença fúngica).

“Colhemos amostras de animais, humanos e plantas, a partir delas a gente coleta dados e passa espectroscopia óptica, que é basicamente jogar uma luz e ver como a amostra interage, com isso desenvolvemos métodos de análise para separar essas amostras em grupos utilizando a inteligência artificial em um computador previamente treinado”, disse.

O pesquisador explica que, a partir da separação das amostras, a inteligência artificial consegue diferenciar e detectar de forma rápida e eficaz se uma determinada amostra está ou não infectada com a doença.

“Para o diagnóstico da Leishmaniose nós pegamos amostras de um grupo de cães infectados e um não infectado, o computador consegue separar a amostra desses dois grupos e depois disso ele consegue pegar uma amostra desconhecida e fazer o diagnóstico”, exemplificou.

Para o pesquisador, a principal vantagem do método é a otimização do tempo aliada ao baixo custo. “O método que a gente utiliza é muito rápido, demora cerca de cinco minutos para coletar os dados. Uma vez que a amostra está pronta chega o soro sanguíneo, a gente coleta esse dado e o computador leva de 10 a 15 minutos para fazer o processamento e decidir se pertence a um grupo A ou B, o que facilita o diagnóstico”, destacou Cícero.

Pesquisa IA
Foto: Divulgação/UFMS

Inteligência artificial irá substituir a mão de obra humana?

Em uma perspectiva de futuro, Cícero Cena acredita que essas novas tecnologias serão facilitadoras do dia a dia em diversas esferas, tendo em vista que são um meio ágil, acessível e que facilitam na tomada de decisões assertivas e de baixo custo.

“Não vai substituir o que já existe, mas vai agregar assertividade e reduzir custos. Hoje você vai em uma fazenda e insemina todas as vacas e torce para maioria delas pegar cria, não tem como investigar cada uma laboratorialmente e reconhecer qual está melhor pra ficar prenha. Em alguns anos, essa decisão será tomada por IA, dará para saber qual vaca vai passar por pré-indução, ser inseminada e terá maior chance de ficar prenha”, explicou o pesquisador.

Para o pesquisador, em alguns anos os métodos de inteligência artificial serão utilizados de forma cotidiana como no atendimento primário do sistema público de saúde.

“Na saúde humana, quando você chegar no posto, já irão coletar sua amostra ao invés de medir sua febre e tirar pressão. A amostra irá passar pelo aparelho e a IA emite um parecer que vai para o computador do médico para auxiliá-lo no exame clínico e tomar a decisão, assim dar um diagnóstico ou te encaminhar para exames mais específicos”, destacou.

Em relação aos discursos sobre os perigos da inteligência artificial e possíveis prejuízos à sociedade, Cícero afirma que o problema não está na tecnologia em si, mas sim na forma em que ela é utilizada.

“Acho um absurdo os discursos alarmistas de que a IA vai destruir o mundo, obviamente a gente consegue fazer isso sozinho. Existe um problema com IA a nível sociológico/psicológico, no sentido que você pode usar a ferramenta para criar bolhas de informações e direcionar opiniões e padrões de consumo, mas aí o problema está no que as pessoas consomem e como consomem e não na ferramenta”, finaliza.

Opinião que também é compartilhada pelo artista Guilherme Yamaji, para ele é necessário saber fazer o bom uso da tecnologia sem deixar que isso minimize valores como ser humano.

“IA gera muitos receios e relutância quanto a seu uso, como causou e causa pra mim. Com o tempo eu entendi que ela faz parte do avanço tecnológico da nossa época e o que muito importa são os nossos valores quanto ao seu uso. IA já faz parte do nosso dia a dia e é importante a maneira como a gente aprende a conviver”, relatou.