Perigo em abril: MS reduz isolamento em período crítico da pandemia, alerta infectologista

A redução da adesão dos sul-mato-grossenses às recomendações para que fiquem em casa e, assim, evitem aceleração no contágio pelo novo coronavírus (Covid-19), já preocupa as autoridades de saúde porque coincide com o período do ano mais crítico para proliferação de doenças respiratórias. “Dependemos de como conduzirmos abril, poderá haver um aumento importante no número […]

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A redução da adesão dos sul-mato-grossenses às recomendações para que fiquem em casa e, assim, evitem aceleração no contágio pelo novo coronavírus (Covid-19), já preocupa as autoridades de saúde porque coincide com o período do ano mais crítico para proliferação de doenças respiratórias.

“Dependemos de como conduzirmos abril, poderá haver um aumento importante no número de casos [de coronavírus]”, afirmou o infectologista Julio Croda, diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, que fez o monitoramento sobre a adesão das pessoas ao isolamento para a SES (Secretaria de Estado de Saúde), a fim de que sejam elaboradas medidas de contenção.

Conforme os dados compilados por Croda, antes da declaração de pandemia, as recomendações de isolamento horizontal eram seguidas por até 30% da população. Do início de março até o dia 15 do mês passado, chegou a 50% e continuou a subir, chegando a quase 65% das pessoas que permaneceram em suas casas. Contudo, a partir de 24 de março, a média baixou para perto de 50%, subindo a 60% no último fim de semana e, nesta, chegou a 47%.

A queda na adesão ao isolamento social coincide com o primeiro pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro em rede nacional, na qual defendeu o relaxamento das ações de governos e retomada da atividade econômica. Croda, porém, reforça que seu trabalho não foca a causalidade, mas apenas anota temporalmente altas e baixas na adesão.

“Independentemente do discurso, as pessoas estão saindo mais”, afirmou. “Por isso precisamos reforçar essa mensagem: as medidas de isolamento são efetivas”, emendou o infectologista, que também comparou dados para a Secretaria de Saúde de São Paulo, um dos epicentros do coronavírus no Brasil e onde ele afirma que, caso tais medidas não tivessem sido adotadas, os números poderiam ser piores e a demanda por hospitalização seria bem maior.

“Temos dados científicos sólidos demonstrando que as medidas são efetivas. Mas como Mato Grosso do Sul ainda não atingiu números de casos e óbitos expressivos, a população ainda não se sensibilizou da importância de isolamento. O percentual aqui é quase 10% menor que o de São Paulo: lá, está em 50,1%, e aqui em 47,2% segundo dados de ontem [quarta-feira]”.

Superlotação

Julio Croda lembra que o mês de abril é o início do período de alta na contaminação por infecções respiratórias, como a gripe –o que já levou o Ministério da Saúde a antecipar a vacinação contra a gripe–, o que leva à superlotação dos serviços de saúde. A situação deve perdurar até o início de maio.

“Quanto mais pessoas estiverem em distanciamento social, mais conseguiremos adiar o pico e a curva [de contaminação]”, explicou o infectologista. Ele lembra que o contágio pela Covid-19 ocorre até duas semanas antes do surgimento de sintomas. “Tudo o que fizermos agora refletirá em duas semanas quanto ao número de casos e três quanto a óbitos”, prosseguiu.

Por isso, ele alerta que o mês será fundamental para preservar o número de leitos hospitalares e de UTI.

Contaminação e vagas

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Croda afirma que aumento no contágio neste momento sobrecarregaria o sistema de saúde em curto prazo. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Arquivo)

Embora o novo coronavírus tenha surgido há menos de um ano em escala global, já há algumas informações sobre o perigo da doença. Segundo Croda, ela é aproximadamente oito vezes mais letal que o vírus da Influenza, com transmissibilidade duas vezes maior. Além disso, pelo menos 20% das pessoas que demonstrarem (ou 1 em cada 5) necessidade de internação. “Ela transmite mais e mata mais”, disse o especialista.

“Para simplificar: de cada 20 pessoas, quatro delas precisarão ser internadas e uma delas vai precisar de UTI”, advertiu o infectologista que, ao projetar esses números na nossa sociedade, expõe as razões da preocupação da Saúde Pública.

Em uma população aproximada de 2,5 milhões de pessoas, a chamada “imunidade de rebanho” –defendida por médicos como meio de permitir que a própria população desenvolva defesa contra o vírus– deveria ser de 50% da população, ou 1,25 milhão de pessoas.

Estimativas conservadoras apontam que 14% da população terá sintomas, o que, dentro desse regime de contaminação de até 50% da sociedade, representa 174 mil pessoas. “E dessas 174 mil, 20% vão precisar de internação, ou seja, são 35 mil internações”, apontou. O tempo de internação médio é de 14 dias, o que leva Croda a estimar que, para dar vazão ao volume de pacientes em maior gravidade, seriam necessários 350 leitos de UTI “se essa epidemia durar um ano, e 700 se ela durasse 6 meses”.

Atualmente, o Estado conta com 350 leitos de terapia intensiva, número que seria suficiente para cuidar dos pacientes com coronavírus se eles fossem liberados apenas para cuidar dessa doença. “Temos esse número de UTIs, mas para tudo. Se a epidemia durar seis meses, deixaremos a população na rua”.

Todos doentes ao mesmo tempo

Julio Croda ainda explicou posicionamento de autoridades de Saúde sobre a possibilidade de toda a população ser contagiada pelo coronavírus. “O problema é que não pode ficar todo mundo doente ao mesmo tempo para não causar superlotação. Conseguimos diluir o número de pessoas internadas ao longo do tempo por meio do distanciamento social”.

Por isso, ele reitera que “quanto mais precoce [as ações de isolamento], maior é o resultado benéfico”. Isso também evitaria a tomada de medidas mais radicais para manter as pessoas em casa, na hipótese de o país enfrentar um salto no número de casos e de mortes como ocorre nos Estados Unidos, Espanha e Itália.

Ele ainda adverte que, com base em dados sobre os custos econômicos da gripe espanhola –que, no fim da década de 1910, causou milhares de mortes em todo o mundo e atingiu as finanças de vários países–, os prejuízos são maiores quando não se toma nenhuma medida. “E isso levaria a se adotar medidas extremas, como a paralisação total da economia, que gera mais prejuízo que as medidas parciais deste momento”.

“Não há escolha: a economia vai ser impactada, tenhamos ou não medidas de isolamento social. A questão é como fazer isso com o menor impacto, e o menor impacto são as medidas voluntárias, da possibilidade de cada um se auto isolar, porque medidas radicais de quarentena vão paralisar tudo”, finalizou.

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