Fazendeiro assume incêndio em casa de indígena e diz estar ‘defendendo a propriedade’

Na tarde desta segunda-feira, o Cimi denunciou o ataque em uma área de retomada indígena nas proximidades da Reserva Federal

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar
Casa de palha localizada na retomada ficou totalmente destruída pelo fogo
Casa de palha localizada na retomada ficou totalmente destruída pelo fogo

O produtor rural Giovanni Jolando assumiu a autoria do incêndio a uma casa que abrigava uma família indígena, com três filhos, localizada na área de retomada (acampamento)  Avae’te. As imagens do ataque foram divulgadas na tarde desta segunda-feira (6) pelo Cimi (Conselho Missionário Indigenista).

De acordo com o produtor, que disse arrendar a área e que tomou a atitude após várias denúncias contra invasões do local. “Botei fogo sim porque o barraco estava dentro da área que sou arrendatário”. Segundo ele, alguns indígenas que estão acampados na região teriam destruído parte da sua plantação de milho.

A reportagem entrou em contato com um dos moradores da retomada que negou que algum indígena tenha dado início à agressão. “Nós é que estamos sendo atacados. Essa área pertence ao nosso povo e vamos insistir até conseguir comprovar que somos os legítimos donos”, explicou o representante da etnia Guarani Kaiowá que preferiu não se identificar para evitar represálias.

Segundo nota divulgada pelo Cimi, desde a semana passada, pelo menos três casas do povo Guarani Kaiowá foram queimadas por seguranças privados de fazendeiros no tekoha Avae’te, em Dourados (MS). O ataque mais recente ocorreu por volta das 11h da manhã desta segunda-feira (6).

“Quando chegou ali, deram tiro. E aí a criançada saiu da casa e correu, e a mãe também, o marido e as três crianças. Por isso que ele aproveitou, chegou lá e queimaram”, relata a Guarani Kaiowá, Kunha Redyi, também moradora do tekoha.

Os conflitos pela disputa de áreas entre indígenas e produtores rurais são antigos na região localizada nas proximidades da Reserva Federal. Entretanto, eles ficaram mais intensos desde o início do mês de janeiro de 2020, antes da pandemia, quando houve troca de tiros entre as partes envolvidas.

O clima ficou mais tenso no dia 3 de janeiro em Dourados, na áreaa denominada Nhu Verá Guassu,  durante confronto que começou na madrugada e deixou três indígenas e um segurança feridos. Os ânimos só voltaram a ficar mais calmos no final da tarde.

A reportagem do Midiamax entrou em contato com representantes da Funai (Fundação Nacional do Índio) e também da Força Nacional para falar sobre as providências que serão tomadas em relação à ocorrência desta segunda-feira (6), mas até o momento ninguém se manifestou.

Durante o confronto de 2020, que deixou quatro pessoas feridas, entre elas três indígenas e um segurança privado, tropa de choque teve que ser mobilizada.

 

 

Conteúdos relacionados