O casal de cirurgiões-dentistas, Maurício Terra e Camila Dalforno, de 40 e 30 anos, respectivamente, usaram as redes sociais para denunciar uma série de perseguições da síndica, no condomínio de luxo em que moram, localizado na rua 15 de novembro, região central de Campo Grande. Desde que se mudaram, há 4 anos, eles disseram que começaram a ter problemas, registrando dois boletins de ocorrência, sendo um no ano de 2018 e outro neste mês de fevereiro.

O auge da perseguição, ainda de acordo com o casal, ocorreu recentemente, quando eles aguardavam uma entrega pelos Correios e não receberam, já que porteiros e o zelador teriam recebido ordens “para não aceitar nenhuma encomenda deles”. Revoltados e com um evento na clínica em andamento, ambos usaram as redes sociais para desabafar e falar do comportamento da síndica, mostrando, inclusive, o momento em que um dos porteiros corre pelas escadas para não ter que responder o motivo de não receber a entrega dos Correios destinada aos dentistas.

“Eu organizei o evento por um mês para os meus clientes de harmonização facial. Eles receberam uma série de brindes, como o meu gloss de ácido hialurônico e produtos dos meus parceiros. Tenho contratos como influenciadora e só estava aguardando a entrega das encomendas para finalizar tudo. Atrasou e eu até cogitei a hipótese de terem recusado, quando saí da clínica correndo para o meu condomínio e soube recusaram de receber na portaria”, afirmou Camila ao Midiamax. 

Conforme a dentista, a “justificativa sem cabimento” do porteiro a deixou muito nervosa. “Eu me alterei muito e o porteiro, literalmente, correu de mim e fingiu que estava no telefone quando eu questionei o motivo de não receber as encomendas na portaria do condomínio onde eu moro. Isso iria prejudicar todo o andamento do meu evento, com 10 clientes me esperando e a sorte é que divulgamos isso e meu marido conseguiu retirar, às pressas, a encomenda na Agência dos Correios, senão iria voltar tudo para São Paulo”, alegou. 

Diante ao fato, o casal acionou um advogado e também foi até a Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Centro registrar queixa. “Ela [síndica] é dona de alguns apartamentos aqui, inclusive a cobertura, então manda e desmanda nesse lugar. Nós constatamos que cobra valores diferentes de condomínio para quem aluga, como é o nosso caso e até para as pessoas que alugam o apartamento dela, além de uma série de transtornos”, ressaltou o cirurgião-dentista Maurício. 

Transtorno começou há 4 anos, diz dentista

No ano de 2018, logo que se mudaram, eles contam que houve um assalto no condomínio e então foi convocada uma reunião, a qual, segundo ele, somente os donos de apartamentos é quem poderiam participar. “Essa reunião era para discutir e até entender, na época, se alguém da portaria teria facilitado o acesso, porque o crime ocorreu em um apartamento específico. Eu nem havia sido informado desta reunião, só fui lá porque estava chegando na hora e vi essa reunião no espaço de festas”, argumentou. 

Na ocasião, Maurício disse que ficou claro como os proprietários tinham privilégios e ele teria irritado a síndica, no momento em que levantou a mão para fazer perguntas. “Entrei lá e perguntei primeiro sobre a transparência das contas, já que sempre vinha um valor a mais dos R$ 1,4 mil mensais de condomínio, dizendo que era para a ‘diferença de caixa’. Eu lia aquilo e achava algo vazio. Queria entender porque o condomínio estava, todo mês, gastando mais do que recebia e então cobrei esse detalhamento de gastos”, explicou. 

Ainda na reunião e em outros momentos, o dentista teria questionado uma fatura do condomínio, com uma taxa de R$ 900 a mais por morador, ressaltando que era “honorário advocatício”. “Disseram que isso era uma cobrança judicial feita a quem não estava pagando o condomínio em dia. E eu achei absurdo o fato de quem paga em dia ter de arcar com esta despesa. Logo eu fui pesquisar e o advogado, no caso, era o marido da síndica. Não é ilegal, mas, imoral”, disse. 

No decorrer dos anos, Maurício diz que a síndica sempre “arranjou motivos” para implicar com o casal. “Teve um dia que eu esqueci a máscara e, logo que retornei para buscar, ela disse que eu receberia notificação, multa. Só que eu perguntei para uma vizinha e ela disse que já esqueceu também, passou pela síndica, e não teve problema algum. Outra coisa é a minha caminhonete, que ela alega que reclamaram que eu deixo muito para fora e chegou a dizer que eu não deveria mais ter este carro, sendo que ela anda de caminhonete”, argumentou. 

Nesta semana, com a recusa dos porteiros em receber a encomenda, Maurício e Camila acionaram o advogado e juntaram provas, tendo inclusive a confirmação de que funcionários receberam ordens da síndica. “Como ela não nos atende e a gente também não tem tempo para ficar no prédio cuidado ela, tentei conversar até com o marido dela, mas, não consegui e então tivemos de registrar o boletim pelo crime de perseguição, que está tipificado no artigo 147 do Código Penal. Uma ação por danos morais também está em andamento”, finalizou Terra. 

Síndica nega perseguição e diz que recebeu ameaças

Ao Jornal Midiamax a síndica Ione Albuquerque, de 59 anos, nega qualquer tipo de perseguição. “Nós estamos vivendo um momento de restrições e a questão é que eles não gostam de nenhuma regra e aí postaram uma série de coisas na internet. Existem regras previstas nas convenções e eu, como síndica, preciso valer o que foi decidido e eles não aceitam. Não há diálogo nenhum. Eu tenho um cargo público, de visibilidade e isso tem repercussões tanto na área civil quanto criminal e também adotei as minhas medidas contra eles”, afirmou. 

De acordo com Ione, Maurício teria ligado, no interfone, fora do horário do expediente, questionando o fato de uma encomenda que receberam e ele não tinha autorizado o recebimento. “Ele disse, bravo e irritado, que a portaria não era para receber. Foi aí que eu disse a ele que daria ordens para não receberem mais produtos dele e ele estava ciente. Depois, ele ficou bravo por não ter recebido”, alegou. 

Ao mesmo tempo, a síndica conta que o morador “não gosta de usar máscara”. “Eu moro aqui há 30 anos e nunca passei por situação similar e de forma tão deselegante. É uma situação complicada e qualquer coisa eles acham ruim. Eles alegaram sobre o espaço de festas e o gourmet, mas, não há nenhuma solicitação formal de que gostariam de usar o espaço. Não há solicitações”, finalizou. 

Crime de perseguição foi sancionado há menos de um ano

A lei 14.132, que criminaliza o crime de perseguição, conhecido como stalking, foi sancionada em abril de 2021. A pena prevista é de 6 meses a 2 anos de detenção, além de multa. 

O stalking é o termo que define a perseguição reiterada. Na internet, por exemplo, é conhecida como o cyberstalking, com ameaças à integridade física e psicológica da vítima, interferindo na liberdade e privacidade. Antes, o crime era enquadrado apenas como uma contravenção penal, configurado como perturbação da tranquilidade e punição de 15 dias a 2 meses de prisão e multa.