Com nova chuva e girinos aos montes, moradores da Aguadinha temem que comunidade se transforme em brejo

Vigas improvisadas, lonas no lugar de telhados, arames farpados utilizados como varais, são reflexos da dura realidade enfrentada pelos moradores da comunidade “Águadinha”, região periférica do Bairro Noroeste. O nome do local, que não surgiu atoa, é um resumo do maior problema enfrentado pelos moradores de lá, a água, ou melhor dizendo a chuva, que […]

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Vigas improvisadas, lonas no lugar de telhados, arames farpados utilizados como varais, são reflexos da dura realidade enfrentada pelos moradores da comunidade “Águadinha”, região periférica do Bairro Noroeste.

O nome do local, que não surgiu atoa, é um resumo do maior problema enfrentado pelos moradores de lá, a água, ou melhor dizendo a chuva, que não deu trégua nos últimos dias em Campo Grande gerando a “maternidade” de um futuro brejo.

A “chuvinha” que muitos consideram perfeita, se torna um tormento para os moradores da comunidade, que se sentindo esquecidos pelo poder público, contam com a ajuda dos vizinhos para terem um teto.

Com nova chuva e girinos aos montes, moradores da Aguadinha temem que comunidade se transforme em brejo
Fabiano Moreira Soares falando sobre o problema com girinos. (Foto: Henrique Arakaki/Midiamax)

Fabiano Moreira Soares, 33 anos, nos recebe relembrando da última vez que conversou com a reportagem. Ele teve sua casa tomada pela água após uma forte chuva em 2020, mesmo água que deixou seus móveis, mas agora, tirou a vida de seu cachorro.

“Começou a chover e alagar, então eu fui lá na esquina para abrir uma viga para a água escorrer, meu cachorro estava aqui pra fora e entrou pra dentro de casa, ele se escondeu embaixo da cama e acabou preso, quando a água entrou dentro de casa, ele acabou se afogando”, relembra Fabiano, já sem revolta, apenas conformado com o abandono enfrentado.

Mesmo abandono que gera revolta em William Soares, 53 anos, que expressa se descontentamento com o poder público. “Aqui ninguém liga pra gente, os políticos somem, as pessoas não ligam, são os vizinhos que cuidam um do outro, a gente dá uma lona pra um, ajuda com a reforma de outro e assim vai”.

Voltando aos girinos

Fabiano conta que uma equipe, que ele acredita ser da prefeitura, esteve no local, para uma obra que acabaria com as enchentes, “na verdade nem foi obra, eles cavaram um buraco aqui na frente de casa, agora a água não invade tanto, mas forma um monte de poça”.

Ao falar das poças, Fabiano faz questão de mostrar as lavas de mosquitos e girinos na água, já anunciando um novo problema que será enfrentado em alguns meses, uma invasão de sapos, transformando a já machucada comunidade em um verdadeiro brejo, além dos possíveis casos de dengue.

“Eu até estou fazendo uma saída da água, tentando que essas poças acabem né, mas aí chove e acaba com tudo que eu fiz, aí ficamos nessa. Antes a água vinha da esquina e ia invadindo as casas, agora, depois que fizeram a obra, ela não vem mais da esquina, vem do fundo das casas dos outros moradores, grande parte para aqui mesmo e o que não escorre forma essas poças”, comentou.

Efeito controlado após a ajuda pública, “realmente agora é mais difícil para a água invadir, mas forma essas poças e quando mais você desce, mais aparece casos de cobras e escorpiões, que saem do mato na chuva e entram nas casas”, disse Fabiano.

“Eu mesmo já matei uma cobra aqui em casa”, comentou Fabiano, “Eu já vi três na minha casa”, confirmou Willian. Com a situação relatada, a reportagem foi até as residências mais próximas da vegetação e a situação foi reatada exatamente como descreveu os dois.

Com nova chuva e girinos aos montes, moradores da Aguadinha temem que comunidade se transforme em brejo
Veraci dos Anjos conversando com a reportagem. (Foto: Henrique Arakaki/Midiamax)

Veraci Feliciana, 50 anos, também já acostumada a falar com a imprensa após chuvas fortes relembra da última vez que jornais foram até sua casa e mostra orgulhosa como conseguiu reconstruir seu “cantinho”, como ela mesmo gosta de chamar.

“A gente ficou sem nada, agora montei minha varandinha e consegui meus móveis”, comentou Veraci com um sorriso no rosto e fazendo questão de demonstrar seu agradecimento a Deus e seus vizinhos, considerando-os essenciais para a reconstrução do local.

Questionada sobre os animais, a moradora reflete e relembra de uma cobra que quase picou sua neta de apenas 4 meses, “agora a chuva não alaga mais, até enche, mas não como era antes, em compensação aparece um monte de bicho”, comentou a moradora.

“A gente estava dormindo, quando minha neta sentiu a cobra e chamou o pai dela, na hora que eu vi dei um pulo e saí de dentro da casa com as crianças, o meu genro ficou com medo, mas acabou matado a cobra”, relembrou.

Problema esse desagradável para qualquer pessoa e que se torna ainda mais perigoso, quando todos dormem sem camas, com os colchões no chão.

Ao lado da vegetação, tendo o terreno baldio quase como um quintal, a jovem Chelda Cruz Eba, 20 anos, explica já ter vistos diversos animais e sua casa, como cobras, escorpiões e lacraias, situação não muito relevante para ela.

“Aparece aqui, vários animai, porque eu moro ao lado do mato, mas antes eu vivia embaixo de lona, não tinha teto, então é melhor assim”, disse Chelda com medo de mostrar toda a casa, por conta de incerteza de ser despejada.

Com nova chuva e girinos aos montes, moradores da Aguadinha temem que comunidade se transforme em brejo
Fundo da casa de Chelda Cruz Eba, ao lado de terreno baldio. (Foto: Henrique Arakaki/Midiamax)

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