A UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Leblon, localizada na R. Benjamin Adese, vive quadro de superlotação com crescentes casos de dengue e doenças respiratórias em Campo Grande. O próprio secretário municipal de saúde, Sandro Benitez, classificou a situação como ‘epidemia’, o que faz unidades de saúde ficarem lotadas. Além da alta demanda de trabalho, servidores da UPA Leblon ainda precisam lidar com outra ocorrência: furtos de veículos ocorridos dentro do estacionamento do local.

Conforme denúncia de uma servidora da unidade, ao menos três veículos já foram levados enquanto trabalhadores estavam em atendimento. Na semana passada, um carro foi furtado. Enquanto isso, na semana retrasada servidores sentiram falta de carro e uma moto. Um desses furtos de veículos teria ocorrido no início do plantão, por volta das 19h40.

“Toda a semana está roubando carro, roubando moto e a gente fica inseguro de trabalhar. A gente não consegue trabalhar em paz mais com medo. Devido ao grande fluxo de pacientes, a gente ainda precisa ficar de olho pra ver se nosso carro ainda está lá [estacionado]”, lamenta.

Ainda segundo informações ao Jornal Midiamax, o aumento de furtos ocorreu há cerca de um mês. Para ela, o principal motivo é falta de sinalização porque “tem guarda na unidade, mas eles ficam dentro e não ficam fazendo ronda lá”.

Violência é rotina entre moradores do Lagoa

A UPA Leblon fica localizada na região do Lagoa. Com 200 mil pessoas, a área, que é uma das mais populosas da Capital, tem problemas que tiram o sono dos moradores quando o assunto é a segurança pública.

De acordo com a Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano), 11 grandes bairros fazem parte da Região do Lagoa, sendo o Bandeirantes, Taveirópolis, Caiçara, União, Leblon, São Conrado, Tijuca, Batistão, Coophavila II, Tarumã e Caiobá.

Em reportagem publicada no início deste ano, o Jornal Midiamax mostrou que a polícia precisa se desdobrar para manter a segurança, mas por se tratar de uma região muito populosa nem sempre as equipes conseguem ficar em todos os pontos.

Segundo tenente-coronel Maxuel Antunes, comandante da 10ª Companhia Independente de Polícia Militar que atende à região, 78 policiais militares realizam o trabalho na região da Lagoa. O tenente também destaca que, apesar de ser uma área populosa, a criminalidade é considerada baixa se for comparada a outros locais de Campo Grande.

Os bairros onde as equipes militares mais atendem ocorrências na Região do Lagoa são o Jardim Tijuca e o Portal Caiobá. De maneira geral, os crimes que mais acontecem na região são furto, violência doméstica e perturbação de sossego. O militar ressalta que as equipes sempre buscam manter proximidade com os moradores.

Conforme a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), os crimes que mais acontecem na região tiveram um alto índice em Campo Grande. Conforme o órgão, em 2022, a cidade registrou 18.809 furtos. Só em 2023, o número já soma 1.594.

O que diz a Sesau

Questionada pelo Jornal Midiamax sobre os furtos de veículos dentro do estacionamento da UPA Leblon, a Sesau disse, por meio de nota, que as UPAs e CRSs dispõem de ao menos um agente da CGM (Guarda Civil Metropolitana) por período para fazer a segurança.

“A UPA Leblon, especificamente, está com um guarda lotado por período. Os mesmos circulam por todo o perímetro da unidade, no entanto permanecem com maior frequência na recepção, onde há maior circulação de pessoas.  As unidades também recebem rondas constantes de equipes de apoio e reforço no efetivo, quando solicitado, para atendimento de alguma ocorrência”, finaliza.

Gente deitada no chão e horas de espera

Há algumas semanas que a movimentação aumentou nas UPAs de Campo Grande devido ao alto índice de doenças respiratórias e ocasionadas pelo mosquito Aedes aegypti.

“Está superlotado, especialmente crianças. Os adultos estão com mais dengue, enquanto as crianças com a síndrome respiratória. Só na noite de ontem (3) a UPA atendeu umas 300 pessoas só à noite”, disse servidora.

Upa Leblon
UPA Leblon está lotada (Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Dessa forma, o Jornal Midiamax realizou visita à UPA Leblon na manhã desta terça-feira (4) para acompanhar a situação. Por lá, foi possível encontrar espaço completamente lotado. Além de grande número de crianças, tinha até gente deitada no chão à espera de atendimento por falta de lugar para se acomodar.

Uma jovem de 22 anos, que preferiu não se identificar, estava aguardando receber exames do filho, de 1 ano, no local. Acompanhada da mãe, ela relatou a verdadeira ‘maratona’ que precisou fazer para conseguir um diagnóstico correto ao filho, que está com sintomas de dengue desde terça-feira (27), mas só conseguiu diagnóstico recentemente.

A febre de 40°C do bebê começou na semana passada. A mãe levou a criança até a UPA Leblon, mas foi conduzida para a Universitário porque estaria sem pediatra naquele dia. No espaço, equipe perdeu exame do bebê e precisou coletar sangue tudo de novo até que, na quarta-feira, família ficou das 7h às 18h à espera de vaga para a criança tomar soro. Até então, médicos viram as manchas no corpo e alegaram ser alergia.

Em seguida, foi indicada a ir para a UPA Vila Almeida, onde lá se teria se desentendido com a pediatra. “Eu levei ao médico porque não tinha como eu sair medicando o menino sem saber. Aí a médica me disse que a responsabilidade de saber o remédio para dar era minha”.

Na quinta, a mãe retornou à UPA Universitário porque criança ainda tinha febre. Lá, equipe médica encontrou manchas na região genital, deu diagnóstico de fimose e passou cefalexina, antibiótico para tratar infecções bacterianas.

Diagnóstico correto veio após 5 dias

O bebê não se adaptou à medicação e continuou com os sintomas. A mãe, então, retornou à UPA Leblon na última sexta-feira (31) para exames e no sábado médico diagnosticou a dengue após cinco dias desde o início dos sintomas.

“A gente ficou petecando com o menino atoa sendo que poderia ter feito desde o início o diagnóstico da dengue porque ele estava todo pintado”, reclama.

Sesau se posiciona sobre atendimento

O Jornal Midiamax entrou em contato novamente com a Sesau para entender os protocolos de diagnósticos e se posicionar sobre o caso específico. Por meio de nota, secretaria respondeu que o acolhimento e atendimento ao paciente deve ser realizado independente da faixa etária deste, em especial em uma unidade de urgência onde, por preconização do Ministério da Saúde, não há a necessidade da presença de especialistas – inclusive o pediatra.

“Sendo assim toda e qualquer unidade de saúde deve realizar o acolhimento ao paciente. Contudo, observa-se que, em muitos casos, os pais só aceitam o atendimento se for realizado por um médico especializado, e deixam a unidade de saúde em busca de outra que tenha o profissional em questão”. 

Secretaria também salienta passar por um período de surto de doenças respiratórias e também de dengue. Assim, diversas medidas já foram adotadas para assegurar uma assistência adequada à população, como o reforço do quadro funcional das unidades (convocação de mais médicos, enfermeiros, entre outros profissionais), bem como o direcionamento de fluxo para a Atenção Primária de casos de menor gravidade.

“Hoje, mais de 60% dos atendimentos realizados nas UPAs e CRSs são de pacientes que poderiam ter sido atendidos nas unidades básicas e de saúde da família. Cabe esclarecer que o atendimento nas UPAs e CRSs se dá por classificação e não por ordem de chegada, sendo pacientes mais graves priorizados em detrimento dos demais”, diz a nota.