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Cotidiano

#CG122: Do 1º ‘fecha tudo’ até a queda de casos, como o comércio de Campo Grande sobreviveu à pandemia

Caminho foi travado por aumento de casos, lockdown, protestos e flexibilização
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Durante a pandemia, fechamentos, lockdown e diversos termos científicos começaram a fazer parte da rotina do campo-grandense. Para quem depende do comércio para sobreviver, o temor constante por ter que fechar as portas para impedir o avanço do Covid-19 se tornou um sentimento rotineiro. Nesta reportagem você vai relembrar os detalhes desse período e também ver como o comércio sobreviveu ao período crítico. 

O prelúdio do que seria a crise do coronavírus para os comerciantes aconteceu no dia 19 de março de 2020, com a publicação do decreto municipal nº 14.200, que suspendeu o atendimento presencial ao público em estabelecimentos comerciais e o funcionamento de casas noturnas, realização de festas, eventos ou recepções.

A partir daquele momento, os moradores da Capital estavam divididos entre o cuidado necessário em razão do aumento do número de casos e a possibilidade de perder o emprego por conta da queda nas vendas. Até o mês de julho do ano passado, diversos decretos já tinham sido publicados levando em conta o avanço da doença.

Durante aquele mês, o comércio em geral não podia funcionar aos finais de semana. Além disso, o toque de recolher proibia a circulação de pessoas depois das 20 horas, com exceção dos serviços considerados essenciais e em casos de emergência.

Em uma das alterações, ficou permitido o atendimento presencial em sistema drive-thru em lanchonetes, bares e buffets aos fins de semana, mas com a proibição do consumo no local.

Em agosto, as flexibilizações ganharam mais corpo. Os shoppings já podiam abrir todos os dias, das 11 horas às 20 horas. As academias foram autorizadas a abrir de segunda a sexta-feira, das 5 horas às 20h30 e aos sábados, das 5 horas às 16 horas. Além disso, outros segmentos também foram incorporados no plano de reabertura.

Embate judicial

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Prefeito de durante a audiência (Foto: Leonardo de França / Jornal Midiamax)

Com a Capital vivendo a flexibilização de atividades consideradas não essenciais, enquanto os casos confirmados de coronavírus e mortes avançavam, a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul entrou com ação na Justiça pedindo a determinação de lockdown em Campo Grande por, no mínimo, 14 dias.

A gestão municipal não concordou com o pedido e o caso foi parar em uma audiência pública. Os comerciantes esperavam atentos ao desdobramento do encontro, e com pouco mais de duas horas de duração, a audiência entre Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul e Prefeitura de Campo Grande terminou sem acordo. Com a Capital seguindo sem a implantação de lockdown.

Um novo surto

Em março de 2021, com um ano de pandemia, bateu o recorde de pacientes internados por quatro vezes, em menos de uma semana, chegando ao número de 754 pessoas em leitos clínicos e de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). A situação era tão crítica que havia pacientes nos corredores do hospital de referência para Covid-19, o HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul).

Dessa forma, o Governo do Estado publicou um novo decreto, com toque de recolher mais rígido e começando a partir das 20 horas em MS. Aos fins de semana, serviços não essenciais, como o comércio e shoppings, só podiam funcionar até as 16 horas.

No dia 10 de março, o decreto já havia ‘vazado’ nas redes sociais, mas o Governo do Estado não liberou o documento logo pela manhã, como costuma acontecer. Sob forte pressão de empresários donos de bares, restaurantes e líderes religiosos, o Governo do Estado ‘aliviou’ alguns pontos do decreto. No documento inicial, por exemplo, os estabelecimentos não essenciais deveriam ficar fechados aos domingos. Com as mudanças, os locais poderiam funcionar até as 16 horas, assim como aos sábados.

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Faltava leitos no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (Foto: ilustrativa / Henrique Arakaki / Midiamax)

No dia 18 de março, Campo Grande foi classificada com a bandeira cinza e tinha risco extremo para transmissão do coronavírus em Mato Grosso do Sul. A Capital foi o único município classificado com a bandeira cinza no Estado. De acordo com os dados da época, em 24 horas, foram 31 mortes e 1,2 mil novos casos em MS.

Após reunião com secretariado, o prefeito Marquinhos Trad (PSD) descartou implantar lockdown em Campo Grande. Em contrapartida, para frear o avanço da pandemia na cidade, o prefeito determinou antecipação de feriados e a implantação de um fecha tudo.

Pedido de ajuda

Os comerciantes foram novamente pegos de surpresa no final daquele mês, com quatro cidades com risco extremo de coronavírus, superlotação de leitos UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e 178 pacientes aguardando vagas ficarem disponíveis. O Governo do Estado adotou novas medidas restritivas, restringindo o funcionamento de comércios não essenciais de 26 de março a 4 de abril.  No caso, as atividades que não foram listadas pelo Governo de Estado não poderiam funcionar no período estabelecido.

Exauridos pela sequência de decretos e restrições, diversos comerciantes, motoristas de aplicativo e empresários organizaram um protesto pedindo a revogação das medidas mais duras e a redução do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços), cobrado pelo Governo do Estado.

Os manifestantes foram até a sede da Governadoria, mas não obtiveram uma resposta do governador (PSDB). A carreata seguiu até a sede da prefeitura de Campo Grande, onde foram recebidos pelo prefeito Marquinhos Trad.

