Vans, ônibus e até caronas podem ajudar a espalhar coronavírus a partir de cidades com surtos em MS
O transporte informal e o clandestino entre cidades de MS guarda uma nova trincheira para as autoridades em MS. Isso porque, mesmo com surtos em cidades de interior e também na Capital, a circulação de vans e micro-ônibus sem regulamentação, além de taxistas, motoristas de aplicativo e de “caronas amigas” acabam burlando o controle sanitário […]
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O transporte informal e o clandestino entre cidades de MS guarda uma nova trincheira para as autoridades em MS. Isso porque, mesmo com surtos em cidades de interior e também na Capital, a circulação de vans e micro-ônibus sem regulamentação, além de taxistas, motoristas de aplicativo e de “caronas amigas” acabam burlando o controle sanitário dispensado nos meios de transporte legalizados.
Nas redes sociais como Facebook e WhatsApp, por exemplo, o oferecimento de carona com “ajuda” – quando os passageiros custeiam parte da despesa da viagem, segue ocorrendo na normalidade de antes. Nessa forma de transporte, não há qualquer garantia de que passageiros utilizem máscaras, usem álcool em gel, tenham temperatura aferida ou que o veículo seja desinfectado após cada trecho. Cada veículo torna-se um perigo ambulante, que pode transportar o novo coronavírus a regiões até então livres da doença.
A situação guarda tanto um subdimensionamento do fluxo de pessoas entre as cidades – inclusive entre cidades que enfrentam surto da doença, como Três Lagoas, Brasilândia, Jardim e Guia Lopes da Laguna – como a violação sistêmica do isolamento domiciliar repetidamente exigido pelas autoridades sanitárias. Nesta semana, um arquivo de áudio de WhatsApp, atribuído a uma enfermeira de Guia Lopes da Laguna, narra a ida de uma gestante ao município, para visitar um familiar que tinha diagnóstico positivo para a Covid-19.
Segundo o áudio, a gestante teria retornado de van a Campo Grande e manifestado sintomas gripais. A reportagem não conseguiu confirmar a autoria, mas a situação expõe o problema que a migração de pessoas em meio à pandemia pode ocasionar.
Ao Jornal Midiamax, o prefeito de Guia Lopes da Laguna, Jair Scapini, destacou que o problema do transporte clandestino, principalmente as caronas, fogem do controle do município que enfrenta o pior surto da doença em MS. “A cidade é cortada pela BR-060, e a gente não pode impedir os carros de passarem. Há muitos serviços de vans na cidade, ou de outras regiões, que passam por aqui. Estamos monitorando esses serviços, falando com as pessoas, mas esse controle [com os ilegais] foge do nosso alcance”, conclui.
Fiscalização
O transporte intermunicipal está autorizado em MS durante a pandemia do novo coronavírus. Desde o início da pandemia, a imposição de limitações à circulação varia de acordo com cada prefeitura – Campo Grande, por exemplo, chegou a fechar a rodoviária da cidade por cerca de um mês, autorizando a reabertura desde o último dia 25 de abril apenas do transporte intermunicipal.
Os serviços legalizados também seguem exigências estipuladas pela Agepan (Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos): devido à pandemia, todo o transporte intermunicipal regulamentado foi disciplinado a operar com limitação de passageiros, com uso obrigatório de máscaras, utilização de álcool em gel no embarque e desembarque, além de higienização completa do veículo.
No caso do transporte de passageiros feito por vans, também regulamentados pela agência, ha basicamente duas cooperativas. Desde a sexta-feira (8), quando Guia Lopes da Laguna adotou lockdown, a van que saia da cidade parou de circular, de acordo com a Coopertrapte (Cooperativa de Transportes Alternativos de Passageiros, de Frete Contínuo e Eventual de MS). Não há previsão de retorno.
O problema, portanto, mora justamente nas alternativas, de vans à caronas amigas que realizam o trajeto de maneira informal e ilegal e, portanto, sem seguir as normativas.
Uma comunicação da Agepan traz que, no período em que o transporte rodoviário ficou praticamente parado, entre março e abril, o monitoramento foi feito de forma remota. A fiscalização in loco foi retomada desde o último dia 7, antes do Dia das Mães, nos postos da PRF (Polícia Rodoviária Federal).
“A fiscalização está dando ênfase ao combate ao transporte clandestino, a partir de diversas denúncias que têm chegado à Agência. Ao mesmo tempo, ocorre a verificação do cumprimento dos procedimentos que tratam do controle da disseminação do novo coronavírus, que têm que ser adotados pelos transportadores legalizados. Concessionárias e autônomos do sistema só podem rodar se estiverem seguindo rigorosamente os protocolos de biossegurança estabelecidos pelas autoridades de saúde”, traz a comunicação da Agepan.
