Uma falha técnica de uma aeronave militar durante um treinamento fez um piloto se ejetar antes que se chocasse contra o chão, na área do Indubrasil, em Campo Grande, na tarde desta segunda-feira (13). Considerado procedimento padrão para evitar que o piloto fique gravemente ferido ou até perca a vida durante um acidente, caças e aviões de ataque, entre outros, são equipados com sistema de assento ejetável para essas ocasiões. Confira como funciona o processo. 

As aeronaves utilizam foguetes para lançar o assento com o piloto para fora do avião e depois paraquedas para cair em segurança. A ejeção é ativada manualmente e envolve o trabalho simultâneo de vários sistemas que garantem o funcionamento correto da ejeção e do pouso.

É tudo muito rápido. Entre o acionamento da alavanca e a abertura do paraquedas, passam cerca de quatro segundos apenas, segundo o engenheiro e professor de Instrumentação Aeronáutica, Paulo Lobo, ouvido pela revista Superinteressante. 

A aeronave envolvida no acidente desta segunda-feira em Campo Grande é um Super Tucano A-29 da Embraer, um avião de ataques leves, que entrou na mira até do Talibã. O valor estimado da aeronave vai de R$ 52 a 150 milhões.

Confira em vídeo o treinamento de um piloto se ejetando:

Como funciona?

1. Em uma situação de risco, o piloto decide sozinho quando ejetar. Ele então puxa uma alavanca conectada ao assento, dando início ao processo de ejeção.

2. Logo que a alavanca é acionada, um sistema na parte de trás do banco dá o impulso inicial da ejeção utilizando ar pressurizado e os trilhos conectados à fuselagem do avião. Quando o sistema é ativado, o banco do piloto desliza para cima por meio desses trilhos.

3. Ao mesmo tempo, a alavanca aciona um mecanismo de retração das alças ao redor das pernas do piloto. Essas alças, que ficam folgadas enquanto não há ejeção, seguram as pernas do piloto junto ao banco, evitando que elas se choquem contra alguma parte do avião na subida.

4. O teto de acrílico em cima do banco do piloto, o canopi, é disparado para fora automaticamente quando a alavanca é puxada, geralmente com a explosão dos parafusos que o prendem à aeronave. A força da corrente de ar se encarrega de tirar o canopi do caminho do assento.

5. Após o impulso inicial, os foguetes são acionados embaixo do banco. São eles que movem o assento para fora do avião.

6. Atrás do banco, há um sensor de velocidade e altitude que calcula a hora certa de soltar os paraquedas. Se o piloto estiver em uma altitude acima de 4.500 m, o sistema atrasa o lançamento. Se velocidade e altitude forem muito baixas (menos de 460 km/h e de 3.500 m), não há tempo de soltar o paraquedas estabilizador, e só o principal é liberado, por exemplo.

7. Guardados em um compartimento atrás da cabeça do piloto, os paraquedas são puxados para fora por um projétil atirado para cima. O paraquedas estabilizador mantém a posição vertical do assento, enquanto o principal suaviza a queda. As alças do artefato principal ficam presas ao piloto desde a decolagem, servindo como cinto de segurança.

8. Ao se aproximar do solo, o piloto aciona um comando manual que afrouxa as travas que o prendem ao assento, deixando o banco cair, mas mantendo um kit de sobrevivência que ficava preso ao banco por uma corda.

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Aeronave ficou destruída após impacto (Foto: Leitor Midiamax)

Acidente em Campo Grande

Conforme a FAB (Força Aérea Brasileira), o piloto se ejetou já nas proximidades de Campo Grande, após detectar a falha técnica na aeronave de caça, durante um voo de treinamento. O avião, então, foi direcionado para uma região desabitada, onde colidiu com o solo.

Com a queda, a aeronave acabou pegando fogo e o incêndio atingiu aproximadamente 10 hectares da fazenda, sendo controlado pelo e também por funcionários da propriedade rural. Ainda conforme a FAB, o piloto foi resgatado por um helicóptero H-60 Black Hawk do Esquadrão Pelicano e passa bem.

A ocorrência será investigada pelo Comando da Aeronáutica.