A frota velha de ônibus que circula em Campo Grande deve continuar, com superlotação e demora para a população. Isso porque os 71 novos ônibus adquiridos pelo Consórcio Guaicurus são de um modelo pequeno e comportam até 70 passageiros, mas devem substituir ônibus maiores e com capacidade para até 20 pessoas a mais.

Na prática, o Consórcio Guaicurus vai retirar 71 ônibus velhos de circulação, mas em troca de ônibus menores. Já que os ônibus mais velhos de Campo Grande, atualmente, são de modelos maiores e maior capacidade de passageiros.

Os novos ônibus são do modelo OF-1519, com 38 assentos e capacidade para até 70 passageiros. Mas os ônibus com idade entre 10 e 14 anos, rodando em Campo Grande, são dos modelos OF-1722 M e OF- 1418, com capacidade para até 90 passageiros.

Os dados fazem parte de um levantamento feito pelo grupo Ligados no Transporte e revelam que, na prática, dependendo da escolha das linhas para onde os novos ônibus vão, a situação do transporte público pode até piorar.

“A diferença é que os curtos têm uma economia maior de combustível, já que a capacidade de carga é menor. É ruim, porque se escalados nas linhas de maior demanda, como 070, 087, podem deixar muita gente pra trás”, afirma o analista de suporte Gabriel Santos, do grupo Ligados no Transporte.

Consórcio mantém mais de 200 ‘sucatas’ na rua

Levantamento feito pelo Ligados no Transporte mostra que diferente do informado pela Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos), Campo Grande tem 226 ônibus ‘vencidos’, com 10 anos ou mais. A agereg afirmou em publicação, que são 182 ônibus nessa média.

Conforme estipula o edital de concorrência nº 082/2012, a frota de ônibus que circula no transporte público de Campo Grande deve ter cinco anos. Porém, dos 450 ônibus do Consórcio, apenas 78 foram adquiridos de 2018 para frente.

Considerando que os 71 ônibus novos vão substituir os mais velhos, Campo Grande ainda terá 155 ônibus com 10 anos ou mais rodando nas ruas. O Jornal Midiamax questionou o Consórcio Guaicurus sobre em quais linhas os novos ônibus devem ser colocados, mas não respondeu e o espaço segue aberto ao posicionamento.

Consórcio ainda não respondeu intimação da Agereg

No dia 7 de junho, a Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos) publicou em Diário Oficial a decisão de intimar o Consórcio Guaicurus a apresentar um programa de substituição dos veículos velhos.

Apesar de ter participado da cerimônia de entrega dos 71 ônibus e inclusive dito que com essa entrega o Consórcio Guaicurus cumpre o contrato em partes, o diretor-presidente da Agereg, Odilon Junior, afirma que a empresa não respondeu à intimação.

“Até o presente momento o Consórcio não protocolou nenhuma resposta à nossa decisão”, disse o diretor-presidente ao Jornal Midiamax. Ainda segundo Odilon Junior, o prazo de 15 dias é referente a dias úteis.

Considerando os feriados, pontos facultativos e fins de semana, o prazo final para que o Consórcio apresente o programa será no dia 3 de julho.

Lucro fácil e sem punição

Ao mesmo tempo em que irá receber cerca de R$ 37 milhões em verba pública este ano – repasses municipais, estaduais, federais e isenção de impostos -, o Consórcio Guaicurus também conseguiu se livrar de punição por descumprir o contrato de concessão.

Além disso, perícia judicial analisou os balanços financeiros e constatou que o Consórcio Guaicurus teve lucro de R$ 68 milhões em 5 anos.

Superlotação e falta de linhas continuam

Apesar do anúncio de novos ônibus para Campo Grande, a população vai continuar enfrentando ônibus superlotados e longas esperas. Isso porque o Consórcio Guaicurus apenas vai substituir os ônibus velhos.

Além disso, a população também não terá nenhum benefício em relação a conforto. Já que os ônibus novos são simples, sem ar-condicionado ou articulados, o que proporcionaria maior espaço.

Na prática, a população seguirá enfrentando os mesmos problemas apesar de ter que desembolsar R$ 4,65 por passagem. Com sorte, poderá pegar um ônibus novo na linha, o que deve melhorar problemas de manutenção.

Empresa afirma que adquiriu ônibus com recursos próprios

Durante o anúncio dos novos ônibus, o diretor-presidente do Consórcio Guaicurus, João Rezende, afirmou que cada ônibus custou R$ 730 mil e que todos foram custeados com recursos próprios da empresa.

Considerando o valor de cada ônibus, os 71 novos devem ter custado em torno de R$ 51 milhões para a empresa.

Apesar de as empresas de ônibus que atendem a Capital receberem até R$ 37 milhões somente este ano de repasses municipais e estaduais, os passageiros devem continuar com muitos veículos ‘caindo aos pedaços’.

Consórcio Guaicurus reduziu frota em 140 ônibus

O Consórcio Guaicurus tirou de circulação 140 ônibus nos últimos três anos, passando de 552 em 2019 para 412 em 2022.

Em contrapartida, Campo Grande ganhou 36 mil novos moradores, saltando de cerca de 906 mil em 2019 para 942 mil no ano passado, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O número está abaixo do mínimo estipulado em contrato, que é de 575 ônibus em circulação. Enquanto isso, passageiros precisam aguardar mais de 1 hora para conseguir um ônibus, dependendo do horário e da linha.

Apesar de denúncias sobre o serviço prestado em Campo Grande, o Consórcio Guaicurus vai embolsar R$ 32 milhões em verbas públicas somente este ano, além dos R$ 31 milhões que recebeu no ano passado.

E, diferente do alegado pela diretoria da concessionária, as empresas de ônibus tiveram lucro líquido de R$ 68 milhões somente nos primeiros sete anos de concessão – entre 2012 e 2019.