Com foco na preservação, programa gera créditos de carbono no Pantanal de MS

Programa tem objetivo de implementar projetos em fazendas do Pantanal onde seja possível gerar créditos de carbono

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Pantanal
Pantanal (Divulgaçã, ICMBio)

Focado na preservação do bioma pantaneiro, o Programa REDD+ prevê a geração e comercialização de créditos de carbono no Pantanal do Mato Grosso do Sul. Em série de reportagens publicadas nas últimas semanas, o Jornal Midiamax revela detalhes do desmatamento que avança no Pantanal. O bioma, em algumas regiões, se tornou rota do crime.

O programa de crédito em carbono foi apresentado a produtores rurais na última segunda-feira (26) durante Workshop do Programa REDD+ Pantanal e contou com a presença da ABPO (Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável) e a Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação).

Segundo informações da Associação, o programa é desenvolvido pela empresa Biofílica Ambipar, apoiada pelo Estado por meio do Instituto Taquari Vivo. Assim, programa tem o objetivo de implementar projetos em propriedades rurais do bioma pantaneiro, onde seja possível gerar crédito de carbono pela preservação de áreas de vegetação nativa excedentes à reserva legal.

“Nossa ideia é mostrar ao produtor que ele pode certificar sua propriedade e implementar o projeto de carbono voltado ao mercado voluntário, gerando renda com a preservação do seu excedente florestal e em total harmonia com sua atividade econômica principal”, pontua Melina Uchida, gerente de novos negócios da empresa.

A especialista ainda ressalta que a primeira emissão de créditos acontece entre 12 e 24 meses após a formalização da parceria, e o projeto de carbono dura 30 anos. Na venda dos créditos, o produtor fica com 80% da receita e, enquanto a empresa com 20%.

Programa já começou

Conforme os envolvidos, o programa já está em andamento no bioma com nove propriedades e reforça que outros produtores podem aderir. Renato Roscoe, diretor do Instituto Taquari Vivo, afirma que o produtor que tiver reservas excedentes dentro da planície pantaneira pode entrar no projeto e receber créditos em cima dessas áreas.

“Hoje, 50% da área com vegetação arbórea no Pantanal, em Mato Grosso do Sul, pode ser suprimida legalmente. Essas áreas podem gerar créditos de carbono caso o produtor decida não desmatar e preservar por 30 anos. Isso tudo que estamos falando está no mercado voluntário, uma vez que não existe um mercado regulado no Brasil, por ora, e, não temos a expectativa de que isso [mercado regulado] aconteça em pouco tempo”, enfatiza Roscoe.

Para o presidente da ABPO, Eduardo Cruzetta, essa é uma iniciativa que pode agregar rentabilidade ao produtor rural pantaneiro, além de contribuir para a preservação do bioma.

“Há riscos como em qualquer outro negócio ou contrato, porém, vemos essa movimentação acontecendo de forma muito organizada e que pode retornar para o bioma de forma efetiva, sendo realmente valorizados por produzirmos em um ambiente que, além de conservar, gera créditos para toda a sociedade”, finaliza Cruzetta.

R$ 6 bilhões contra desmatamento

Essa não é a única ação de preservação do bioma, que já está na mira dos investimentos nacionais. Enquanto Mato Grosso do Sul discute como combater o desmatamento e os crimes que usam o Pantanal como rota, o BID (Banco Interamericano do Desenvolvimento) promete investir R$ 6 bilhões, o que equivale a 400 milhões de dólares, no bioma, além da região norte do Brasil.

O anúncio, feito há um mês, foi reforçado nesta quarta-feira (28) pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, durante entrevista para Agência Brasil.

O ministro afirma que os valores serão investidos em projetos de desenvolvimento de sustentabilidade no Pantanal. O BID Pantanal já teve autorização de valores liberados pelo banco, mas detalhes sobre a implementação do projeto ainda estão sendo definidos.

Na entrevista, o ministro Fávaro disse que os recursos devem ser usados para recuperação de áreas ou biomas que tenham sofrido com intempéries climáticas ou com o avanço da degradação ambiental. Os recursos serão aplicados no Pantanal de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

Em uma das partes até então mais preservadas do bioma pantaneiro, na Nhecolândia se vê cada vez menos as lentas e pouco agressivas comitivas que transportavam boiadas gigantescas de uma parte a outra. Agora convive com o vai e vem descuidado de caminhões boiadeiros, chamados de ‘uber do boi’.

O avanço da cria e recria, que contempla a pecuária moderna em Mato Grosso do Sul, também coloca o Pantanal em risco.

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