Capital dos Ipês? A árvore mais comum de Campo Grande é famosa por sombra em dias de calor

No Dia da Árvore, a espécie mais comum da Capital pode surpreender, mas nem tanto, saiba o porquê

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Oiti em Campo Grande
Oiti é a árvore mais presente em Campo Grande (Foto: Henrique Arakaki, Midiamax)

Campo Grande é tradicionalmente conhecida como a “Capital dos ipês” devido ao grande número de exemplares da espécie espalhados pela cidade. No entanto, engana-se quem pensa que o ipê é a árvore em maior abundância na cidade. Na verdade, o título de árvore mais comum pertence ao Oiti.

Dados do último levantamento do PDAU (Plano Diretor de Arborização Urbana), realizado em 2010, mostram que o Oiti (Licania tomentosa) foi a árvore mais identificada nas áreas de passeio público de Campo Grande, com 867 exemplares amostrados, o que representa 18,35% do total. Em seguida, aparecem o Ficus (Ficus benjamina) com 859 exemplares, representando 18,18%.

Facilmente reconhecida por suas folhas, os Oitis possuem uma espécie de penugem que cobre a parte inferior, conferindo-lhes um aspecto prateado. Daí também vem seu nome científico, “tomentosa” que significa “com pelos”. Os Oitis florescem no período de julho a agosto e frutificam entre dezembro e março.

Além de sua beleza, os frutos da Oiti são comestíveis, ricos em água, açúcares e nutrientes, com um sabor doce e baixo teor de gordura, tornando-os adequados para consumo cru, e na forma de geleias e sorvetes.

Oitis não são árvores nativas do Estado

Professora do curso de Ciências Biológicas da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e doutora em Botânica, Rosani do Carmo de Oliveira, explica que, apesar de ser muito comum em Mato Grosso do Sul, os Oitis não são árvores nativas do Estado.

“Essa planta não é nativa de Mato Grosso do Sul, ela é originária do litoral brasileiro, ocorrendo nas restingas, que são um tipo de vegetação encontrado na Mata Atlântica”, destaca.

Com uma copa frondosa que proporciona uma ótima sombra, a Oiti costuma ser muito usada na arborização urbana, o que impacta positivamente o meio urbano no período de verão.

“Oiti é uma espécie bastante apreciada no paisagismo devido ao formato de sua copa arredondada, e pelas folhas sempre verdes ou prateadas. Além disso, é uma planta arbórea, perenifólia, isto é, conserva as folhas o ano todo; por isso, é muito utilizada no paisagismo das cidades brasileiras”, ressalta Rosani do Carmo.

Para o biólogo José Milton Longo, o grande número de Oitis espalhados pela cidade se da por conta de suas características que a tornam uma ótima opção para arborização urbana.

“Sua raiz, apesar de ser profunda, não agride e destrói o calçamento, ao contrário das Ficus. Além disso, os Oitis não costumam ser muito altas, por isso não afetam a rede elétrica, atraem diferentes espécies de aves e são de fácil manutenção”, esclarece o biólogo.

Folhas apresentam uma espécie de penugem (Foto: Henrique Arakaki, Midiamax)

PDAU

Conforme o PDAU, Campo Grande possui um total de 153.122 árvores nas vias urbanas, sendo a região do Aero Rancho a que concentra o maior número de árvores (5.024), seguido das regiões da Moreninha, Centro-Oeste, Universitário e Nova Lima.

No entanto, quando considerada a área em km², o Núcleo Industrial é o maior setor da área urbana de Campo Grande, com 24,26 km².

Embora apresente diversas informações que auxiliam na elaboração de políticas públicas voltadas à arborização, o Plano Diretor de Arborização Urbana foi lançado em 2010; por isso, pode não refletir a atual situação arbórea de Campo Grande, o que significa também que o ‘reinado’ dos Oitis pode estar com os dias contados.

Em nota, a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) esclareceu que o PDAU está em fase de revisão e atualização.

