Pelas ruas do bairro Caiobá, em Campo Grande, o asfalto torna-se opaco devido ao desgaste do tempo e sujo pela poeira trazida das vias de terra e cascalho. A região é um retalho de caminhos que iniciam pavimentados e depois são cortados por um trecho não asfaltado.

A reportagem do Midiamax encontrou a moradora do bairro, Danielle de Souza, de 29 anos, dona do lar, no cruzamento da rua Gaia, parte sem asfalto, com a rua pavimentada Cachoeira do Campo. A casa dela fica no trecho de terra e, nos dias de chuva, fica difícil transitar pela região. 

“Quando chove desce uma enxurrada da pega pela rua, dá trabalho para sair de casa, vamos pulando”, ela diz.

Encontramos Danielle por volta de 11h30 depois de buscar a própria filha e a filha de uma vizinha na Escola Municipal Professor Antonio Lopes Lins, na rua Cibele, que fica a algumas quadras dali.

Questionada sobre o trânsito na região, a moradora afirma que é complicado andar próximo à instituição de ensino nos horários de entrada e saída dos estudantes, seja de manhã ou à tarde. 

“Tem hora que precisamos passar correndo, se arriscando com as crianças”, ela aponta.

Francisca Martins, de 64 anos, pensionista, mora no bairro São Jorge da Lagoa, mas visita frequentemente a mãe de 84 anos que mora na rua Cajarana, também sem asfalto. 

Moradores contam que acidentes são frequentes no bairro (Foto: Marcos Erminio/ Midiamax)

A filha conta que a matriarca vive nesse endereço há mais de dez anos e foi uma das primeiras a residir lá. O bairro cresceu, outros moradores chegaram, algumas ruas foram pavimentadas, mas a de “mamãe”, como ela diz, permanece batida de chão e cascalho. 

A idosa precisa de ajuda para caminhar, seja com a oferta de um braço para se apoiar, ou com o auxílio de um pedaço de madeira.

“A rua é feia e quando chove é péssimo. É muito buraco e pedra, a chuva vem e leva tudo o que fizeram”, conta a pensionista.

Maria Arce, de 54 anos, que trabalha com uma borracharia no cruzamento da Rua Cachoeira do Campo com a Rua Pilares, ambas asfaltadas, reforça que andar pelo bairro é complicado nos dias chuvosos. 

“Quando chove, alaga. Não vê rua, não vê nada, só vê a água correndo e levando tudo. A água vem descendo a rua e traz terra, traz tudo”, ela relembra.

Sobre o trânsito, Maria conta que já viu muitos acidentes acontecerem naquela via e, inclusive, aponta para a esquina com rua Gaia algumas quadras para baixo onde uma menina que andava de bicicleta morreu atropelada por um caminhão que transportava gás, em abril de 2019. 

“Tem quebra mola, mas o povo não respeita. Passa e vai embora. O ônibus para virar aqui é uma dificuldade para as crianças da escola”, observa.

A farmacêutica Diellen, de 33 anos, mora no bairro Ana Maria do Couto e trabalha no Caiobá. Ela diz que o trânsito para a região fica lento no horário das 07h e que vê muitos acidentes. Naquele mesmo dia, viu um no cruzamento da Rua Pará com a Avenida Nasri Siufi, entre um carro e moto.

“Acredito que seja falta de sinalização misturada com imprudência”, atribui a farmacêutica para tantos acidentes.

Sobre a estrutura do bairro, Dillen vê transtorno quando há chuva e quando está seco. “Quando tem asfalto a terra toma conta e quando chove é complicado”.

Educação

Além do trânsito complicado perto da escola, o tema educação na região é permeado também por outros problemas. Maria Arce, a dona da borracharia, tem netos que moram no bairro, mas que tiveram que estudar em uma escola no Aero Rancho por falta de vagas na unidade de ensino perto de casa.

Escola inacabada no bairro Caiobá. (Foto: Marcos Erminio/ Midiamax)

“Tem muita criança e pouca escola, meus netos nunca estudaram lá porque não acharam vaga”, ela diz. 

Relato semelhante é o de Cleissiane dos Santos, de 30 anos, empresária que tem dois filhos com idade escolar, de 8 e 12 anos. As crianças frequentaram por três meses a escola da região e estudam há três anos em uma escola no bairro Coophavilla.

“Eu não gostei da escola daqui, tem muita criança. Preferi colocar em outro bairro com ensino melhor”, ela conta.

O mesmo aconteceu com a moradora do bairro há seis anos, Cleidimar, de 36 anos e dona de casa, que tem um filho de nove anos e preferiu colocá-lo em uma escola em outro bairro. 

“A gente queria mais segurança para as crianças poderem brincar, mas não tem. Não tem parquinho, não tem nada”, afirma Cleidimar.

Maria Arce, Cleissiane e Cleidimar citaram a obra inacabada de uma escola municipal no bairro como um dos pontos que poderiam melhorar na região. A construção começou há dois anos, parou, prometeram retornar, mas até o momento as obras não voltaram.

Além da falta de vagas na região, a obra não finalizada gerou outro problema: ladrões têm morado no local e furtado as casas e comércio próximos. Na conta dos delitos já estão fios de luz, padrão de energia do ponto de táxi, além de pertences dos moradores. “A gente sai e uma vizinha tem que cuidar a casa da outra”, relata Cleissiane.

Além do sentimento de insegurança em casa, andar pelo bairro também tem intimidado as moradoras devido a frequência de acidentes. Cleissiane diz que os horários entre às 17h e 19h30 são os piores. 

“A placa de ‘pare’ não resolve muito, precisa de um semáforo. Dois sábados atrás um motoqueiro bateu na farmácia”, recorda a empresária.

Cleidimar conta que na rua Ilha de Marajó, que não tem asfalto, é difícil andar com as crianças. “Tem mães que passam com os filhos e os motoristas não respeitam, só faltam passar por cima”, ela afirma. 

A dona do lar também relembra quando, anos antes, o marido foi atropelado por uma moto perto de onde mora, no cruzamento das ruas Francisco Antonio de Souza com a Cachoeira do Campo. “Hoje em dia ele tem vários pinos na perna”, lamenta Cleidimar.

O Midiamax entrou em contato com a Prefeitura Municipal para um posicionamento sobre os problemas apontados pelos moradores.

Em resposta, a Prefeitura afirmou que irá licitar ainda neste semestre a retomada e conclusão da escola de ensino fundamental da Vila Natália que atenderá a região.

Sobre o asfalto, a administração pública irá buscar recursos para viabilizar a pavimentação da Rua Poente e um projeto executivo para o restante do bairro.

A Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) reforçará as fiscalizações no bairro e a Guarda Municipal deverá fazer uma ronda escolar na região.

Problemas antigos

Em 4 de abril de 2019, uma adolescente que andava de bicicleta foi atropelada por um caminhão que transportava gás enquanto fazia a curva da Rua Gaia com a Cachoeira do Campo. 

“Quase fui atropelada um dia. Eles esqueceram da gente (poder público), e nossos filhos estão sujeitos a isso”, disse uma morada ao Midiamax no dia do acidente. 

Em março deste ano, o Midiamax noticiou como estava a rua Poente, no bairro Portal Caiobá, após fortes chuvas. Na via sem asfalto observava-se diversos buracos e poças de lama, o que dificultava a travessia dos moradores pela região.

Em janeiro deste ano, o Midiamax também mostrou a cratera que interditou uma ponte no Portal Caiobá e moradores precisaram improvisar a passagem.

*Matéria atualizada em 1 de agosto de 2022 para acréscimo de posicionamento da prefeitura.