Recentemente os campo-grandenses se depararam com uma novidade inclusa nos aplicativos de caronas pagas: as viagens com motos. A nova opção torna a viagem de um ponto para outro da cidade ainda mais barata e rápida, além de abrir o leque de opções para os consumidores. Apesar do serviço já estabelecido em outras capitais agradar à população, uma parcela dos motoqueiros de Campo Grande não parece muito satisfeita. Prejudicados financeiramente, os mototaxistas não escondem o descontentamento com a novidade.

Enquanto muitos preferem o silêncio ao comentar sobre o que pensam do novo serviço oferecido pelo aplicativo, outros discordam da medida por falta de exigências para a nova modalidade. 

Ao lado de colegas, Neide de Freitas, 58 anos, comenta que a queda na receita após a chegada das caronas pagas com moto diminui consideravelmente, “se fosse falar de cabeça, uns 60%, mais da metade da minha renda acabou”, comenta. Para ela, a diminuição das viagens é a soma de vários fatores e a chegada da nova categoria no aplicativo foi o estopim para uma crise já antiga.

Neide de Freitas revela que irá se cadastrar no aplicativo. (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

“Olha, quando os aplicativos chegaram já deu uma boa queda porque, mesmo sendo mais caro que um mototáxi, você consegue ir em vários no carro e dividindo fica mais barato. Ainda tínhamos as corridas de apenas uma pessoa que ajudava, agora com esse ‘ moto' aí, ficou mais complicado ainda”, comentou.

“Verdade”, “isso mesmo”, diziam os colegas de Neide ao final de cada frase, para reforçar o sentimento coletivo gerado pelo assunto. Sem soluções e precisando trabalhar, a revela – com descontentamento, por ser sua única saída –  que irá comprar uma motocicleta e passará a realizar as viagens pelo aplicativo.

“É o jeito, porque é impossível competir com os preços do aplicativo, mas é melhor a gente receber menos e recebermos as corridas, do que cobrar mais e ficarmos parados”, pontuou a profissional.

Falta de preparo

Mesmo apontando a concorrência de valores como um dos fatores que indignam a categoria, outro ponto que, além de descontentamento, gera revolta entre os profissionais é a não exigência do aplicativo por qualificação específica para o transporte de pessoas.

Mototaxistas esperam por corrida em Campo Grande. (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

“Não pode esquecer de falar da falta do curso”, comentou um mototaxista ao ouvir a conversa. “Ainda tem isso, nós fazemos curso, a cada cinco anos precisamos mostrar que estamos aptos a transportar pessoas. Nós estamos carregando vidas, não é um objeto ou alimento, esses aplicativos não exigem nada disso”, disse Neide. “Você andaria com alguém não qualificado?”, questionou.

O assunto também é alvo de críticas do Sindimototáxi (Sindicato dos Mototaxistas), que alerta sobre a falta de exigência de qualificação por parte do aplicativo e trata o assunto como “preocupante”. Para o presidente do sindicato, Dorvair Boaventura, esse deve ser o principal ponto a ser discutido.

“Olha, nós não somos contra o aplicativo, contra as viagens de moto, na verdade, nós somos favoráveis a tecnologia, a modernizada. O grande problema é sobre a falta de capacitação”, explica Boaventura. “As pessoas que utilizam o transporte de motocicletas, sabem que é um veículo de auto risco, quando você se propõe a transportar uma carga já corre um risco, imagina transportar uma vida”, complementa.

“Eu acho bacana a chegada do aplicativo, nós até incentivamos que os profissionais utilizem o serviço em paralelo com a atividade, mas é preciso de regras. Eu vejo uma grande preocupação. A medida é válida, mas com algum tipo de qualificação não somos contra aquilo que moderniza a vida das pessoas, mas somos contra a forma que isso chega ao nosso estado”, finaliza Dorvair.

Em nota, a Uber alega que suas atividades não se enquadram aos requisitos de autorizações exigidas de empresas de transporte. “A Uber desenvolve um aplicativo que conecta parceiros que dirigem os próprios veículos a usuários que desejam se movimentar pelas cidades, em acordo aos Termos de Uso da plataforma”.

“Na modalidade Uber Moto, parceiros contratam o aplicativo para realizar transporte privado individual em motocicletas, atividade prevista na Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei Federal 12.587/2012) e distinta de categorias de transporte público individual em motocicletas, como o mototáxi, regidas por legislação específica”, complementou a empresa através de sua assessoria.