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Cotidiano

‘Chega de sangue de índio’: teatro retrata violência e emociona público em festival de Bonito

A encenação aconteceu na tarde de sexta-feira (26) na Praça da Liberdade
Mariane Chianezi -
Foto: Divulgação

“O que foi? É meu cabelo? É minha aparência? Porque sou índio? O que foi? É minha história?“. Ao entrar em cena, a atriz Alessandra Tavares surge vestida de uma índia-mendiga que anda pelas ruas de , cidade fronteiriça de Mato Grosso do Sul com a segunda maior população indígena guarani-kaiowá. A peça de indígena, chamada ‘Gritaram-me Bugra’ composta por pelo Grupo de Teatro Liberdade PKR Pa’i Kuara Rendy (Raio do Sol), retratou violência vivenciada pelos indígenas, abordou orgulho e emocionou o público no Festival de Inverno em .

A encenação aconteceu na tarde de sexta-feira (26) na Praça da Liberdade, surpreendendo o público do Festival de Inverno de Bonito com a profundidade do diálogo e mensagens que revisitam a violência contra os indígenas brasileiros e a dramatização dos jovens atores, com expressões de revolta e orgulho de ser quem é. A expressão das pessoas era de perplexidade e muitas se emocionaram.

A peça foi produzida em 2019 e narra a história de uma índia à margem da sociedade que, em seu anseio de revolta, se manifesta num misto de orgulho e tristeza de ser chamada de bugra – expressão que espelha uma realidade crua, a discriminação dos povos originários.

O grupo teatral nasceu há sete anos, resultado das de formação de atores realizadas na escola da aldeia denominada “Mboeroy (casa e ensinar), viajou mais de 400 km de Amambai até Bonito, chegando quase no horário da apresentação. O diretor e autor da peça, o kaiowá Duadino Martines, 34, é primo do índio Márcio Moreira, morto no confronto com a polícia, em junho.

“A peça mostra não apenas a violência ao nosso povo, mas conhecimento da nossa cultura e a valorização da vida”, explica. “Mostra a beleza dessa cultura e retrata também a dor, abordando questões como a valorização da mulher, vítima também da violência doméstica”, completa. Ao final do espetáculo, ele diz que participar do FIB era o grande sonho da tribo e brada: “chega de sangue de índio!”

Manifesto por demarcação

Com diálogos contundentes denunciando a violência física e psicológica e também o feminicídio que ocorre nas aldeias, “Gritaram-me Bugra!” se desenvolve em vários atos, coloca o dedo de ferida ao relatar a morte de uma índia pelo seu marido bêbado e mostra os contrastes e as influências do homem branco com suas novas tecnologias e inovações, como o celular e o rap.

A índia-mendiga, interpretada pela única atriz branca do grupo teatral, sai de cena sem antes cravar os olhos no público e cantarolar a conhecida canção Tristeza (Tristeza/Por favor, vá embora/Minha alma que chora/Está vendo o meu fim), de autoria de Beth Carvalho. A encenação se aprofunda politicamente em questões como assassinatos, invasões de terras pelo branco e pede demarcação já.

Demarcação já!
Demarcação já!
Pra que o indígena não seja um indigente
Um alcoólatra, um escravo ou exilado
Ou acampado à beira duma estrada
Ou confinado e no final um suicida
Já velho ou jovem ou pior, piá
Demarcação já!
Demarcação já!

A canção do letrista Carlos Rennó com o cantor e compositor Chico César, que nasceu com os movimentos em defesa da integridade do índio e cantada por mais de 25 artistas, entre eles Ney Matogrosso, Arnaldo Antunes, Tetê Espindola, Criolo e Djuena Tikuna, ecoa pela Praça da Liberdade. Na sequência, sons reais de motores de helicóptero, captados durante o confronto dos guarani-kaiowá com a polícia em Amambai, em junho, e o estampido das balas.

Um corpo do jovem índio se desfalece, retratando a morte do kaiowá Márcio Moreira que ganhou repercussão internacional. A índia-mendiga surge enrolada a uma bandeira nacional suja de sangue, enquanto outros personagens levantam uma faixa questionando o marco temporal, uma tese jurídica definida como genocídio que procura alterar profundamente a política de demarcação de terras indígenas no Brasil. “Antes do Brasil coroa existe o cocar Brasil…”, murmuram.

Bandeira e faixa se entrelaçam e são jogadas ao chão, enquanto o corpo do índio morto é levado pelos irmãos, enquanto se ouve trechos de notícias relatando o confronto entre kaiowás e fazendeiros em Amambai. A peça se encerra com o grande público presente aplaudindo de pé. Algumas pessoas choram, outras ficam comovidas.

A produtora cultural Andrea Freire, de , presente na plateia, ficou impressionada com o espetáculo: “impactante, com síntese, limpa, uma direção impecável, atores muito harmoniosos e afinados, com um contexto que diz muito deles, porta-vozes da própria história. Merece circular pelo Estado pela força da temática e, especialmente, porque é um bom teatro e o público merece ver”.

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