Impasse sobre ‘conta’ trava instalação de 5 leitos de UTI em município de MS
Cidade “siamesa” àquela com maior incidência de coronavírus em Mato Grosso do Sul, Jardim –a 238 km de Campo Grande– vive um impasse envolvendo o tratamento de pacientes de média e alta complexidade da doença. A oferta de 5 UTIs (unidades de terapia intensiva) por parte do Governo do Estado esbarra na impossibilidade de o […]
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Cidade “siamesa” àquela com maior incidência de coronavírus em Mato Grosso do Sul, Jardim –a 238 km de Campo Grande– vive um impasse envolvendo o tratamento de pacientes de média e alta complexidade da doença. A oferta de 5 UTIs (unidades de terapia intensiva) por parte do Governo do Estado esbarra na impossibilidade de o município arcar com as despesas dos leitos especializados, que atenderiam também aos demais municípios do Sudoeste (Bonito, Nioaque, Porto Murtinho e Guia Lopes da Laguna, esta última a segunda do Estado em casos de coronavírus).
Jardim e Guia Lopes são uma conurbação, separadas apenas pelo Rio Miranda e com os Centros das duas cidades a apenas 6 quilômetros um do outro, uma proximidade que inclui o compartilhamento de rotina e de serviços. Os prefeitos Guilherme Monteiro (PSDB) e Jair Scapini (PSDB) optaram, por exemplo, por realizarem patrulhas compartilhadas para pedir à população que não saia à noite, respeitando o toque de recolher e, especificamente em Guia Lopes, o “lockdown” –o fechamento total das atividades não-essenciais, que terminaria nesta segunda-feira (18) e foi prorrogado até sábado (23), em meio aos 105 casos de Covid-19 registrados na cidade. Em Jardim, são 20 casos.
Monteiro, na noite de domingo (17), foi às redes sociais protestar contra declaração atribuída ao secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, que, sem mencionar nomes, apontou dificuldades para instalar UTIs na região Sudoeste, que estaria sendo “míope” em relação a situação.
Em uma live com pouco mais de meia hora de duração, ele passou boa parte do tempo defendendo a relação entre o município e o governador Reinaldo Azambuja (PSDB), apontando que a resistência para instalação dos leitos envolve o custo final de operações e a montagem de equipes que, segundo ele, caberia ao município por ele gerido ou um consórcio de prefeituras.
“Não adianta entregar uma roda com um pneu bonito para os prefeitos e esquecer de entregar a carenagem, o motor, o combustível e o motorista para poder pilotar o carro. E é isso que o secretário está propondo para nós”, sintetizou Guilherme. “Queremos, sim, as UTIS, mas desde que tenhamos o recurso para custear”, prosseguiu, apontando ainda dificuldade em montar equipes para operar os leitos.
A proposta apresentada aos municípios, e confirmada por Geraldo ao Jornal Midiamax, envolve um financiamento de R$ 1,6 mil por dia para cada leito de UTI ocupado. Contudo, o prefeito de Jardim afirma que “os custos de um paciente em uma UTI, por dia, variam de R$ 700 a R$ 15 mil, podendo até passar”. Em uma conta simplificada, ele arredondou o valor para R$ 5 mil ao dia, ou R$ 25 mil para o conjunto de leitos. “São R$ 600 mil se estiverem ocupados 30 dias. Pode ser que não, diminui o custo, mas R$ 600 mil não. Não temos esse dinheiro”.
Guilherme Monteiro ressaltou que os leitos seriam instalados no Hospital Cândido Mariano que, hoje, conta com 10 leitos especializados. Sem as UTIs, a intenção é “resolver” a necessidade dos pacientes os enviando para Maracaju, Aquidauana ou Campo Grande –onde o Hospital Regional é referência para pacientes com Covid-19 e os demais realizam os outros atendimentos de maior complexidade.
“Caso haja necessidade, precisou evacuar para Campo Grande, coloca em uma ambulância e, em 2 horas e meia, está em Campo Grande. E assim [o paciente] poderá ser atendido por uma equipe treinada e capacitada de especialistas e intensivistas”, afirmou Guilherme que, momentos antes no vídeo, defendeu o debate acerca da regionalização da Saúde do Estado –uma das bandeiras do Governo de Reinaldo.
“É bom mandar para Jardim, faz parte, fazer cirurgias e atendimento no hospital e nós pagarmos a conta dos outros”, ironizou o prefeito. “É importante que tenhamos um ‘pai’ que chegue e diga: ‘filho, vejam como vai ser a fatia de cada município; se Jardim vai ser o centro regional, Guia Lopes manda o recurso financeiro e aí faz a tratativa’. Não dizer: ‘resolvam vocês’”.
A reportagem tentou contatar Guilherme Monteiro por telefone para comentar as afirmações, nas não obteve retorno até a veiculação desta matéria.
Outro lado
Geraldo Resende disse que não faria comentários sobre as afirmações de Guilherme Monteiro. No entanto, confirmou que o Estado tenta adquirir, alugar ou mesmo receber por doação equipamentos para montar um sistema de UTI na região Sudoeste –hoje inexistente– a ser mantido após a pandemia de coronavírus.
“São cinco leitos para a região, assim como outras cidades que se colocaram disposta a receber os equipamentos. Temos avanços em Naviraí e Maracaju e tentamos reforçar onde já há leitos. E, seguramente, haveremos de ter a compreensão de todos para construir”, disse o secretário, citando que Paranaíba, onde o primeiro paciente a demandar vaga em UTI após contrair a Covid-19 teve alta. O Estado e o município instalaram 10 leitos na cidade.
Das 11 microrregiões de Saúde, 10 já teriam avanços quanto aos leitos de UTI, segundo o secretário.
Quanto ao custeio, Geraldo confirmou que o valor é definido no fórum dos secretários de Saúde dos municípios e do Estado, de onde é encaminhado documento ao Ministério da Saúde, que decidirá pela habilitação. “São R$ 1,6 mil por leito, o que dá R$ 48 mil por mês ou R$ 240 mil para 5 leitos”, disse, afirmando ainda que o Governo Federal pode encaminhar R$ 720 mil em parcela única pelos três primeiros meses.
“E o Estado tem a lógica de que, se o recurso for insuficiente, ajudamos com repasses para complementar aquilo que o município negociou com as equipes que ele tem de montar”, afirmou Geraldo, destacando que o Estado pode arcar com custos de equipamentos para acelerar o processo. “O município tem de construir as equipes e verificar as especificidades. Depois de passada a pandemia, [os leitos] têm de ficar, logicamente, para o atendimento rotineiro às demandas”.
Por fim, o secretário estadual afirmou que o Sudoeste deve receber investimementos em leitos de Saúde por conta da necessidade de se contemplar serviços como hemodiálise e gravidez de alto risco e, ainda, melhorar os serviços de traumatologia e ortopedia, “que terão crescimento exponencial por causa da Rota Bioceânica”. As tratativas com prefeitos da região continuam, destacou Geraldo.
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