No auge da carreira, a cantora Anitta desabafou nas sobre o diagnóstico da endometriose. A discussão amplia a busca pelo diagnóstico precoce, já que o distúrbio causa dores fortes no corpo da mulher, além de abalo emocional para muitas, pois a inflamação causa infertilidade.

Para entender a alteração e o que causa as fortes dores, o Thiago Souza, especialista em cirurgias de endometriose e reprodução assistida, explica que a doença é inflamatória e imunológica, onde as células do endométrio, aquelas da parte de dentro do útero, estão implantadas do peritônio pélvico, a capa que recobre por dentro da barriga.

“São células que deveriam estar dentro do útero, mas estão fora, implantadas ou só dentro da pelve ou intestino, bexiga, no diafragma. A endometriose pode acometer várias partes dentro da barriga da mulher”.

O distúrbio causa dores inimagináveis, deixando a mulher incapaz de fazer as atividades rotineiras por sentir tanta dor. Um exemplo é que muitas até desmaiam ou precisam tomar soro na veia. Dentre os sintomas mais comuns está a cólica menstrual ou dor pélvica, no período que antecede a menstruação. Geralmente dura até o terceiro dia pré-menstrual.

“Os sintomas variam de acordo com o local de acometimento. Por exemplo, se a mulher tem foco de endometriose nos ligamentos útero sacros, na hora da relação, o pênis traciona os ligamentos e a paciente tem dor, é a chamada dispareunia; se for na bexiga, ela terá sintomas parecidos com a infecção urinária, pode até ter sangramento na urina; intestinal, terá mudanças no hábito, ou diarreia ou constipação no período pré ou menstrual”.

Embora os sintomas, existem tipos de endometriose que tornam o diagnóstico silencioso. Algumas pacientes têm endometriose superficial, onde é necessário exames mais precisos como a ressonância pélvica. “

“A paciente se queixa de dor, vai no ginecologista, mas não consegue ser diagnosticada porque não passou por um exame específico e de rastreio da doença, aquele que é necessário uma cirurgia com auxílio de câmera dentro da pelve. A endometriose profunda apresenta lesões de 5 mm, é possível ser vista por exames de imagens. Por isso, às vezes, a paciente tem o diagnóstico tardiamente ao longo da vida”, disse.

Para somar no acometimento, a doença também pode ser hereditária ou desencadeada, por exemplo, pela rotina de estresse ou pela alimentação irregular de comidas inflamatórias. “Também é uma doença imunológica, o corpo não identifica que as células não estão onde deveriam estar, uma falha no sistema imunológico”

Tratamento ou cura da endometriose

A cura existe através da cirurgia ou medicações para controle das dores, entretanto, a doença aumenta a possibilidade de infertilidade. O Dr. Thiago relata que não existe tratamento com medicação que aumente a chance de natural. 33% das pacientes com endometriose terão infertilidade, infelizmente, terão que ir para cirurgia ou processo de fertilização assistida”.

“Minhas dores não eram normais”

Não é possível mensurar o quão doloroso é uma dor de endometriose, nem mesmo quando tenta se comparar com as dores do parto. Patrícia Fernandes, moradora de Campo Grande, foi diagnosticada aos 32 anos, após anos de sofrimento, tanto pela dor física como a emocional pelas tentativas de engravidar.

“Sempre tive dores fortes no período menstrual. Desde a primeira menstruação. Porém, as dores ficaram mais fortes quando parei de usar o anticoncepcional para engravidar. Sempre relatei essas dores ao ginecologista, o mesmo dizia que eram normais. A intensidade da dor foi aumentando ao ponto de ficar de cama e ter que ir ao pronto socorro para tomar medicação na veia. Isso não é normal. Não conseguia fazer nada, era só cama por alguns dias”.

paciente diagnostica com endometriose
Patrícia foi diagnostica com endometriose e conseguiu engravidar após o tratamento. (Foto: Arquivo Pessoal)

Patrícia realizou a cirurgia de urgência no intestino. A cirurgia foi de alta complexidade. Foram retirados focos de endometriose do útero, ovários, parede abdominal e 30 cm do intestino. Durante os anos de dores muitos compromissos foram desmarcados devido à situação, inclusive, parou de trabalhar. Afinal, era impossível realizar qualquer tarefa de quase com tamanha cólica. A situação chegou ao nível de remédio sem fazer efeito. Precisava de morfina no pronto socorro.

Só depois do diagnóstico ela pode entender as mudanças angustiantes do próprio corpo. “A endometriose veio acompanhada da dor física e da dor na alma por trazer a tristeza de não conseguir engravidar. Meu diagnóstico foi um alívio, pois era o início de um tratamento certeiro e a certeza que eu não era louca por achar que minhas dores não eram normais. Passei por vários médicos, fiz centenas de exames durante anos e não tinha nada. Depois de anos encontrei um médico que entendia de endometriose e diagnosticou: endometriose profunda, infiltrativa, grau IV”.

Após a cirurgia, ela conta que, finalmente, conseguiu viver bem e tudo dentro dos padrões, que até então, nunca tinha experimentado: período menstrual normal, cólica normal. “Hoje faço exames de acomodamento da doença. E, com a graça de Deus, engravidei naturalmente. Meu milagre hoje tem 3 anos, lindo e saudável. A luta foi grande mas a vitória foi maior ainda. Eu digo a todas as mulheres que têm cólicas fortes: não é normal. Procure um médico até encontrar um que entenda de endometriose. Não necessariamente vai ser um ginecologista. No meu caso, foi um cirurgião gastro especialista em endometriose”, finaliza.