O alvorecer da esperança

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Grupo pedia por redução no ICMS e afrouxamento das medidas impostas pelo Governo do Estado (Foto: Marcos Ermínio)

Depois de meses conturbados para o comércio, os números da pandemia dão esperança para uma retomada econômica e sem fechamentos. Conforme a SES (Secretaria de Estado de Saúde), na manhã do dia 27 de julho, a taxa de ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de Covid-19 caiu para 60%. O Estado registrou uma média de 350 leitos ocupados nesta semana, enquanto a média da semana anterior era de 362 leitos.

A partir do dia 1º de agosto, Campo Grande implantou toque de recolher da meia-noite até as 5 horas. De acordo com os dados da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), até esta quarta-feira (4) de agosto, ao todo, 483.301 mil campo-grandenses já foram imunizados com a 1º dose da vacina contra o coronavírus, o que corresponde a 53,34% da população. Com a 2º dose ou dose única, 323.859 mil moradores foram imunizados, totalizando 35,74%.

Sobrevivendo aos fechamentos  

Para o vendedor Marcos Antônio Fontes, de 47 anos, os fechamentos representaram uma queda considerável nas vendas, que promoveram mudanças na estrutura da ótica. Não demitiram ou diminuíram o salário, mas tiveram que adiantar as férias. “Tivemos dificuldade no começo, mas como se diz, agora é começar do zero de novo. Deu pra perceber uma melhora nesses dois últimos meses”, disse ele.

Administrador de três lojas de bijuterias e acessórios, o gerente financeiro Djalma Santos, de 45 anos, sofreu para manter o quadro de funcionários e o faturamento positivo. “Tivemos que pegar financiamentos do governo pra poder segurar as pontas e houve demissão de cerca 50% do quadro pra ficar compatível com o volume de vendas”, afirmou Djalma.

Outro problema relatado foi o aumento do IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado). “O preço dos aluguéis reajustou e o prazo dos fornecedores diminuiu para no máximo 15 dias. Se tivesse acontecido outro lockdown provavelmente uma loja seria sacrificada”.

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Kelly Martins (Foto: Marcos Ermínio / Jornal Midiamax)

Com o aumento da vacinação e redução no número de casos, Djalma acredita que os próximos meses serão de recuperação para o setor. Depois de tanto sofrer, a gente começa a ver luz no fim do túnel. Pisando em chão firme nós podemos criar alternativas, estoque, promoções e readmitir funcionários, em 6 meses o cenário vai ser muito melhor”, finalizou.

No segmento do vestuário, a gerente Kelly Martins, de 35 anos, sofreu com o fechamento de uma das lojas, mas já enxerga um aumento tímido nas vendas. “Fechamos uma loja e o quadro foi reduzido. A gente enxerga uma melhora de 10% em julho, graças a Deus. Foi um período muito difícil, espero que melhore cada dia mais”, explicou.

Expectativa para o futuro

Conforme o primeiro-secretário da ACICG (Associação Comercial e Industrial de Campo Grande), Roberto Oshiro, as restrições acabaram gerando um certo medo na cabeça dos consumidor o que impede o consumo, dessa forma, o momento é visto com esperança para o setor. “O atual momento é satisfatório na medida em que você tem uma segurança maior da população, existe o sentimento de que com a vacinação isso vai se arrefecer. Como os números caíram significativamente, isso traz uma tranquilidade para todos e faz com que seja importante essa perspectiva de futuro na cabeça de consumidores e empresários. É um momento muito propício para esse retomada”, ressaltou.

Além disso, o representante do comércio também espera que as medidas de apoio divulgadas pelo Governo do Estado sejam cumpridas. “A expectativa é de que as medidas que foram anunciadas de incentivo e ajuda aos setores econômicos mais afetados, sejam cumpridas efetivamente. A gente observa que acontece o lançamento de um programa do governo e depois não chega na ponta. É importante que esse auxílio chegue para quem está precisando”.

Se preparando para a retomada, a associação também acompanha o andamento do Prodes (Programa de Incentivos para Desenvolvimento Econômico e Social de Campo Grande), que está em tramitação na Câmara Municipal.

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Crianças brincando na rua 14 de Julho (Foto: Marcos Ermínio / Jornal Midiamax)

Retomada dos eventos

Para a presidente da sociedade civil organizada Unidos Somos Mais Fortes, Elma Kátia dos Reis, de 25 anos, grupo de empresários e representantes do setor de festas e eventos, com mais de 250 membros, que interagem e conversam sobre as estratégias e protocolos para reabertura, o momento é de preparação e ansiedade.

“Nós enxergamos o momento com satisfação e estamos ansiosos. Acreditamos que a retomada total acontecerá até setembro sem restrições de horários e públicos, porque hoje o setor está gritando por socorro. Hoje, nós conseguimos manter a estrutura, agora pra gente pensar realmente em melhorar e restituir o que perdemos, precisamos voltar para 100% da capacidade”, explicou.

Elma também reforça que o setor está preparado para a retomada do funcionamento pleno com total biossegurança. “Temos apoio do e da Hse Segurança e Medicina do Trabalho, temos organizado diversos cursos de biossegurança e treinamentos, com empresários e as equipes que nos prestam serviço. Hoje, todas as empresa têm aparelhos de aferição de temperatura, totens de álcool em gel, placas de orientação no salão. Os convidados usam luvas individuais para se servir no buffet e o uso da máscara é obrigatório”, disse ela.

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