Campo Grande quer retomar vacinação nas escolas municipais em 2023
Declaração foi confirmada por Sandro Benitez, secretário municipal de saúde, durante evento nesta terça-feira
Nathália Rabelo –
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Frente à baixa adesão da vacinação em todo o território sul-mato-grossense, como parte de reflexo em todo o Brasil, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) alega que o principal desafio é voltar a vacinar a faixa pediátrica adequadamente em Campo Grande. Por isso, vacinação deve ser retomada dentro das escolas ainda em 2023. Declaração foi confirmada por Sandro Benitez, secretário municipal de saúde, durante evento sobre imunização realizado na manhã desta terça-feira (7) no Bioparque Pantanal.
Conforme o dirigente da Sesau, a baixa adesão à imunização é percebida há cinco anos no Brasil, especialmente com o surgimento de grupos antivacinas que criaram teorias da conspiração. No entanto, discursos não passam de mentiras.
“Vacinação salva vidas. Tínhamos doenças extintas no país que podem voltar se tiver mais decréscimo de vacinação, como exemplo a poliomielite que precisa de 90% de cobertura para continuar extinta. E também a sarampo, que teve último caso em Campo Grande há 23 anos”, explica Sandro, que ressalta ainda não haver registro das doenças na capital.
Dessa forma, Sesau e Semed (Secretaria Municipal de Educação) criam força-tarefa para levar a imunização até as escolas e, assim, voltar a aumentar a cobertura até 2024.
“Nós já alinhamos. Os superintendentes vão conversar a partir do semestre que vem para efetivamente estar dentro das escolas esse ano”, ressalta Benitez.
“Vacinar para não voltar”
Além de Sandro Benitez, outras autoridades em saúde estiveram presentes na manhã de hoje para o evento ‘Vacinar para não voltar – Pela reconquista das altas coberturas vacinais’, promovido pela Fiocruz Mato Grosso do Sul.
Segundo Jislaine Guilhermino, diretora da Fiocruz no Estado, evento tem objetivo de dar início aos trabalhos do grupo de trabalho pela retomada de altas coberturas no Brasil. “Esses índices caíram nos últimos anos, desde 2013. Por isso, a gente precisa discutir e entender as razões disso para que possamos pensar em estratégias para superar essas questões. Juntos podemos potencializar a movimentação para que o Brasil retome posição de destaque na vacinação”, ressalta.
Evento também contou com a presença de José Cássio de Moraes, pesquisador da USP (Universidade de São Paulo), que ponderou sobre essas mudanças observadas nos últimos anos.
“Existe uma série de barreiras que impede a chegada da população até a vacina. Uma das formas que daria para ajudar é voltar a levar as vacinas até as escolas porque tem que ser um programa de Governo, ou seja, da presidência, Estado e Município e usar todos os recursos disponíveis”, disse o especialista.
População está confusa
Segundo ele, os discursos de gestores contra as vacinas geraram confusão na população.
“Com a vacina da Covid existiram muitas informações falsas partindo de autoridades máximas, depois começou todo um descompasso do que cada nível falava. A população ficou confusa em quem acreditar. Só que assim, nenhuma vacina tem eficácia 100%. E a da Covid não é para evitar da pessoa ter a doença, é pra evitar que seja grave”, explica José Cássio de Moraes.
Além disso, o pesquisador de São Paulo comenta que muitas pesquisas e tecnologias se perdem no Brasil por falta de financiamento. Questionado sobre as novidades para o Brasil, José comenta sobre nova vacina da dengue, doença que a região sul-mato-grossense precisa ficar atenta.
“Aqui tem chuva e calor, para o mosquito é uma colônia de férias especialmente porque se prolifera muito rápido”, diz, ressaltando que a vacinação apenas não vai resolver. Assim, deve haver ações combinadas para extinguir os focos de Aedes aegypti.
