Usuários se espalham pelo Centro e montam até ‘casa de lona’ após expulsão da antiga rodoviária
Após viverem em uma espécie de cracolândia, centenas foram expulsos. Mas, para onde eles foram?
Graziela Rezende –
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Existem alguns problemas em Campo Grande que muitos dizem ser “históricos”. E a solução para os usuários de drogas, no entorno da antiga rodoviária, parece ser um deles. Após viverem em uma espécie de cracolândia, centenas foram expulsos em ação que envolveu Guarda Municipal, Polícia Militar e a prefeitura, a qual inclusive usou um caminhão basculante para retirar toda a sujeira. Mas, para onde eles foram?
Dois meses depois, o que se vê é que continuam perambulando pelo Centro. Nos últimos dias, durante rondas, militares abordaram vários usuários de drogas e identificaram o receptador em posse de 90 kg de carne furtados, fios retirados de lojas e que também vão para receptadores, além de uma câmera retirada de uma unidade dos Correios.
Alguns comerciantes, assustados, intensificaram o pedido de rondas na região central e as equipes se depararam até com uma “casa de lona”, feita por estes usuários, nas proximidades da avenida Mato Grosso e a orla ferroviária.
“Antigamente, na época da antiga rodoviária, eram centenas de usuários. Nós fazíamos abordagens diárias, era uma rua toda cheia. Atualmente, ali no entorno, fazemos de 15 a 20 abordagens por dia. O restante se espalhou pelo Centro e agora estamos com a Operação Sentinela em andamento. São 24 horas de abordagens”, afirmou ao Jornal Midiamax o tenente Carlos Roa, do 1° BPM (Batalhão da Polícia Militar).
Usuários colocaram corrente e cadeado em hotel abandonado
Na última semana, outros militares e guardas municipais disse que intensificaram as rondas no antigo Hotel União, localizado na Avenida Calógeras, ao lado do hotel Gaspar. Foi quando descobriram que até cadeado e correntes haviam sido colocados.
“Nós podemos agir até um limite e, neste caso, é um prédio privado. Isso dificulta a nossa fiscalização. Alguns comerciantes, no entorno, nos disseram que a filha do proprietário também seria depedente química e chegou a colocar fogo no hotel”, argumentou.
Ainda conforme o policial, os usuários, desde que se instalaram no local, colocaram estes itens de segurança para coibir fiscalizações. “Eles saem e trancam tudo. Só que o movimento dos usuários mesmo é durante a noite. Durante o dia eles circulam pelo Centro”, disse.
Um morador da região, temendo crimes como furto e tráfico de drogas, disse que constantemente liga para a polícia. “Eu fico pedindo para eles desocuparem ali, para fechar aquele local senão vai virar local de venda e consumo de drogas”, comentou.
Com o aumento das ocorrências, em que os servidores levam os fatos ao conhecimento da Polícia Civil, a ordem é para ter “tolerância zero”.
“Nós identificamos quem estava furtando o Hospital do Coração, recuperamos 90 kg de carne furtado de um comércio e pertences. São muitos chamados e estamos em busca de quem está tirando o sossego dos comerciantes no Centro”, explicou o tenente Roa.
Ao todo, de acordo com o tenente, 48 traficantes presos em flagrante, desde o início do ano.
Na semana anterior, os policiais também prenderam um homem foragido da Justiça, o qual estava cometendo vários furtos em Campo Grande, além de usuários que levaram pares de calçados de uma loja da Rua 14 de julho.
Na última quinta-feira (21), policiais da Derf (Delegacia Especializada em Repressão à Roubos e Furtos) também estiveram no entorno da antiga rodoviária. Um homem de 36 anos, foragido da Justiça, foi capturado. De acordo com o delegado Fábio Brandalise, adjunto da unidade policial, o suspeito possui antecedentes por tráfico de drogas, sequestro, cárcere, roubo qualificado, organização criminosa (envolvimento no tribunal do crime) e outros crimes.
Após expulsão, antiga rodoviária já atrai investidores
Após a prefeitura abrir licitação, agora em 2022, para reforma da antiga rodoviária e os comerciantes se unirem para decretar o fim da cracolândia, muitas novidades estão a caminho para atrair investidores e fazer o local renascer das “cinzas do esquecimento”. Quem passar pelo local pode, inclusive, se surpreender com síndico e outras pessoas se comunicando via rádio e fazendo a vistoria rotineiramente.
A presidente da associação dos lojistas do Centro Comercial Condomínio Terminal do Oeste, Heloisa Cury, de 65 anos, relata que, atualmente, investidores interessados estão visitando o local diariamente e o prédio já começou a sentir os impactos positivos das intervenções.
“Estamos recebendo a procura de novos empresários que querem participar dessa nova fase e já estão comprando salas. Um mercado já pediu para separar um espaço. Dentista, advogado, imobiliárias e cabeleireira, também. Na quarta-feira (11) inclusive foram vendidas quatro salas na Rua Dom Aquino. Isso não acontecia há 10 anos”, disse.
E como fica a situação dos usuários?
No entanto, como ficam a situação dos usuários? Há uma semana, a reportagem do Jornal Midiamax também andou por bairros da cidade. Na percepção de moradores, usuários de drogas não se espalharam somente pelo Centro e sim em outras regiões. No bairro Novos Estados, por exemplo, a informação é que estavam andando armados e um homem foi esfaqueado ao negar dar esmola.
De acordo com a Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS), os dependentes químicos são constantemente abordados. No entanto, a maioria se nega a receber ajuda. Sobre ações voltadas ao atendimento de pessoas em situação de rua e alocados na região da antiga rodoviária, o PAIC (Programa de Ação Integrada e Continuada de Atenção às Pessoas em Situação de Rua) atende desde usuários abusivas de álcool e outras drogas, em Campo Grande.
Atualmente, ainda conforme a assessoria da SAS, estão sendo discutidas ações que visam o acesso efetivo a novas oportunidades de acolhimento, encaminhamento para comunidades terapêuticas, atendimento em saúde, diretos a cidadania, qualificação profissional, segurança e inserção no mercado de trabalho. Nos próximos dias o PAIC estará reunido na sede da SDHU para divulgar a data de início e cronograma de ações nas imediações da antiga rodoviária.
Quem quiser fazer uma denúncia anônima, a Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública) oferece o Disque 181. Existe ainda a web denúncia, pelo site: https://www.181.ms.gov.br/denuncia/
Veja algumas abordagens realizadas na região central de Campo Grande:
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