Segundo a agência, as operações foram iniciadas às 5h30 da última quinta-feira (7), nos seguintes trechos: BR-262, em Terenos; BR-163, em Dourados; e em dois trechos da BR-060, em Guia Lopes da Laguna e Sidrolândia. Há, ainda, um ponto de fiscalização na BR-262, em Três Lagoas. Durante as abordagens, constatou-se que os operadores, inclusive autônomos legalizados (vans e micro-ônibus), seguiam as determinações de biossegurança.
Sobre o transporte clandestino, a Agepan informa que de 1º a 6 de maio, houve relatos de táxis clandestinos e até de motoristas de aplicativo que cobravam R$ 50 por pessoa, no transporte em distâncias curtas partindo de Campo Grande, com destino à Sidrolândia, Bandeirantes e Rochedo. “Partindo de Corumbá, Miranda e Aquidauana, e de Nioaque e Jardim, as denúncias apontam para clandestinos oferecendo viagens sob alegação de ‘carona amiga’, em horários diversos”, complementa a nota.
Há, ainda, as barreiras sanitárias, que conseguem abarcar passageiros em carro de passeio. Até a última sexta-feira (8), as 17 barreiras sanitárias instaladas pela Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) haviam apordado 490.148 pessoas dentro de 244.295 veículos, a maior parte em Três Lagoas, um dos acessos do Estado de São Paulo a MS, onde 114.522 pessoas.
Em Bataguassu, foram 111.226 abordagens em 52.792 veículos. Em Guia Lopes, foram 68 abordagens na barreira sanitária até o dia 8. Em cada abordagem, é consultada origem, se houve contato com caso confirmado e aferição de temperatura.
Transporte legalizado
A concessionária que administra a rodoviária de Campo Grande, a Socicam, destacou que a circulação média de veículos no Terminal Rodoviário Antonio Mendes Canale sofreu queda de aproximadamente 97%. “Ressaltamos que a operação do empreendimento segue parcial, com o retorno de apenas viagens rodoviárias intermunicipais, que correspondem a 50% da circulação dos ônibus”, traz nota enviada ao Jornal Midiamax.
A concessionária também destacou que o Plano de Contenção de Riscos, apresentado à Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) segue em execução e determina que funcionários da concessionária realizem aferição de temperatura corporal dos usuários por meio de termômetros infravermelhos.
“Pessoas com temperatura acima de 37,5 graus são acolhidos e o serviço de emergência é acionado. Álcool gel também está sendo disponibilizado para o uso do público que chega ao terminal”, afirma a Socicam, que também destacou a obrigatoriedade do uso de álcool em gel, distanciamento mínimo e uso obrigatório de máscaras.
O Jornal Midiamax também consultou os transporte alternativo legalizado. Na Coopervans do Pantanal e na Cooptrape, que funcionam na região da antiga rodoviária, na região central de Campo Grande, as medidas de biossegurança seguem sendo implementadas.
“Fazemos a higienização dos ônibus do chão ao teto com álcool 70. Os passageiros só podem embarcar de máscara e só podem ocupar 50% da lotação máxima. São, no máximo, 8 passageiros. É preciso higienizar as mãos com álcool em gel ao embarcar. A baque financeiro foi grande, porque a cidade fechou por duas semanas. A diferença é que a gente atende por agendamento”, relata Carlos Chaves, de 55 anos, proprietário do Expresso Maracaju.
A procura por vans em detrimento dos ônibus ocorre não só devido ao fechamento da rodoviária, mas também pela comodidade. Frank Joner, de 23 anos, que veio de Dourados a Campo Grande e que aguardava uma van com destino a Dourados, destacou receio de contaminação, mas considera o transporte mais “tranquilo”.
“A van pega a gente em casa, tem mais comodidade. Receio eu tenho, mas não vem cheio, são no máximo 8 pessoas e oferecem álcool em gel aos passageiros. Vou resolver um problema familiar em Corumbá”, revelou.
Também passageiro, o aposentado José Mario, de 65 anos, desembarcou de avião em Campo Grande, vindo do Rio de Janeiro, e seguirá rumo a Três Lagoas de van. “Fui visitar minha mãe antes da pandemia, no Rio de Janeiro. Acabei ficando ‘preso’, pois não tinha mais avião direto para Três Lagoas, como na ida. Receio eu tenho [da doença], até porque no Rio de Janeiro a coisa está bem séria”, conclui.
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