#CG123: Engarrafamento e pouco espaço, como será quando Campo Grande chegar a 1 milhão de habitantes?
Projeções indicam data para Campo Grande alcançar a marca, porém crescimento vai muito além do que ter espaço
Fábio Oruê –
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Às vésperas de completar os seus 123 anos, Campo Grande também está no caminho de atingir a marca de 1 milhão de habitantes. A Capital com “cara de interior” deve romper essa marca dentro de 7 anos, com todos os seus moradores aconchegados dentro dos seus 8.082,98 km² de extensão territorial.
Os números do passado nos ajudam a vislumbrar o futuro. Ano a ano, a Cidade Morena cresce entre 1% e 1,13% (este último registrado em 2019/2020, no período pré-pandemia), conforme os dados dos últimos anos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), utilizados pelo Jornal Midiamax para calcular a projeção.
Com população estimada em 916 mil em 2021 (último dado disponibilizado) e seguindo a proporção de 1,13% ao ano, a Capital sul-mato-grossense chega a marca de 1 milhão de habitantes em 2029, se tornando a 1ª cidade de Mato Grosso do Sul a chegar neste número.
Para chegar nessa meta, Campo Grande ainda precisa de cerca de 74 mil habitantes. Esse crescimento esperado é equivalente ao que aconteceu entre 2015 e 2022, quando a Capital saiu de 853 mil para os atuais 926 mil moradores.
Vale ressaltar que a projeção calculada trata-se de uma previsão e não leva em conta alguns fatores que podem influenciar nos resultados, como migração e imigração, reflexos da pandemia, além da variação das taxas de natalidade e mortalidade.
O IBGE não disponibiliza esse tipo de dado por municípios, somente por estados, por isso a necessidade de fazer o cálculo desta maneira. Mato Grosso do Sul, que tem população estimada em 2.839.188 atualmente, terá 3.051.133 habitantes em 2029, conforme o instituto – 1/3 dessas pessoas vão estar em Campo Grande.
Dados mais concretos serão disponibilizados neste ano, com a atualização do Censo Demográfico, realizado pelo IBGE. A revisão deveria ter sido feita em 2020, mas por conta da pandemia, o serviço foi adiado.
A pesquisa vai atualizar o número de moradores da Capital de MS, além de mostrar outros indicadores sociais e econômicos. As visitas e a apuração do novo censo começaram em 1º de agosto em todo o Brasil.
Trânsito vai suportar a expansão?
Aumentam as pessoas e consequentemente aumentam os veículos em circulação nas ruas de Campo Grande. Segundo projeção do Detran-MS (Departamento de Trânsito de Mato Grosso do Sul), em 2029, a frota estimada para a Capital é de 705.278, o que representa 70,5% da população com algum tipo de veículo.
Atualmente essa taxa é de 62,3% e para o engenheiro e especialista no trânsito, Albertoni Júnior, Campo Grande já tem dificuldade em suportar esse volume nos horários de maior fluxo. “Já observamos que Campo Grande não foi projetada com vias para transporte público rodoviário. O ônibus se adapta em vias para veículos leves e motocicletas”, diz ele ao Jornal Midiamax.
“Há tentativas de acerto de via para ônibus, como a Rua Brilhante, onde aumentou o risco de atropelamento de pedestres. Faltam passagens por plataformas aéreas para pedestres em grandes avenidas como a Ernesto Geisel, no sentido Aero Rancho”, continua.
Segundo o profissional, o planejamento depende do cálculo do volume, velocidade e principalmente a densidade diária de veículos por trecho – quantidade por unidade de cumprimento da via. Quando essa apuração é ineficiente, problemas como lentidão e engarrafamentos acontecem.
“Já vivemos isso nos horários de pico na Afonso Pena e Mato Grosso, Ernesto Geisel e Ceará”, opina e compara em seguida. “O trânsito é como um escoamento de água em tubulação. Depende da densidade, velocidade e tempo para melhorar a vazão. As rádios ficam informando pelos ouvintes, mas não há um canal com uma gerência de tráfego com a mobilidade de controlar o volume. Ou fechar e abrir registros e novos fluxos de água, conforme eventos, como obras, acidentes, emergências e segurança pública”.
Para ele, é preciso melhorar o trabalho de engenharia, informar diariamente ao usuários as vias de fluxo em cada área da cidade e também ensinar a população a usar as ruas mais seguras para cada tipo de veículo. Com esses itens em ordem, o trânsito de Campo Grande estaria preparado para suportar 1 milhão de habitantes.
Segundo o Detran, a frota da Capital é de 620 mil veículos (dados de maio de 2022). Desse número, 577.331 são particulares.
Campo Grande está preparada?
Até 2029, muito ‘chão ainda vai rolar’, mas conforme a atual administração da cidade, Campo Grande está preparada para atingir a marca de 1 milhão de habitantes. A Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano) considera alguns parâmetros técnicos para essa afirmação.
Conforme nota enviada ao Jornal Midiamax, “Campo Grande tem espaço para o crescimento populacional com a previsão de preenchimento dos vazios urbanos”. Mas mesmo se não preencher esses vazios, a Capital ainda teria espaço suficiente para abrigar a população.