“Demos início a um novo estudo que irá subsidiar a revisão e monitoramento do PDAU que visa o diagnóstico da arborização municipal e a formulação de diretrizes de planejamento e manejo”, destaca a pasta.

O levantamento também mostra os problemas verificados na arborização das ruas de Campo Grande. Conforme os dados, o estudo qualiquantitativo indicou que 76,5% das árvores apresentavam danos físicos provocados por podas inadequadas

Tanto o Oiti quanto o Ficus excederam a recomendação máxima de 15%, o que aumenta o risco de pragas, doenças e gastos significativos com sua manutenção e potencial perda de exemplares.

Qual a espécie ideal para áreas urbanas?

Para quem pretende investir em arborização, além do Oiti, existe uma infinidade de espécies adequadas para áreas urbanas. Tudo depende da especificidade do local escolhido pelo morador.

José Milton destaca que na hora de escolher o que plantar é importante priorizar espécies nativas, como as Palmeiras do Cerrado (Buritis, Acuris, Bocaiuva), Ipê, Magnólia, Cumbarú, e tantas outras que atraem e preservam a fauna regional, como pássaros e abelhas.

Opinião compartilhada pela professora Rosani do Carmo, segundo ela, é sempre recomendável utilizar plantas nativas do Cerrado, uma vez que isso contribui na valorização da nossa flora, que conta com espécies belíssimas, porém ainda pouco conhecidas do público, e subaproveitas no aspecto paisagístico.

Regras para o plantio de árvores

Conforme a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), o plantio de árvores nas calçadas e espaços públicos deve considerar os limites mínimos entre as dimensões das espécies escolhidas quando adultas e a localização dos mobiliários urbanos, para garantir espaço para a mobilidade urbana.

Também é importante considerar o porte da árvore antes do plantio. De modo geral, o conceito de porte da árvore apresenta a altura máxima que varia entre 4,0 m e 6,0 m para árvores de pequeno porte. Entre 6,0 m e 12,0 m para médio porte e acima de 10,0 m ou 12,0 m para grande porte.

Nas calçadas com largura inferior a 1,50 m e sem recuo predial é proibido o plantio de árvores, pois o espaço livre mínimo para o trânsito de pedestres em passeios públicos deverá ser de 1,50 m.

A orientação é que seja escolhida, preferencialmente, uma só espécie para cada lado da
rua ou para cada rua. Conforme a Semadur, isso facilita o acompanhamento de seu desenvolvimento, o controle de pragas e doenças e o programa de podas.

Para facilitar a escolha, a Semadur listou as espécies de plantas inapropriadas para o plantio em áreas urbanas, confira:

Plantas inadequadas
Plantas inadequadas (Foto: Divulgação/Semadur)

Em caso de riscos à segurança da população, é realizada a poda de emergência que consiste em remover partes da árvore que colocam em risco iminente a integridade física das pessoas ou do patrimônio público ou particular, como ramos que se quebram durante chuva ou vento forte.

A permissão para a poda de árvores em vias e logradouros públicos deve considerar os seguintes critérios:

  • Para condução, visando à formação da árvore;
  • Sob fiação, quando representarem riscos de acidente ou de interrupção do sistema elétrico, de telefonia ou de outros serviços;
  • Para limpeza, visando apenas a retirada de galhos secos, apodrecidos, quebrados ou com pragas e/ou doenças;
  • Quando os galhos estiverem causando interferências prejudiciais;
  • Em edificações, na iluminação ou na sinalização de trânsito nas vias públicas;
  • Para recuperação de arquitetura da copa.

Serviço:

Em caso de problemas com árvores, moradores de Campo Grande podem entrar em contato com a Gerência de Fiscalização de Arborização da Semadur ou entrar em contato pelo número (67) 4042-1323, ramal 2744 ou 2743. Se a árvore estiver comprometendo a rede elétrica é possível ter auxílio direto com a Energisa pelo telefone: 0800 722 7272.

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