Com uma celebração que estava adormecida há mais de 28 anos, homens e mulheres das aldeias indígenas Jaguapiru, Bororó e Panambizinho, na Reserva Federal de , distante 225 quilômetros de Campo Grande, ocuparam a Casa de Reza neste domingo (15).

O ritual denominado ‘Xiru Jejohéi', que significa banho do Xiru (objeto sagrado), é realizado para pedir proteção contra males que rondam as comunidades, entre eles a pandemia do coronavírus e a onda de violência, foi conduzido pelo cacique Getúlio de Oliveira, da Aldeia Jaguapiru.

“Esse banho de quatro xirús, que não fazíamos há quase 30 anos, é para espantar doenças como a pandemia que matou muita gente nas nossas aldeias e também nas nossas cidades. Essa água do ritual, que não pode pingar nenhuma gota no chão, será usada para remédio contra os males que assombram a nossa gente”, contou Getúlio ao Midiamax.

De acordo com o rezador, o ritual é uma herança dos antepassados e está sendo utilizada diante da necessidade de evocar boas energias para a comunidade que vem sofrendo com o coronavírus e também com a violência impulsionada pelo consumo abusivo de álcool e que acabou causando mais uma tragédia na Reserva, que foi o estupro seguido de morte da menina Raíssa da Silva Cabreira, de apenas 11 anos.

Seu Getúlio, rezador da Aldia Jaguapiru, comandou ritual contra males da pandemia e onda de violência, neste domingo. Foto: Franz Mendes

 

Segundo o pesquisador da (Universidade Federal da Grande Dourados), Neimar Machado de Sousa, a realização deste ritual do ‘Xiru Jejohéi', 28 anos depois na Reserva, indica uma comunidade que “reafirma e se orgulha de sua identidade distinta da nacional, e que também se sente fortalecida e segura espiritualmente, além de reforçar a língua, o canto e a cultura”.

Outro aspecto, no entendimento do pesquisador, é a necessidade de as lideranças espirituais das aldeias recorrerem aos saberes e conhecimentos tradicionais para garantir a saúde da comunidade em tempos de pandemia.

“O ritual realizado nesta madrugada de domingo, na Casa de Reza Gwyra Nhe'engatu Amba, é um ato de resistência e desejo de sobrevivência de uma comunidade que se levanta e se prepara para o pós-pandemia”, explica o pesquisador, ressaltando a afirmação cultural como forma de pedir proteção às forças divinas, conforme as tradições culturais guarani.