Paciente perde transplante de rim porque Reinaldo usou avião do Governo de MS em viagem a SP
Esperar por um órgão que pode mudar e na maioria dos casos salvar a vida de uma pessoa é a realidade para mais de 300 pessoas que estão na fila de transplantes em Mato Grosso do Sul. Uma dessas pacientes pensou que a espera de quase 1 ano iria acabar nesta semana, no entanto, a […]
Aliny Mary Dias, Gabriel Maymone, Danielle Errobidarte –
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Esperar por um órgão que pode mudar e na maioria dos casos salvar a vida de uma pessoa é a realidade para mais de 300 pessoas que estão na fila de transplantes em Mato Grosso do Sul. Uma dessas pacientes pensou que a espera de quase 1 ano iria acabar nesta semana, no entanto, a tão aguardada cirurgia de transplante não foi realizada porque a aeronave que seria usada para levar a paciente até Curitiba, onde o transplante seria feito, estava ocupada pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Eliete Contini da Silva é renal crônica e desde outubro do ano passado está na fila à espera de um rim. Ela sobrevive graças a sessões de hemodiálise semanais. Ela conta que no início desta semana recebeu uma ligação da Central de Transplantes de Mato Grosso do Sul informando que, enfim, a espera dela poderia acabar. Um rim que poderia ser compatível com Eliete estava à disposição no hospital Angelina Caron, localizado em Curitiba, capital do Paraná.
Naquele momento, a alegria tomou conta de Eliete e da família, que fez todos os preparativos para ficar apta para a viagem e o transplante. Pouco mais de 1 mil quilômetros separavam a paciente do órgão que poderia livrá-la das máquinas de hemodiálise e devolver a ela qualidade de vida.
Em contato com a Central de Transplantes, a paciente foi orientada sobre todos os procedimentos que deveria fazer para conseguir o transplante. Primeiro, Eliete foi submetida a um teste rápido do coronavírus, que deu negativo e a deixou apta para a viagem. Ela deveria estar em Curitiba até às 18h30 da última quarta-feira (2).
O deslocamento de Eliete de Campo Grande para Curitiba seria feito por meio de uma aeronave disponibilizada pelo Governo do Estado. O transporte aéreo ficaria por conta da Casa Militar de Mato Grosso do Sul.
Pouco tempo antes do embarque, segundo a paciente, ela recebeu uma ligação da Central de Transplantes do Estado
informando que não poderia viajar porque a aeronave que a levaria para Curitiba estava sendo usada pelo governador Reinaldo Azambuja.
“Na última hora me falaram que o governador estava usando o avião e que eu não poderia fazer a viagem. Foi cruel, nem digo que foi triste, foi cruel”, desabafa a paciente.
Sem conseguir embarcar, Eliete perdeu a cirurgia e o órgão foi repassado para outro paciente.
Sem avião
Em entrevista ao Jornal Midiamax, a coordenadora da Central de Transplantes, Claire Miozzo, confirmou que o procedimento para o transplante de Eliete não ocorreu por falta de aeronave. Segundo a coordenadora, nesses casos em que os aviões da Casa Militar do Estado estão em uso, o caso é repassado para outro setor, que se responsabiliza por realocar o paciente em um voo comercial.
No caso de Eliete, quem seria, então, responsável por encontrar uma maneira de levá-la para Curitiba seria o setor chamado de TFD (Tratamento Fora de Domicílio). O Jornal Midiamax entrou em contato com o setor, mas nenhuma ligação foi atendida até a publicação da reportagem.
A reportagem também questionou o Governo do Estado sobre qual agenda Reinaldo Azambuja cumpria no Estado de São Paulo na quarta-feira (2), já que não houve divulgação em veículos oficiais e nem nas redes sociais do governador sobre qualquer compromisso público naquele estado.
Casa Militar
A utilização de aeronaves do Governo do Estado no transporte de pacientes que precisam de transplante ou de órgãos que podem salvar vidas em outros estados começou em 2018 e tem sido até divulgada pelo Governo.
Em julho deste ano, o Estado informou que cinco transportes de pacientes e órgãos foram feitos por meio das aeronaves da Casa Militar. Apesar de não ser a finalidade principal dos aviões, eles passaram a ser destinados para esse tipo de serviço quando não estão em uso.
Na época, o Governo afirmou que esse tipo de transporte era a “única saída” para pacientes por conta de horários de voos comerciais reduzidos por parte das companhias aéreas, em razão da pandemia do coronavírus.
O que diz o Governo
Em resposta ao Jornal Midiamax após a publicação da reportagem, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) afirmou que lamenta o ocorrido e que o setor de transplantes é tratado como prioritário pela secretaria. Ainda conforme o Governo, o pedido para aeronave por parte da paciente ocorreu às 10h43 da quarta-feira (2).
O Governo também nega que Reinaldo Azambuja estivesse na aeronave que estava sendo ocupada pelo Estado. O Governo argumenta que o avião estava em São Paulo para buscar testes do coronavírus.
“No caso em questão a paciente enviou o documento de comprovação de transplante às 10h43. Os voos comerciais disponíveis para Curitiba eram às 11h e 17h. Não havendo tempo hábil entre a solicitação e a disponibilidade de voo comercial para paciente chegar a tempo para o transplante”.
A paciente, no entanto, afirma que o único voo comercial que poderia fazer com que ela chegasse até Curitiba no horário limite previsto para a cirurgia era o das 11h50, contudo, não havia assento disponível no voo. “Eles me deram essa opção do voo de 11h50, mas ele estava lotado, não tinha como eu ir. O das 17 horas não adiantava mais porque eu chegaria depois do horário da cirurgia”, completa Eliete.
*Matéria alterada às 17h32 para acréscimo de posicionamento.
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