Janelas quebradas, matagal alto, móveis enferrujados e uma pintura azul envelhecida, descrição que remete a um imóvel abandonado, entretanto, que ocupou por 34 anos uma creche de , no Parque Residencial Maria Aparecida Pedrossian. O local que pertence a Amape (Associação de Moradores do Parque Residencial Maria Aparecida Pedrossian) acumula dívidas de (Imposto Predial e Territorial Urbano) e, há mais de sete anos, está no limbo da esperança de novamente ter alguma finalidade aos moradores.

Há poucos resquícios que indicam a ponderar que ali já foi um Ceinf (Centro de Ensino Infantil), a não ser pelas cadeiras escolares, brinquedos e placas numerando o bloco de cada sala. O espaço é grande, com um pátio extenso. Laudemiro Lopes é vizinho desde a inauguração do bairro, já viu vários familiares e filhos de amigos passarem pela unidade, que costumava ser referência para regiões mais próximas.

“Eu dizia que aqui era muito melhor que qualquer creche, faziam tudo certinho. Me lembro das crianças fazendo uma fila para entrar e antes passavam para ver se as crianças não tinham piolho. Agora, tudo isso é de um passado muito distante. E coloquei um arame na porta para impedir que entrem para vandalizar; nós [vizinhos] tentamos cuidar, mas entram aí para fazer bagunça”, conta.

Carteiras da creche
Carteiras da creche (Foto: Henrique Arakaki/Midiamax)

O morador ainda ressalta que presenciou a expectativa de que o mudasse, o que não saiu do papel ou de boatos. “Falaram que ia ser muita coisa, um posto da Polícia Militar, de secretaria, mas está do mesmo jeito. Queríamos que isso mudasse, porque é um dos imóveis mais antigos, tinha que estar servindo para algo bom para a gente usufruir”.

Maisa Coutinho, de 60 anos, se mudou recentemente para o bairro, há cerca de oito meses, mas foi atualizada pelos vizinhos do problema que assola os moradores. Ela também acumula ideias para mudar a cara do ‘elefante' do bairro, como uma horta, centro de recreação infantil ou que seja monitorado por seguranças do patrimônio público.

“Quando me mudei, foi uma das primeiras coisas que eu notei, está muito feio. É uma coisa que causa insegurança na gente; pode servir de ponto de usuário de drogas de pessoas em situação de rua. Tem duas igrejas perto, nos domingos à noite não tem iluminação nenhuma, é um perigo passar perto e ter alguém escondido”.

Portas da creche
Desenho infantil colado na porta. (Foto: Henrique Arakaki/Midiamax)

O presidente da Amape, Jânio Batista de Macedo, está há 16 anos na gestão e já viu várias sinalizações do poder público para que retornasse à ativa, embora só aguçasse o anseio. No início da pandemia, equipes da prefeitura visitaram o local, medindo e adiantando que poderia ser sede da Subea (Subsecretaria de Bem-Estar Animal). O pedido de Jânio era que houvesse anistia das dívidas públicas do imóvel caso fosse cedido ao município.

“Para se ter uma ideia, naquele tempo era Creche, não Ceinf. Ao longo desses anos o prédio serviu ao Estado e à prefeitura, mas nunca realizaram manutenção significativa, como trocar telha, mexer na parte hidráulica ou elétrica. Começou a dar choque nas crianças, alagar quando chovia. O Corpo de Bombeiros disse que não tinha condições de ter crianças ali, pela situação de perigo. O prefeito da época sugeriu a ampliação e reforma. Transferimos as crianças para o OITI. Me entregaram o prédio, e até aí pagavam água, luz, IPTU. Tenho débitos que não conseguimos pagar, é altíssimo, não temos essa receita”.

Janio
Jânio fala da dívida do imóvel (Foto: Henrique Arakaki/Midiamax)

Por enquanto, não há sinalização tanto do Governo do Estado como da Prefeitura de Campo Grande de novamente fazer uso do local. A SAD (Secretaria de Estado de Administração e Desburocratização) informou que não há oficialização de interesse de alguma secretaria estadual. A reportagem entrou em contato com a Prefeitura, por e-mail, e não obteve retorno. O espaço segue aberto para um posicionamento. 

Confia a situação da antiga creche: