Enquanto caminhões e patrolas da Prefeitura de realizaram a remoção de materiais usados na construção de barracos na área da antiga favela Cidade de Deus, que havia sido ocupada na segunda-feira (27), o secretário municipal de Segurança e Defesa Social, Valério Azambuja, rebatia acusações sobre agressões de guardas civis metropolitanos contra invasores e reforçava que a ação era resultado de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul).

“Invasão é crime, é esbulho possessório. Essa área tem um ajustamento lá de trás, era para estar tudo com eucalipto”, afirmou Valério ao Jornal Midiamax, lembrando que, quando da desocupação da favela Cidade de Deus, foi decidido que a área se tornaria uma cortina arbórea que funcionaria como contenção ambiental para o . “A prefeitura está cumprindo um TC com o Ministério Público”.

Nesta quarta-feira (27), pela manhã, a prefeitura providenciou novamente a remoção das famílias, após tentativas de negociação que incluíram proposta para que se abrigassem em uma escola na região –rejeitada pela grande maioria. Tentativa anterior resultou no retorno dos invasores logo depois de as equipes da prefeitura deixarem o local.

“Para algumas pessoas, foi proposto ficar na escola. Os que têm interesse devem se cadastrar na SAS [Secretaria Municipal de Assistência Social para procurar o atendimento”, explicou o titular da Sesdes. Ainda pela manhã, moradores relataram terem sido removidos à força do local, alegando que perderam o que tinham na desocupação e alegando terem sido feridos com balas de borracha. Bombas de efeito moral também teriam sido usadas.

“Não houve agressão. A Guarda [Civil Metropolitana, que conduziu a ação] reagiu mediante ataques e fez disparos de segurança [para dissipar os invasores]”, sustentou Valério.

Invasores ameaçam guardas municipais com facas e fogem, afirma subcomandante

Já durante a tarde, com a retirada dos materiais por caminhões da prefeitura, os trabalhos foram conduzidos normalmente em quase todo o período de execução. O subcomandante da GCM, Valmir Ferreira, relatou que, ao final, alguns invasores ameaçaram guardas com facas. “Mas quando a equipe foi até eles, jogaram as facas e fugiram”, disse. “Em momento algum usamos a força”, prosseguiu. Ninguém foi preso.

Ferreira informou que foi até os manifestantes a fim de apurar a razão de haverem menores presentes na ocupação. A dona de casa Maria Paula, 24, participante da ocupação, disse à reportagem que um grupo de crianças ficou posicionado em uma casa que serviria de suporte aos moradores e não fazia parte da invasão.

Paula relatou uma situação comum entre os entrevistados pela reportagem ao ser questionada sobre os motivos que a levaram a participar da ocupação. “Moro de aluguel em uma casa e tenho 2 crianças, de 8 e 3 anos. E não tinha mais condições de pagar porque eu e meu marido estamos desempregados”, disse. Segundo ela, durante a tarde, a força-tarefa “chegou derrubando tudo, só deu tempo de pegar as crianças. Chegaram mirando para atirar”.

Também do lar, Geisiane Garrida, 29, disse morar de favor. Também com duas crianças, de 6 e 9 anos, e desempregada, afirma que perdeu “o pouco que tinha e tive de sair correndo”. “Chegaram arrebentando tudo”. Da mesma forma, o pedreiro Johny Peterson, 23, disse que construía o barraco para morar com a mulher, grávida de 2 meses. Com a pandemia de , ele alegou que não conseguia emprego “e não posso mais pagar aluguel”.

Prefeitura suspende entrega de imóveis após identificar incentivadores de ocupação

A Prefeitura de Campo Grande informou que desde segunda-feira negociava a saída dos invasores, reforçando o caráter ambiental reservado para a área. Diretor-presidente da Amhasf (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários), Enéas Netto reforçou ter identificado, entre os incentivadores da ocupação, moradores do Residencial José Teruel 2, criado justamente para abrigar ex-moradores da Cidade de Deus.

Em razão disso, os termos de compromisso entre a agência e os moradores, que previam a entrega de em construção para eles no bairro, serão suspensos até que sejam apuradas todas as circunstâncias da invasão, incluindo os seus responsáveis. Netto reforçou que táticas como a de participar de ocupações a fim de tentar forçar a obtenção de imóveis públicos não será aceita, e que os invasores serão excluídos por 4 anos dos projetos habitacionais do município.