A insatisfação com o resultado das obras não concluídas na Rua Bahia e a futura implantação de um corredor de ônibus é geral entre comerciantes e usuários da via. O projeto foi iniciado em 2019 e implantou uma nova malha asfáltica, mas a diminuição das faixas de rolamento e a intervenção como um todo tem gerado mais prejuízos do que benefícios.
A atendente de uma loja de suplementos, Stefany Pereira, de 22 anos, não vê o corredor com bons olhos e escuta reclamações frequentes dos clientes. “Já falta estacionamento daquele lado e as pessoas vão perder mais ainda. Os clientes reclamam sempre sobre a questão de vagas. Se fosse melhorar o trânsito, mas já faz tempo que está desse jeito e piorou”, disse ela.
Para a gerente do restaurante La Buona Cucina, Luzia da Silva, de 49 anos, o prejuízo tomou proporções materiais. “Causou danos na minha parede da recepção e cozinha. O batente da porta rachou e o vidro da porta caiu e quebrou por conta da vibração das obras e a passagem das máquinas”, explicou.
Indignada e com danos em várias frentes, ela diz não entender o motivo dessas obras. “Eu não achei legal, é algo que não terminaram e só deixou prejuízo. É uma ideia de jerico, não pensaram no comércio. Precisavam fazer desobstrução do esgoto nessa rua, isso nós temos problema. Mas só fizeram uma maquiagem”, disse ela.

Ela também é mais uma das comerciantes que não compactuam com a implantação do corredor de ônibus. “Acho essa ideia horrível! Já é difícil para trabalhadores e clientes estacionarem, imagina quando essa faixa virar exclusiva para ônibus, vai atrapalhar o comércio”.
Utilizando a rua como via de acesso frequente, o empresário Eduardo Musuline, de 26 anos, também não enxerga benefícios na implantação do corredor de ônibus. “Acho bem ruim, uso para ir ao centro ou voltar para casa. Vai diminuir o espaço para tráfego de uma rua movimentada. Eu acredito que vai dificultar bastante até para acessar a academia”, disse ele.
Ação civil contra o corredor
A ação confronta a opção do projeto por instalar a faixa exclusiva de ônibus na pista mais à esquerda, reservada à ultrapassagem. Para os vizinhos à obra na Rua Bahia e empreendedores da região, os pontos de embarque construídos em meio às faixas de rolamento, como ilhas, expõem motoristas e pedestre ao risco de acidentes.
“[…] o passageiro fica obrigado a executar a travessia por uma faixa de pedestres, ampliando o descolamento [sic] a pé para embarque e desembarque”, pontua a petição, distribuída ao juiz Ariovaldo Nantes Corrêa, da 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais de Campo Grande.
“O ponto de ônibus/abrigo, no caso da via ser mão única, deveria ser feito sobre a calçada e não no meio da via. Caso exista restrição na largura, bastaria acrescer o passeio”, continua.
A peça afirma que a iniciativa em Campo Grande contraria o que determina guia do extinto Ministério das Cidades, publicado em 2018. O documento traz orientações para seleção de tecnologias e implementação de projetos de transporte público coletivo.
Os autores da ação popular citam incoerências entre a proposta aprovada pelo Ministério das Cidades e o projeto em execução. As divergências poderiam levar ao rompimento do contrato de financiamento da Caixa Econômica Federal com o município, argumentam.
Posição da prefeitura
O Jornal Midiamax solicitou esclarecimentos da PMCG (Prefeitura Municipal de Campo Grande) sobre o andamento das obras e a implantação do corredor de ônibus.
Ao Midiamax, o secretário da Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos), Rudi Fiorese, explicou sobre o motivo da obra estar parada. “A parte de infraestrutura, recapeamento e drenagem está pronta. Será feita outra licitação para a construção dos pontos de embarque, porque a empresa atual desistiu do contrato. Mas não temos uma data”, disse ele.
Sobre a medida não ter escutado os comerciantes, ele discorreu. “Todas as vezes que a gente faz isso vem esse argumento, mas não procede. Houve audiência pública e quando teve plano de mobilidade da cidade, foi inserido no planto diretor. Não é uma coisa que alguém amanheceu e do nada resolveu fazer. Causa um impacto e a gente reconhece, mas o ônibus tem que passar em alguma via. A cidade vai crescendo e a tendência, hoje, é priorizar o transporte público. Acaba sendo necessário sacrificar o espaço do veículo particular”.