Conforme a pasta, o perímetro urbano é de 8.082,98 km² e a área urbana é de 35.941,08 ha. Se fosse ocupar toda essa extensão, a área urbana poderia se multiplicar 22 vezes e ainda acomodar uma população de 20 milhões de habitantes. Isso, claro, em termos matemáticos.
Ainda se tratando de perímetro urbano, essa extensão é equivalente a de locais como a Palestina, Cabo Verde ou Ilhas Canárias. Além disso, a Capital Sul-mato-grossense ainda poderia tranquilamente abrigar a população inteira da Romênia, do Chile ou da Guatemala.
A cidade conta com o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental – a Lei Complementar 74, de 6 de setembro de 2005 e suas alterações – Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo (LOUOS), bem como com os instrumentos jurídicos e urbanísticos para nortear o desenvolvimento da cidade, os quais definem as diretrizes para a gestão territorial e a expansão do município.
Vazios urbanos
Ainda é muito comum encontrar pela cidade grandes áreas vazias, sem nenhum tipo de construção. São esses vazios urbanos que a prefeitura pretende ocupar. Dos 100% do perímetro urbano da Capital, 37% é composto por vazios urbanos, conforme um estudo feito pelo curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), em 2016.
O estudo aponta que na Capital existem 793 parcelamentos dos 74 bairros em sete regiões urbanas e que há um número expressivo de áreas privadas com nenhuma ocupação. Ou seja, um quarto de todo o perímetro urbano da cidade, algo em torno de 25,74% que correspondem a 9.241,61 hectares que, somados aos mais de 4,246 hectares que tinham ocupação de até 25%, totalizam 13.488,46 hectares, ou seja, 37,57% da cidade são de áreas privadas consideradas vazios urbanos.
Desenvolvimento econômico
Abrigar toda essa ‘multidão’ não necessita somente de espaço, há outras dezenas de fatores que influenciam no crescimento populacional de um local. Economia, geração de empregos, habitação, saúde, entre outros fatores, também precisam se desenvolver para o pleno funcionamento do município.
Conforme o atual secretário da Sidagro (Secretaria Municipal de Inovação, Desenvolvimento Econômico e Agronegócio), Adelaido Vila, Campo Grande tem se desenvolvido no sentido dar subsídios para o crescimento populacional.
“A prefeitura desenvolveu nos últimos anos uma série de projetos estruturantes para dar condição para que Campo Grande pudesse ser a Capital da rota de integração da América Latina. Então, hoje nós temos musculatura, preparo, tecnologia e condições de receber isso tudo”, contou ao Jornal Midiamax.
Um desses planos que estão sendo desenvolvidos é o Parque Tecnológico e de Integração que será uma estação digital instalada na Esplanada Ferroviária. O local será uma articulação com universidades e governo para que as empresas se instalem no espaço, que prevê sala de reunião, área para startups, auditório e ambiente para gravação de vídeo.
“Ele vai trazer a oportunidade para as startups resolverem uma série de problemas que nós temos no nosso cotidiano”, explica o secretário, que garante que o município tem “todo um movimento que permite que as grandes empresas e os grandes empresários morarem”, como rede hoteleira, fronteira com estados e países estratégicos, além da ‘cara de interior’.
“A gente percebeu um movimento muito forte dos grandes empresários saírem de dentro de São Paulo para o interior de São Paulo, por conta das novas tecnologias e modalidades, como o home office e reuniões virtuais”, conta.
“Com essas novas possibilidades de trazer a mercadoria ao invés dos transportes tradicionais do Atlântico, trazendo pelo Pacífico, existe uma grande possibilidade de trazer esses grandes empresários a fazer negócios aqui, porque aqui ele tem as características de uma cidade de interior, mas com possibilidade de uma grande cidade, uma grande metrópole”, descreve.
Geração de emprego
E se tem desenvolvimento econômico, consequentemente fomentam as oportunidades de emprego. “Antigamente você tinha muito foco em empregar número de pessoas. Aí você coloca um monte de gente a ser empregado, mas com salário muito pequeno e desqualificado, com pouco grande”, revela Adelaido.
Segundo ele, o Prodes (Programa de Incentivos para o Desenvolvimento Econômico e Social de Campo Grande) incentiva as empresas que querem fixar aqui a contratar funcionários com qualificação que vivem na região. “Nós temos uma grande população com Ensino Superior […] Não posso trazer um empresa, doar um terreno, propiciar boas coisas e aí, os nossos filhos daqui que atingiram o Ensino Superior tem que morar fora porque aqui não tem emprego para eles”, opina.
No setor de emprego, se Campo Grande seguir os números de criação de postos de trabalho dos últimos anos, os resultados serão positivos. Conforme dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), desde 2018, somente 2020 fechou o ano com saldo negativo em vagas de serviços.
O primeiro ano da pandemia fechou com saldo de 2.602 postos a menos. Já 2021 ‘estourou’ no setor gerando 13.321 novas vagas de emprego e 2022 (até maio) segue neste caminho com acumulado de 1.865 novos postos. Com as perspectivas futuras para a cidade, Campo Grande pode chegar a 1 milhão de habitantes com todos as engrenagens funcionando.
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