Com reforma travada, Terminal Bandeirantes tem covil de dengue e vive ‘sucateamento’
Obras de reforma estão paradas há mais de 1 ano e meio
Fábio Oruê –
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Com reforma pendente e usado por cerca de 30 mil pessoas, o Terminal Bandeirantes é parte da rotina diária do trabalhador campo-grandense que vive na Região Oeste da Capital e precisa oferecer o mínimo de conforto e bem-estar para os passageiros dos ônibus de Campo Grande.
Mas como está a infraestrutura do terminal? Será que atende aos requisitos de uso e é um bom local para se estar? Quem responde a essas e outras perguntas são aqueles que mais entendem do assunto e podem falar com propriedade: seus próprios usuários.
São inúmeras reclamações, que partem, inclusive, dos próprios funcionários, que amargam em ver o local onde trabalham se despedaçando e colocando em risco a vida de todos. O terminal foi parcialmente reformado, mas a obra está parada há mais de 1 ano e meio.
Conforme a prefeitura, cerca de 80% do projeto de reforma já foi executado, mas enquanto não é totalmente finalizada, o ‘novo’ já começa a dar sinais de sucateamento.
O Midiamax publica uma série de reportagens sobre a situação dos terminais de ônibus de Campo Grande. Confira as matérias sobre o Júlio de Castilho e o Moreninhas.
Banheiros são unanimidade
O ponto crítico, que todos os usuários do transporte coletivo reclamaram, são os banheiros. A unanimidade tem fundamento já que os sanitários de terminais são famosos pela precarização e má higiene.
Portas enferrujadas (quando há uma), vasos inutilizados, pichações e mobiliário vandalizado são a realidade no terminal. Até funcionários, que passam o dia no local, precisam conviver com o cheio desagradável e a precariedade dos sanitários.
Antigamente, os funcionários tinham seus próprios banheiros. Porém, segundo apurado pelo Jornal Midiamax, o que antes era somente dos colaboradores foi liberado – após reforma que está paralisada – para todos os usuários, que, por vezes, não têm o zelo necessário.
Em um dos banheiros masculinos, não há nem mictórios, enquanto no outro, eles estão interditados. No feminino, o cheio ruim (mesmo com o sanitário tendo acabado de ser limpo), o encardido nas pias e a falta de assento em sanitários provocam ojeriza nas usuárias.
“Os banheiros são horríveis. Eu entrei e quase cai para atrás; quase desmaiei quando entrei. Mas também são os ‘relaxados’ que estão dentro do terminal e não dão descarga”, opina a autônoma Valdete de Paula, de 54 anos.
Servidora do local defendeu a limpeza do terminal, dizendo que a depredação é feita pelos próprios usuários, que até inutilizam os sanitários e torneiras. Juntando isso com a falta de manutenção da prefeitura, o resultado só seria o caos.
Para a auxiliar administrativa Jeniffer Amaral, de 19 anos, a situação poderia ser ainda pior. “Esse aqui ainda está tranquilo, comparado a outros, como o Aero Rancho”, cita à reportagem. “A situação melhorou bastante. Antigamente era bem ‘precariozinho’. A estrutura mudou bastante, era bem mais precário”, compara a jovem.
Criadouro de dengue
Outro ponto crítico e mais urgente saiu dos próprios funcionários, que são colocados em risco por conta de uma pequena vala que há semanas acumula água, na entrada do terminal, e está servindo como criadouro do mosquito-da-dengue, o Aedes aegypti.
“A gente já avisou a [Secretaria de] Saúde, mas não deram bola”, diz um colaborador. Além da dengue, o condomínio de Aedes pode ser responsável pela zika e chikungunya.
“Todo mundo aqui está correndo risco”, reclama ele ao Jornal Midiamax. Uma caixa de gordura, próxima à vala, também está destampada para o deleite do inseto.
“Alguém ainda vai cair”
Uma tragédia anunciada se forma nas beiradas da plataforma de transbordo, que estão quebrando e colocando em risco a vida dos passageiros ao esperar ou entrar no ônibus. Caso não se atentem, usuários podem enroscar o pé na barra de ferro e cair – até mesmo na frente de um ônibus.
“Olha isso”, mostra um funcionário. “Alguém ainda vai cair. Uma moça pode enroscar a rasteirinha; alguém com calçado aberto”, completa ele, indignado, além de afirmar que o Bandeirantes não recebe manutenção há cerca de 6 meses.
Com a reforma do terminal, as placas de identificação de cada ônibus foram removidas e não foram recolocadas até hoje. No local, folhas sulfite com os números – colocadas pelos próprios servidores – fazem o ‘papel’ de identificação.
Além disso, em dia de chuva forte, a falta de manutenção nas calhas faz com que fiquem sobrecarregadas e a água forma cascatas dentro da área coberta do terminal.
A demora de ônibus também foi pontuada como um problema. “O ônibus que é meio demorado para o São Conrado. Tinha que ter mais ônibus e melhores para as linhas. Tem cada pau velho que eu te falar; só Jesus na causa”, opina a aposentada Edinice Almeida, de 64 anos.
A percepção do tempo pode ser algo relativo, já que o recepcionista Luiz Eduardo, de 16 anos, considera o Bandeirantes um terminal rápido. “É um terminal bem movimentado, mas é bem rápido também. Os ônibus chegam com bastante rapidez. Pelo menos eu, que pego o 81, chego ‘rapidão’ no meu trabalho”, diz.
