Com o coração maior que o porta malas do corsa que dirige, o cearense Renato Ferreira, de 38 anos, protagoniza gestos poucos comuns na sociedade cada vez mais individualista em que vive. Residente há 20 anos em , ele intercala intervalos do ofício de taxista, com o qual sustenta a família, para transportar, de graça, idosos que precisam tomar a vacina contra a Covid-19.

A generosidade de Renato se tornou pública nesta semana, depois de uma postagem feita em seu perfil do Facebook, mas está bem longe de querer mostrar para todo mundo que faz o bem a alguém. “Foi a maneira que encontrei de me colocar à disposição de quem realmente precisa, por isso publiquei aquele aviso”, conta o taxista de modo simples, olhar tranquilo e fala mansa.

Com sorriso tímido, quase à meia boca, Renato Cearense, como gosta de ser chamado, já pratica o bem há algum tempo. Entre uma volta e outra, ao longo desses oitos ano de profissão, já conhece a cidade como a palma da mão e, sempre que possível, arruma tempo para ajudar alguém.

Segundo ele, que trabalha no ponto que fica no estacionamento do Assaí Atacadista, a vida não é fácil para ninguém e não dá para saber o dia de amanhã. “A gente sabe que têm pessoas que estão com o dinheiro contado, que dá apenas para pagar a compra do mês e muitas vezes não sobra para o taxi. Se precisar, a gente ajuda, porque Deus nos dá tudo de volta”, conta o cearense que também é devoto de Padre Cícero.

Nascido em Penaforte, cidade que fica a pouco mais de 70 quilômetros de Juazeiro do Norte, terra do seu protetor, Renato Cearense adotou Dourados com um lugar para ganhar a vida e construir uma família. “Sai de lá com 18 anos e aqui conheci minha mulher com quem tenho um filho que já está com 10 anos. Dourados é uma cidade que dá para se viver bem”, comenta o douradense de coração, que já conseguiu quitar o taxi, mas ainda sonha com a casa própria.

Sem cobrar nada, taxista de MS usa o carro para levar idosos para tomar vacina contra a Covid-19
Taxista postou mensagem esta semana em seu perfil. (Foto: Reprodução/Facebook)

Espanto e curiosidade

Ele conta que depois que colocou o aviso na página do Facebook, tem recebido muitas ligações. Além de pedidos de ajuda, com corridas de até 5 quilômetros até os postos, algumas delas são de pessoas querendo saber se é verdade mesmo que ele se prontificou a transportar velhinhos para tomar a vacina.

“Muitos não acreditam. Parece até que estou fazendo uma coisa extraordinária, de outro mundo. Não é nada disso. Ajudar o próximo é uma coisa que qualquer pessoa pode fazer. É só começar e pronto. ”, incentiva Renato.

Mas a história do taxista de bom coração não causa só espanto e desperta a curiosidade. O bom exemplo já começa a criar lastro. Os três colegas que compartilham espaço com ele também já se apresentaram para auxiliar quando for necessário.  “Eles já me disseram que também estão dispostos a me substituir quando eu não estiver podendo e isso já é uma grande ajuda”, conta ele.