Mesmo sob protestos de moradores e lideranças da comunidade indígena Tey Kuê, na Reserva de Caarapó, cidade distante 273 quilômetros de Campo Grande, Tatiane da Silva Manoel, de 24 anos, que morreu nesta quinta-feira (28) e estava sob cuidados de uma outra pessoa, acabou enterrada em cemitério urbano.

Antes de receber a confirmação do sepultamento de Tatiane, familiares da vítima estiveram no Fórum de Caarapó, na manhã desta sexta-feira (29) para tentar reverter a situação. Bastante abalados com o caso, os pais da indígena fizeram manifestações no idioma da etnia Guarani Kaiowá e voltaram a pedir o que o corpo fosse devolvido à Reserva Indígena de Caarapó.

A decisão da Primeira Vara da Justiça de Caarapó para que o sepultamento fosse feito pela curadora da vítima e não pelos país, foi questionada pela Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, por meio do Nupiir (Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Povos Indígenas e da Igualdade Racial e Étnica).

“Entramos com recurso no Tribunal de Justiça de MS em nome da família e também da comunidade pedindo a exumação e devolução do corpo  para a aldeia Tey Kuê, da Reserva de Caarapó. Vamos debater isso até reverter ou não haver mais recurso”, explicou a coordenadora do Nupiir, defensora Neyla Ferreira Mendes.

“O enterro na comunidade de etnia Kaiowá,  além de ser um direito da família da vítima está vinculado às tradições indígenas. Isso é inconcebível. Quem decide onde ela deve ser sepultada é a comunidade dela e os parentes dela. Não é o juiz que decide isso”, contesta a defensora.

“Estamos todos abalados com esse caso desde que a Justiça alegou maus tratos de Tatiane, que estava sendo cuidada pela família e foi retirada de forma desumana da nossa comunidade. Agora com a morte dela, fomos surpreendidos com essa decisão da Justiça de Caarapó, que permitiu que ela fosse enterrada em ritual que contraria a cultura Kaiowá e ofende nossa ancestralidade”, relata o capitão da Aldeia Tey Kuê, Jorginho Soares.

Segundo o capitão, a comunidade não vai ficar calada diante de uma decisão que fere frontalmente o direito das populações indígenas. Para Jorginho, de 26 anos, que é estudante de Ciências da Natureza pela UFGHD, (Universidade Federal da Grande ), o que também causa indignação é que a (Fundação Nacional do Índio) ficou totalmente omissa.