Com quase 40°C, campo-grandense esquece medo da covid e espanta calor em roda de tereré
Para os moradores, muito além de refrescar em dias quentes, o tereré é um meio de fortalecer vínculos afetivos
Lethycia Anjos, Monique Faria –
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A onda de calor chegou forte a Mato Grosso do Sul e diversas cidades registraram recorde de temperaturas com termômetros acima dos 40°C. Em Campo Grande, para suportar o calorão dos últimos dias, só embaixo de uma boa sombra e à base de muito tereré. Muitos até se esqueceram do medo da covid, que afetou a vida social do campo-grandense acostumado com rodinhas de tereré. Tudo para espantar o calor.
Sentado em uma mureta à sombra de uma árvore, o cozinheiro Amarildo de Oliveira Nascimento, 52 anos, sabe que, além de aliviar o calor, a tradicional “Roda de Tereré” é uma oportunidade para fortalecer laços e fazer novas amizades.
“O tereré une as pessoas. Moro aqui há 50 anos, e sempre que posso, estou aqui tomando um tereré. As pessoas param aqui para dar um gole, e é assim novas amizades se formam, laços se fortalecem”, compartilha Amarildo.
No entanto, o período de calor também traz consigo um “pesadelo” para qualquer campo-grandense: o alto preço da erva-mate. Amarildo observa que, com o calor dos últimos dias, tem notado um aumento significativo nos preços.
“Quando a demanda aumenta, os preços sobem. E no calor, isso acontece ainda mais. É a lei da oferta e da procura”, enfatiza o morador.
Como um ponto de encontro para amigos, o comerciante Wellington Martins de Freitas, 36 anos, se reúne diariamente em frente à sombra para tomar tereré. No entanto, quando se trata da erva-mate, Wellington é “conservador” e só aceita a variedade tradicional.
“Nesse calor, só podemos contar com muito tereré, mas tem que ser o tradicional. Eu não gosto das variedades saborizadas”, destaca o comerciante.
O tereré se tornou a bebida mais popular entre os sul-mato-grossenses, seja pela praticidade de preparo, pelo frescor que proporciona ou até mesmo pelo seu significado cultural.
Na Lagoa Itatiaia, o casal Cleidson Sanábria, 29, e Jéssica Sanábria, 36, aproveitam o tereré como companhia durante a pescaria.
“Sempre viemos aqui para curtir a vista e tomar um tereré. Como somos um casal, só compartilhamos entre nós dois mesmo”, ressalta.
Patrimônio Imaterial da Humanidade
Em 17 de dezembro de 2020, o tereré foi reconhecido como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). A bebida típica do Paraguai, se incorporou à cultura sul-mato-grossense e foi até candidata na categoria de “Práticas e Saberes Tradicionais do Tereré na cultura Pohã Ñana” desde março de 2019.
Conforme a FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul) na época, essa foi a primeira vez que o país conseguiu incluir um item na lista de patrimônios imateriais da Unesco.
Em Campo Grande, o tereré é tão significativo que possui um dia dedicado a ele. Em 26 de junho, a prefeitura de Campo Grande sancionou a Lei nº 7.071, que instituiu o “Dia do Tereré” na capital. Com isso, essa data passa a fazer parte do calendário oficial de eventos de Campo Grande e será celebrada anualmente em 1º de março. A lei foi assinada pela prefeita Adriane Lopes e já está em vigor.
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