Com lixo em toda parte, rotina na cidade reforça urgência de educação ambiental na Capital

Do lixo jogado na rua aos maus-tratos de animais, práticas reforçam agressão ao meio ambiente

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Cortina de fumaça toma conta de bairro atingido por incêndio em Campo Grande. (Foto: Clayton Neves)

No Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado nesta segunda-feira (5), a rotina em Campo Grande sinaliza que algo não vai bem na interação homem e natureza. Na Capital destaque pela fauna e flora em área urbana, não é preciso andar muito para se deparar com desrespeito ambiental recorrente e, em muitas vezes, permanente.

Nas sete regiões da cidade, lixo às margens de córregos, descartes em terrenos baldios, queimadas urbanas, derrubada ilegal de árvores e invasão do espaço de animais silvestres são a ponta do ice berg da degradação que se amplia. Enquanto o processo de urbanização segue a passos largos, a conscientização ambiental parece não acompanhar o mesmo ritmo.

“O Meio Ambiente é a vida, então, o risco de não estabelecer essa relação amigável com a vida, é a perda de vida e a qualidade dela. A biodiversidade sem o ser humano segue seu curso, mas o ser humano sem o meio ambiente não pode existir”, comenta Simone Mamede, Bióloga, Educadora Ambiental e Turismóloga.

Na avaliação da especialista, diretora do Instituto Mamede de Pesquisa Ambiental e Ecoturismo, embora Campo Grande tenha o privilégio do contato próximo com riquezas naturais, ainda existem muitos desafios para que se alcance a relação que se espera. 

“Ainda que seja privilégio, a natureza é considerada problema para uma parte da sociedade, desde o mau uso dos bens naturais, o próprio corte das árvores, a poluição dos mananciais, o desprezo às nascentes, o descarte dos resíduos em áreas naturais”, acrescenta.

Desrespeito pela cidade 

Na última semana, o Jornal Midiamax percorreu as margens do Córrego Anhanduí, na Avenida Ernesto Geisel, e se deparou com ‘lixão’ a céu aberto em meio a região central da cidade. Por conta do acúmulo de resíduos e mau cheiro, além de problema ambiental, a situação virou dor de cabeça para moradores da região. 

No local, roupas, calçados, embalagens de comidas, bebidas, produtos de beleza, lixo orgânico e até um toca CDs se misturavam ao mato que cerca a grade de proteção do córrego

“É uma situação de completo desrespeito o que a gente enfrenta. Virou um lixão ao redor e muita coisa cai lá dentro do córrego, ou seja, a água é uma sujeira só, acumula o lixo que o pessoal joga na margem e o que é trazido da cidade pela enxurrada quando chove”, comenta moradora de 36 anos, que preferiu não ser identificada. 

Todos os dias, a redação do Jornal Midiamax recebe ao menos cinco denúncias de queimadas e descarte irregular em terrenos nos mais diferentes bairros. Na semana passada, reclamação da vez foi terreno tomado por lixo na Rua Juruoca, no Jardim Los Angeles. 

“Estão fazendo descarte até de bicho morto em frente a minha casa. Meu esposo mandou limpar esses tempos, mas voltaram a jogar coisas de novo e está infestado de barata, aranha e todo tipo de inseto”, comentou moradora que denunciou o caso à redação.

A situação se repete de norte a sul da cidade, como já noticiado pelo Midiamax (Clique e confira reportagem, já publicada pelo jornal) e detalhado em relatório da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano). Em 2021 a Secretaria notificou 5,8 mil donos de terrenos sujos na cidade, do total, 849 foram multados e as somas chegaram a R$ 2 milhões. Em comparação ao ano anterior, houve aumento de 80% na quantidade de notificações feitas pelo órgão da Prefeitura. 

Por lei, a multa para que faz descarte irregular d elixo na rua varia entre R$ 2.944,50 a 11.778,00, mesmo assim, o valor não inibe a prática entre as ruas da cidade.

Morte de animais

Falta de atenção e até extermínio de animais também estão entre as agressões ao meio ambiente e já foram destaque nos jornais da cidade. Em janeiro deste ano, duas capivaras foram encontradas mortas por atropelamento na Avenida Lúdio Martins Coelho. Na semana passada, outra foi achada na mesma avenida, no cruzamento com a Rua Dona Thomazia Rondon. Em julho de 2022, outro animal estava no canteiro de uma avenida com as patas amarradas e uma corda enrolada no pescoço. 

Nos últimos anos, foram inúmeras as vezes em que a cena de maus-tratos aos animais silvestres se repetiu. Em 2019, mais 50 pássaros foram achados mortos com sinais de envenenamento em uma praça no Jardim Panamá. Em abril deste ano, arara canindé morta estava em um condomínio no São Conrado.

Educação ambiental

Do descarte irregular de lixo à queimada do matagal, episódios de degradação à natureza escancaram a urgência de ações de educação ambiental eficientes e que abracem todas as classes e faixas de idade. 

Mariana Godoi, coordenadora de planejamento ambiental da Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano), explica que em Campo Grande o tema abrange diferentes secretarias, especialmente as pastas de Educação, Obras e Meio Ambiente, que atuam na fiscalização, mapeamento e ensino dos moradores. 

Conforme balanço da Planurb, em 2022, foram realizados 141 ações virtuais, 134 presenciais e 20.860 materiais disponibilizados.

“Realizamos debates onlines e presenciais, levamos capacitação para professores de escola pública e algumas privadas que solicitam. Também  promovemos palestras  em instituições de ensino superior e capacitamos agentes de saúde que vão até a casa das pessoas para conversar diretamente com elas e levar material de educação ambiental”, detalha. 

Reuniões e capacitações também são promovidas com conselhos municipais e lideranças de bairros, que replicam ensinamentos aos moradores. “Falamos sobre fauna, poluição hídrica, queimadas, contaminação de solo, erosão, assoreamento, prevenção de enchentes e agora temos intensificado o debate sobre descarte irregular de resíduos. Com todos esses temas,  a gente tenta levar o que é prioritário para falar em cada região”, explica. 

Para a bióloga Simone Mamede, as ações desenvolvidas na cidade são importantes e se somam a tantas outras, no entanto, precisam do envolvimento da sociedade para que atinjam os resultados que se esperam. “A interação e a cultura da conservação ambiental têm se propagado pela cidade, mas ainda necessitamos de mais envolvimento e compromissos efetivos tanto da sociedade civil quanto do poder público”, afirma.

Serviço

Em Campo Grande, a Solurb faz coleta de animais, óleo e mantém diversos ecopontos para descarte de resíduos. Clique aqui e confira onde encontrar os serviços.

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