Se para a estrutura faltam adjetivos, para os funcionários é só elogios. “Tem bastante atendente, se você chegar e perguntar para qualquer um alguma dúvida eles vão saber te responder, te encaminhar”, relata Luiz. Servidores esses, que colocam água e ração para animais que moram na rua.
“Já passei por situações bem constrangedoras”
Apontada pela insegurança, a “invasão” de moradores de rua, que pedem dinheiro aos usuários do transporte, é outro problema crônico. Enquanto estava no local, o Jornal Midiamax presenciou, em poucos minutos, duas pessoas em situação de rua adentraram o local.
“Os moradores de rua vêm e te afrontam. Não deveriam permitir a entrada aqui. Eu já passei por situação bem constrangedora com um morador de rua sentado ao meu lado”, conta a cuidadora de idosos Marcilene Colman, de 52 anos. “Acho que está faltando muito o que fazer nesse terminal”, completa ela.
Há um posto da GCM (Guarda Civil Metropolitana) na entrada do terminal, mas que não é muito eficaz, conforme relato de servidor. “Não fazem ronda, só ficam no ar-condicionado”, critica.
Bebedouros sem água, luz sem lâmpada e muita sujeira
Poderia ser um trecho da canção ‘Fico Assim Sem Você’, da cantora Adriana Calcanhoto, mas de romântica a situação não tem nada. Há bebedouro sem água – ou com fluxo muito baixo – e luzes que não têm lâmpada.
Pontuada também pelos usuários e constatada pelo Jornal Midiamax, a sujeira no terminal deixa o ambiente insalubre e nada confortável. “Tem muita sujeira e desperdício de água. Deveria ser melhor em termos de higiene e a em permitir moradores de rua entrar aqui para proteger a gente”, opina Marcilene.
Embalagens pelo chão e acumuladas nos cantos e valetas de água, cacos de vidros espalhados, água suja e chorume fazem parte do dia a dia da população que transita pelo terminal.
O motivo pode ser a falta de servidores da limpeza, já que o terminal – que conta com três plataformas de transbordo e quatro banheiros -, possui apenas duas colaboradoras de serviços gerais (uma de manhã e outra à tarde), conforme apurado no local.
“Parte de limpeza e manutenção deveria ser melhor visto. As coisas que é de uso da gente, os bebedouros; jogam erva por aí”, finaliza a cuidadora de idosos.
Questionada sobre os problemas relatados, a Prefeitura de Campo Grande informou que a manutenção dos terminais é realizada periodicamente, entretanto, os mesmos sofrem com contínuas ações de furto e vandalismo, como pichações, quebra de louças sanitárias, bebedouros, torneiras, fiação elétrica, entre outros danos causados dentro dos terminais.
“Uma equipe de manutenção será encaminhada até o local para verificar o fato relatado e providenciar os reparos necessários”, diz em nota.
Ainda de acordo com o Executivo Municipal, os 80% concluídos equivalem ao:
- fechamento do terminal (gradil);
- execução elétrica e aterramento;
- execução hidráulica;
- instalação louças, metais e acessórios nos banheiros;
- substituição pisos e azulejos cerâmicos dos banheiros;
- remoção pastilhas de todo terminal e execução reboco no lugar para receber pintura;
- recuperação forros PVC;
- execução piso tátil;
- construção guarita;
- construção bicicletários;
- substituição dos bancos e lixeiras;
- reparo cobertura e calhas;
- pintura geral Terminal;
- reparo do piso plataforma e implantação de novos bebedouros acessíveis.
Empresa desistiu de reforma
O último anúncio de investimentos nos terminais de ônibus de Campo Grande aconteceu em agosto de 2019, ainda na gestão Marquinhos Trad (PSD). Na época, o município previa reformar os terminais Aero Rancho, Nova Bahia, Morenão, General Osório, Moreninhas e o ponto de integração Hércules Maymone.
Em 2020, o município anunciou o começo de obras em outros três terminais: Júlio de Castilho, Bandeirantes e Guaicurus. A reforma nas plataformas teve investimento de R$ 5,5 milhões e previa, além de postos da Guarda Municipal, tomadas para recarga de celular, internet e portões para fechar os terminais à meia-noite.
Para os seis terminais, a previsão da prefeitura de Campo Grande era gastar R$ 2.704.201,2 milhões nas obras, mas houve aditivo no contrato e o valor final saltou para R$ 3.337.653,21 milhões. Parte dos recursos eram federais, do PAC Mobilidade. A licitação foi finalizada em fevereiro de 2020.
Meses se passaram e a prefeitura celebrou contrato com a empresa Trevo Engenharia, em outubro de 2020, por intermédio da Agetran (Agência Municipal de Trânsito), responsável pelos terminais. A previsão era que tudo ficasse pronto até agosto de 2021, quando Campo Grande completaria 122 anos. O aniversário chegou, passou e nada aconteceu.
A empresa contratada pela prefeitura desistiu da obra em julho de 2021 e, ainda naquele ano, a Agetran anunciou que o município preparava nova licitação para retomar a reforma dos terminais.
Mais 18 meses se passaram e até o momento nenhuma nova licitação com foco em reforma de terminais foi lançada pelo município. O Jornal Midiamax entrou em contato com a prefeitura para mais detalhes sobre o planejamento das reformas nos locais e aguarda retorno.
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