Segue num impasse a ‘queda-de braço’ entre o Consórcio Guaicurus e a Prefeitura de Campo Grande. Nesta tarde de quinta-feira (21), a empresa realizou uma coletiva de imprensa para dizer que o município tem déficit de R$ 10 milhões e que funcionários podem ficar sem adiantamento salarial. A estratégia não é nova, visto que a empresa costuma terceirizar a responsabilidade sobre a péssima qualidade do serviço oferecido à população.

Perícia judicial analisou os balanços financeiros e constatou que o Consórcio Guaicurus teve lucro de R$ 68 milhões em 5 anos. Apesar disso e de receber R$ 37 milhões em verba pública este ano, a empresa diz não ter recursos para melhorar o serviço oferecido à população e pede aumento no preço da passagem.

Em coletiva, diretor operacional do Consórcio Guaicurus, Paulo Victor, diz que devido a dívida do município, no momento, a empresa não deve renovar a frota, que segundo ele, não está sucateada. “São R$ 10 milhões é o déficit da tarifa do último ano, referente a outubro de 2022 até o mês dez de 2023. Nós estamos vivendo um momento que a gente não está conseguindo pagar o salário. Então é totalmente improducente a gente falar de frota num momento desse”.

Ainda de acordo com o diretor operacional, a empresa realizou o pagamento da 2ª parcela do 13º dos funcionários, mas o adiantamento salarial que deveria ter ocorrido nesta quarta-feira (20), ainda não foi realizado.

Consórcio renovou apenas 15% da frota

Em 2023, a empresa comprou apenas 71 novos ônibus, que renovaram 15% da frota atual de 450 ônibus. Assim, outros 111 ônibus vencidos continuarão circulando em Campo Grande.

A frota tem idade média de 7,7 anos, acima do ideal estipulado em contrato, que é de 5 anos. Porém, as empresas de ônibus não informaram se, com a renovação, a idade da frota ficará dentro do que estipula o contrato.

O Consórcio Guaicurus ainda mantém 182 ônibus com idade igual ou superior a dez anos, que devem ser substituídos ainda em 2023. Porém, não disse como e nem se vai substituir os 111 ônibus que vão completar uma década este ano. Os 71 serão descontados desse total a substituir.

Na prática, muda pouca coisa para a população, já que não haverá criação de novas linhas de ônibus. Os novos veículos apenas vão substituir 71 dos ônibus velhos que atualmente circulam em Campo Grande. A superlotação e demora, principalmente nos bairros, continua.

Passe dos estudantes

A Prefeitura de Campo Grande estima que o repasse do Governo de Mato Grosso do Sul para custear o passe dos estudantes da REE (Rede Estadual de Ensino) deva subir em cerca de R$ 3,4 milhões. Em fevereiro deste ano, foram transferidos pouco mais de R$ 10 milhões (R$ 10.017.180,00) para arcar com a tarifa desses estudantes e a previsão é que o valor chegue a R$ 13,4 milhões para o ano letivo de 2024.

A informação foi divulgada em audiência de conciliação entre a Prefeitura de Campo Grande e o Consórcio Guaicurus, na última terça-feira (19), em que foi debatida a data de reajuste da tarifa do transporte coletivo.

O encontro terminou sem acordo entre as partes e com a previsão que a tarifa paga pelos usuários fique estável em R$ 4,65 até o fim de 2023.

Um dos argumentos usados pela Prefeitura de Campo Grande para não aceitar janeiro como data para o reajuste foi que, nos primeiros dias do ano, o Município e Estado se reúnem para discutir o subsídio para custear o passe dos estudantes da REE.

Para Paulo, o passe do estudante impacta diretamente o valor da passagem e ressalta que só deveria ser gratuito para quem comprovar a necessidade.

“Campo Grande tem a gratuidade para todos os estudantes do ensino superior ao ensino fundamental e não tem nenhuma barreira social. Então, a gratuidade do estudante não tem caráter social. É para todo mundo, independente de precisar ou não. Ele tem o direito, em função da lei municipal, e isso, sem dúvida nenhuma, impacta”.

Passe subiu 69% em 10 anos

O valor do passe de ônibus cobrado aos usuários do transporte coletivo de Campo Grande subiu 69% entre 2013 e 2023, período em que o Consórcio Guaicurus passou a explorar o serviço de transporte público na Capital.

O levantamento considera o novo aumento para R$ 4,65 divulgado nesta terça-feira (14) pela prefeitura de Campo Grande.

Em 2013, quando o Consórcio Guaicurus passou a comandar o transporte coletivo de Campo Grande após vencer licitação, os usuários precisavam desembolsar R$ 2,75 para realizar uma viagem de ônibus. A tarifa dos ônibus executivos era de R$ 3,35.

A partir de maio deste ano, os usuários desembolsam R$ 4,65 para realizar a mesma viagem, equivalendo a um aumento de 69% no valor do passe pago pelos passageiros.

Conforme o histórico dos preços das passagens divulgado pelo próprio Consórcio Guaicurus, apenas duas vezes o reajuste contou com uma diminuição do valor.

Ainda em 2013, no final do ano, o passe que era cobrado R$ 2,75, reduziu para R$ 2,70.

Do mesmo modo, em 2019 o valor cobrado era de R$ 4,10, já em 2023 foi reduzido para R$ 3,95. Entretanto, a redução durou menos de um mês e onze dias depois, voltou para R$ 4,10.

O novo reajuste, de R$ 0,25, é um dos maiores já aplicados pelo Consórcio Guaicurus, ficando atrás somente dos anos 2013-2014 (aumento de R$ 0,30) e 2015-2016 (aumento de R$ 0,30).