Cansados de conviver com o mau cheiro, na manhã desta segunda-feira (14), cerca de 50 moradores de oito bairros, da região sul de , acompanharam uma perícia no local e realizaram uma manifestação pacífica, momento em que relataram o sofrimento diário ao conviverem com o odor, supostamente causado por uma empresa de adubos e fertilizantes.

Para investigar a ‘cruzada fétida', uma perícia começou a ser realizada em 47 pontos e a intenção é alcançar o entorno e até 8,93 quilômetros adiante para fazer a medição dos gases e ver se eles estão sendo prejudiciais, ou não, à população.

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“A perícia vai verificar tanto o tipo de gases produzidos, quanto o alcance do vento. Por dia, vamos fazer nove pontos, durante 24h, e seguir o cronograma por cinco dias. A previsão é que o resultado saia em dois meses e a população, se quiser, pode nos acompanhar”, disse ao Midiamax a perita Kamilla Ajala, do IPC-MS (Instituto de Perícias Científicas de Mato Grosso do Sul).

O Nelson Afonso, que representa os moradores há 20 anos, destaca que, até o momento, já são cerca de 470 processos da comunidade contra a empresa. Todos eles ressaltam o mau-cheiro e alegam também danos ao patrimônio.

“Fizemos um laudo técnico para que não fique parecendo que a população está contra a empresa. É uma série de fatores, como condições atmosféricas e até a corrente de ar que chega até eles (moradores). Eu ouvi relatos de pessoas com machas na pele sem explicação, sem apetite e com encefalite (dor de cabeça) recorrente. De crianças a idosos, cada um reage de uma forma. Sem esquecer a grande desvalorização dos imóveis, que caiu, no mínimo, 40%. Como se não bastasse essa perda, as pessoas ainda passam por constrangimentos e não conseguem nem levar visitas dentro de casa”, explicou o advogado.

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Presidente da associação de moradores Cidade de Deus, Roni Leão disse que viveu no bairro Dom Antônio por 18 anos e se mudou para a região há uma década. Atingidos pelo odor, o morador pede uma solução para poder viver de forma digna.

“A maioria das casas já não valem mais nada. Os imóveis que valiam R$ 40 mil, hoje em dia não valem R$ 18 mil, se a gente for vender. No meu caso, não consigo nem almoçar. Muitas vezes fico com ânsia de vômito. Tenho uma ação por danos morais e dano ao patrimônio”, disse.

O guarda Bernardino de Oliveira, de 57 anos, explica que mora com seis pessoas na mesma casa, inclusive com crianças, que já acordam reclamando do mau cheiro. “Todo dia é assim, fede carniça, fede ”, desabafou o morador.

As irmãs Sandra Cardoso, de 48 anos e Ana Cristina Cardoso, de 33 anos, relatam que a família se desmembrou e a irmã mais velha delas precisou até se mudar devido ao odor.

“A nossa irmã mais velha foi embora porque não aguentou o mau cheiro. A filha dela teve problema no fígado por inalar odor e ela precisou se mudar. Preferiu pagar aluguel ao ficar convivendo com o mau cheiro. Nosso paladar muda e não podemos receber visitas. Também tem muita mosca”, explicou.

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Célia Festino, de 39 anos, trabalha com reciclagem e lembra que o lixão foi fechado devido ao mau cheiro.

“Fecharam o lixão por mau cheiro, mas abrem uma empresa com o odor ainda pior. Já entrei lá, vi restos de gados e eles só jogam terra por cima, depois bate o sol e o vem o cheiro horrível. Até acordo sufocada”, destacou.

Outro lado

Flávio Pereira é sócio-proprietário da empresa e se defende dizendo que o material orgânico chega, de forma crua na empresa, diariamente em horário comercial e também aos sábados pela manhã. Ele diz que possui muito clientes.

“O processo de compostagem aqui é em torno de 30 mil toneladas, que ocorre 24h por dia. Não tem como controlar a questão do cheiro, é matéria orgânica unificada. O que deveria ser levado em conta é que aqui não gera nenhum resíduo”, disse.

Ainda segundo responsável pela empresa, eles estão fazendo compostagem de forma correta. “Acredito que existe cheiro sim, não estou alheio aos moradores, mas aqui ao redor existe o lixão e estação de tratamento de esgoto da Águas Guariroba. O cheiro não é meu, e é isto eu quero constatar”.

Para comprovar a tese, Flávio falou que fez um estudo e contratou uma empresa alemã que esteve sete dias consecutivos no local.

“Eles encontraram apenas um pico de odor fora do padrão, o qual pode ser enxofre, só que o vento era bairro/empresa e não empresa/bairro. O Poder Público vai entender que o cheiro pode ser tratamento de esgoto e aterro sanitário”, ressaltou.

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Além de dizer que o odor pode ser referente a outras atividades realizadas na região, Pereira finaliza dizendo que o povo vai invadindo terra e estão onde não deveriam estar.

“Eu sempre tentei colaborar com os moradores. Montei um galpão enorme para uma ter uma cooperativa de catadores com vagas para 150 pessoas. Consegui licença, mas não tem ninguém que quer ser parceiro por conta dos mais de 400 processos que temos”.