População deve procurar postos de saúde
Também presente no evento, o secretário de estado de saúde Maurício Simões Corrêa ressalta que a população deve procurar os postos de saúde para se vacinar e imunizar os filhos.
“A campanha nacional de vacinação deu início em 27 de fevereiro e no estado demos início a partir do dia 14 de fevereiro, ou seja, não existe nenhum motivo da vacina estar no refrigerador, ela tem que estar no braço da pessoa”.
Simões ainda afirma que Mato Grosso do Sul está à frente da média nacional, mas ainda abaixo do desejado. Por isso, o plano de atuação desse ano é focado em aumentar a cobertura vacinal no Estado.
“Temos muitas doenças correndo o risco de emergirem. É incabível que isso possa ocorrer, então vamos vacinar”.
Vacinação contra poliomielite: 16,73% abaixo da meta
A vacinação tem o importante objetivo de fortalecer o sistema imunológico, uma vez que estimula a produção de anticorpos que combatem os agentes infecciosos e evitam a contaminação por vírus e bactérias. Dessa forma, o PNI (Programa Nacional de Imunização do Brasil) disponibiliza vacinas na rotina de imunização cuja proteção inicia ainda nos recém-nascidos. Porém, autoridades de saúde têm percebido queda na cobertura vacinal nos últimos anos. Em Campo Grande, a vacinação contra poliomielite ficou 16,73% abaixo da meta em 2022.
Conforme informações da Sesau, a Capital tem percebido queda na cobertura de vacinação nos últimos anos e cenário acontece em todos os municípios do país. “Principalmente em crianças menores de um ano de idade, grupo em que há a recomendação do Ministério da Saúde para acompanhamento intenso”.
No caso da Vacina Inativa (VIP), para poliomielite, dados dos últimos seis anos mostram que a cobertura sempre fica abaixo da meta de 95%, mas as menores taxas foram registradas em 2021 e 2022, quando apenas 78,27% do público se vacinou, taxa que está 16,73% abaixo da meta de vacinação. Além disso, dentre as vacinas de 2022, foi a que mais registrou defasagem.
Em 2017, 12.207 doses da Vacina Inativa (VIP) foram aplicadas. Desde então, município tem sentido dificuldade em manter a média. Em 2022, número caiu para 10.640.
Apenas duas atingiram a média
Outras vacinas altamente recomendadas também ficaram abaixo da expectativa. Conforme a Sesau, apenas a BCG (105,71%) e Tríplice Viral (97,71%) conseguiram superar a meta de 95% no ano anterior. Mesmo nesses casos, houve diminuição no número de doses aplicadas entre 2017 e 2022. Em 2017, 16.599 doses da BCG foram aplicadas. Em 2021, foram 14.225. Em 2022, número caiu para 13.769.
Fenômeno também foi percebido na vacina de Tríplice Viral. Enquanto em 2017 foram aplicadas 14.283 doses, número caiu para 12.727 em 2022.
Seis vacinas abaixo da meta
Ainda conforme os dados da Sesau, das oito vacinas com o histórico de vacinação divulgado, seis delas não atingiram a meta em 2022. São elas: VIP (78,27% de 95%), Rotavírus (89,17% de 90%), Febre Amarela (80% de 100%), Pneumo 10 (89,04% de 95%), Menigo.C (88,57% de 95%), Pentavalente (79,53% de 95%).
Acesso precisa ser melhorado
Pesquisador da Fiocruz, Juliano Croda afirma que a baixa adesão está relacionada à falta de acesso, principalmente da população mais pobre, desde 2016 que se intensificou na pandemia. Assim, existe a necessidade de entender as motivações para intervir e, então, aumentar a taxa de imunização.
“A principal motivação é o acesso por vários motivos, como a falta de funcionamento de horários alternativos nos postos de saúde, nem todas as unidades têm salas de vacinação ou às vezes são muito distantes, às vezes faltam vacinas nos postos. O equilíbrio das barreiras é fundamental para a população, especialmente a de baixa renda”, finaliza.
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