Carro popular mais barato pode aquecer mercado de usados, mas impacto imediato preocupa garagistas
Preocupação fica por conta do estoque, comprado por preço maior; Governo Federal quer carro popular mais acessível
Fábio Oruê –
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O Governo Federal anunciou várias medidas para baratear o preço dos carros populares zero km no Brasil, nesta quinta-feira (25), mas o mercado de seminovos também deve se beneficiar com essa redução.
Vice-presidente Geraldo Alckmin explicou que corte de impostos para ajudar a reduzir o preço final do populares pode ter impacto em até 10,79% no valor de veículos de até R$ 120 mil. Para o sócio-proprietário da Auto Car Veículos, revendedora de seminovos em Campo Grande, Willian Morelli, a medida é vista com bons olhos pelo setor.
“O [carro] zero baixando, nosso mercado vai até ficar mais aquecido. Vai entrar mais seminovos porque as pessoas vão querer trocar de carro”, explica ao Jornal Midiamax. Esse fenômeno pode desencadear uma rotatividade maior no setor de usados.
Redução constante
Conforme Willian, o mercado já vem baixando os preço desde o final de 2022, de acordo com uma análise feita para estimular a venda dos veículos. “A gente já vem se preparando para isso, o preço de carro [usado] já vem baixando não é de hoje e a medida do governo só vai concretizar”, relata.
Ele explica que precifica os veículos a cada 15 dias para manter o valor competitivo e tem notado a baixa de alguns modelos. “Você tem que estudar bastante o preço do carro para ele não ficar encalhado”, justifica, acrescentando que a média para realização da venda de um seminovo é de 3 a 4 meses.
“Algum ou outro carro que subiu, mas a maioria a gente baixou. O carro novo ele está muito caro, tem que baixar mesmo; quem pesquisa, acaba comprando um seminovo”, ressalta Willian.
Impacto imediato preocupa
Segundo Alckmin, quanto mais critérios a indústria seguir, maior será o desconto no preço final. Porém, os detalhes ainda serão discutidos com o Ministério da Fazenda, que terá 15 dias para anunciar cada faixa de desconto para os carros novos.
Segundo o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Márcio Lima Leite, a medida da desoneração dos três impostos federais (PIS, Cofins e IPI) sobre os carros será imediata.
Isso preocupa garagistas que temem o impacto da ação, principalmente no estoque das lojas. “Nós temos carros aqui que nós compramos a mais de 90 dias, com valor de mercado elevado, que é baseado geralmente na FIPE [Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas]”, comenta um empresário, que preferiu não ser identificado.
Prejuízo
“Se a gente ficar com esses carros no estoque, vai impactar em 20% diretamente nos preços do carros e no nosso caixa”, explica ele, que cita uma caminhonete comprada por R$ 200 mil e que já está parada, mesmo estando à venda por R$ 170 mil.
Para ele, o impacto será negativo. “O mercado de automóvel usado vai parar. Você compraria um carro hoje ou esperaria mais 15 dias com uma medida dessa?”, reflete. O empresário avalia que se as ações demorassem mais, o setor poderia se organizar.
“Se ficar para o ano que vem, pro exemplo, a gente consegue se organizar. Impacta de qualquer forma, mas a gente vai ter que correr contra o tempo”, diz à reportagem.
Carro popular mais barato
O desconto será baseado em três fatores, sendo eles:
- O valor do veículo, quanto mais barato, maior será a redução do imposto;
- Emissão de poluentes, motor que emite menos poluentes terá maior redução;
- Cadeia de produção, veículos com mais peças produzidas no Brasil terão maior desconto.
“Hoje, o carro mais barato é quase R$ 70 mil. Queremos reduzir esse valor. Mas os outros também serão reduzidos. Quanto menor, mais acessível, maior será o desconto do IPI, PIS e Cofins. Primeiro item é social, é você atender mais essa população que está precisando mais”, disse Alckmin no anúncio da medida.
O impacto no custo será tão imediata que três montadoras já informaram à Anfavea nesta quinta que desistiram de colocar em prática a suspensão de contratos de trabalho (layoff) que estavam previstas.
Ele não quis dar os nomes das três montadoras sob a alegação de que elas não o teria autorizado a identificá-las. Sabe-se que a Volkswagen, que tinha cogitado a possibilidade de suspender contratos com seus funcionários, mesmo antes do anúncio da desoneração dos carros, havia postergado para o mês que vem.
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