Em carta ao seu corpo clínico também divulgada por sua assessoria na tarde desta quarta-feira (8), a diretoria do HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) informou que não seguirá protocolos obrigatórios para tratamento do novo coronavírus (-19), como de tratamento medicamentoso nas fases iniciais e profilaxia medicamentosa para os trabalhadores da área de Saúde na unidade.

A recusa da profilaxia –tratamento preventivo– dos profissionais de Saúde teve apoio apertado dos médicos que, em votação, manifestaram-se contra a adoção. Nesta quarta, a unidade confirmou que 29 de seus profissionais de Saúde já contraíram a Covid-19.

A medida foi tomada em meio ao aumento dos apelos para adoção de tratamentos por meio de medicamentos como a cloroquina e a hidroxicoloriquina, a ivermectina e outros, que ganharam fama após serem defendidos por autoridades como o presidente Jair Bolsonaro sem que houvesse comprovação científica de sua eficácia. Conforme o hospital, a decisão é alicerçada na legislação vigente.

No documento, a cúpula do HRMS –referência para tratamento da Covid-19 no Estado– afirma que respeitará os “princípios bioéticos da autonomia, beneficência e não maleficência e da justiça”. O hospital segue, assim, posicionamento já emanado pelo secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, que descartou a adoção dos protocolos por falta de fundamentação científica –contudo, admitiu disponibilizar o medicamento a quem o quiser, mediante manifestação do médico.

“Medicina é Arte e Ciência. Arte, pois, não importando em que esfera e em que tempo da história, envolve maestria, individualidade, humanidade e moralidade. A maestria médica envolve mais perícia, que simplesmente experiência. Mais sabedoria que meramente conhecimento. Ciência, pois se baseia seu conhecimento no método científico; assim, ainda, não temos verdades absolutas a respeito desta ”, afirmou a diretora-presidente da unidade, Rosana Melo.

“Até o presente momento, não existe tratamento comprovado para prevenir, tratar e curar a Covid-19. Existem pesquisas sobre diversos tratamentos farmacológicos em andamento, mas sem conclusão definitiva sobre a eficácia dos mesmos”, pontuou Geraldo, ao ressaltar que a decisão do protocolo medicamentoso é responsabilidade dos médicos.

A assessoria do HR informou que a decisão foi tomada com base no decreto 7.508/2011, do , que trata da instituição de protocolos clínicos. A falta de estudos aprofundados sobre o uso dos medicamentos baseou a medida. “Assim, fica a critério do médico a prescrição, sendo necessária, também, a vontade declarada do paciente”, destaca o Ministério da Saúde, ao liberar tais medicamentos para uso.

Quanto a adoção da profilaxia, foi definido em reunião interna de diretorias do uma enquete para a tomada de decisão. Dos 432 médicos do hospital, votaram 106 (abstenção de mais de 75%). Dentre os participantes, 50 médicos (47,17%) foram a favor da implantação da profilaxia, e 56 (52,83%), contra.

“Este resultado mostrou que é um tema com muitas dúvidas. Praticamente empate técnico. As abstenções demonstram a dúvida não só dos benefícios, como também dos riscos e outros fatores não claramente elucidados”, afirmou Rosane que, com a decisão, descartou o protocolo de profilaxia. “Porém, respeitaremos os direitos e deveres dos profissionais médicos e não médicos com a observância irrestrita das normas legais vigentes”.