Desde o início da pandemia, usuários do transporte coletivo têm denunciado uma série de violações das medidas de biossegurança para prevenir contágio do novo coronavírus e que deveriam ser colocadas em prática pelo Consórcio Guaicurus. Depois de relatar o medo da contaminação em uma entrevista, um campo-grandense desistiu dos ônibus, comprou uma bicicleta e agora percorre 24 quilômetros de bicicleta por dia, para não se submeter aos riscos do coletivo lotado.

O manobrista Walmir Matos, de 56 anos, conta que cada viagem dentro do ônibus era um risco para a saúde dele e da sua família. Ele pegava a linha 313, no bairro Jardim Ouro Verde, que constantemente chegava lotada no Terminal Bandeirantes. Além disso, os atrasos de mais de 30 minutos eram frequentes, gerando transtorno e demora para chegar no trabalho.

Já no terminal, a situação caótica se repetia nas linhas 80/81, sem distanciamento nas filas e com veículos completamente lotados. “Deviam colocar os ônibus para rodar com toda a frota, preservar a vida das pessoas, até a chegada da vacina, e não o dinheiro”, desabafou.

Para fugir do ônibus lotado em Campo Grande, Walmir comprou bicicleta e pedala 24 km por dia
(Walmir Matos pedala 24 km por dia /Foto: Leonardo de França)

Diante desse cenário de descaso com a saúde pública e a população, Walmir se viu obrigado a procurar uma saída, para não colocar mais em risco a sua esposa de 61 anos e seu neto de 4 anos.  No sábado (29), ele comprou uma bicicleta para realizar o trajeto de 12 km até o seu destino. Ao todo, ele pedala cerca de 24 km por dia para ir e voltar do trabalho.

Como vários campo-grandenses que utilizam o transporte coletivo, o manobrista se sente lesado pelo Consórcio Guaicurus, devido à falta de segurança. “Me sinto logrado, eu pago o vale transporte e não sou respeitado como cidadão. Prometem um monte de benefícios e não cumprem”, disse ele.

Para os membros da classe trabalhadora, as escolhas estão sempre presentes no cotidiano. Assim como muitos brasileiros, foi necessário adiar um compromisso para priorizar outro. “Tinha dinheiro para pagar uma conta, mas tive que redirecionar para comprar a bicicleta e cuidar da minha vida”.

Independente das dificuldades, Walmir se sente aliviado e contente com o novo meio de transporte. “Estou mais feliz, venho sozinho e sem o perigo de pegar o vírus no ônibus, além de estar fazendo exercício”.

Na mira da Justiça

O desembargador Marcelo Câmara Rasslan determinou na última sexta-feira (29) que o Consórcio Guaicurus regularize diversas falhas de biossegurança contra o coronavírus (Covid-19) apontadas pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), no prazo de 10 dias, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. A decisão atinge também a Agetran (Agência Municipal de Trânsito).

Na decisão, o relator argumentou que as medidas solicitadas são “de certa forma simples e podem ser implementadas sem maiores prejuízos à parte recorrida, pois visam efetivamente combater a contaminação da população”.

Em seguida listou as ações: “evitar aglomerações, manter o distanciamento nas filas, instalar dispensadores de sabão para lavagem das mãos, reduzir o excedente de passageiros para adequação à capacidade permitida a cada veículo, regularizar a utilização de bebedouros para evitar a contaminação dos usuários, assim como a falta do uso de máscaras, a ausência de fiscalização das medidas preventivas e de orientação às pessoas, dentre outras”.

A ação tramita na 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.