Quem precisa se locomover todos os dias com o transporte público sabe o quanto é sofrido encarar lotação nos ônibus de , ainda mais nos dias de intenso calor. Assim, os passageiros chegam até a comemorar quando um dos 14 veículos convencionais com ar condicionado – de uma frota 558 – passa no ponto.

O problema é que, basicamente, a frequência desses veículos nos trajetos diários está cada vez mais rara. Ônibus convencional com ar condicionado? Ninguém sabe, ninguém viu.

Relatos obtidos pela reportagem indicam que há pelo menos três semanas a frequência dos convencionais climatizados diminuiu drasticamente. Como o de uma estudante de 23 anos que utiliza ônibus para ir de casa para o trabalho e do trabalho para a faculdade. Segundo o que ela contou ao Jornal Midiamax, veículos com ar condicionado simplesmente sumiram.

“No ônibus do bairro não tem mesmo [convencional climatizado], mas nas linhas que vão para o Centro sempre tem. Ou tinha. Como eu desembarco cedo no terminal Bandeirantes, dá para tomar um café e observar. Sempre tinha ônibus com ar no 081, 082, 070, 080, mas, agora está bem difícil ver. De vez em quando tem um ou outro como reforço, mas na linha fixa, para valer, não tem mais”, disse.

Dentro dos ônibus durante o trajeto, é comum ouvir usuários reclamando do ‘sumiço’ dos veículos. “Nunca mais vi na linha, eles [Consórcio] tiraram tudo. Devem estar encostados na garagem enquanto a gente paga R$ 4,10 de passagem”, comenta uma passageira. A linha em questão, 051, que faz trajeto Terminal Bandeirantes-Shopping, atualmente roda com quatro ônibus, todos sem o equipamento.

De acordo com documentos acessados pela reportagem, alguns dos prefixos dos veículos com ar condicionado são: 1307, 1308, 1329, 1330, 1331, 1332, 1333, 2702, 2703, 3217, 3219, 3853, 3854, 3855. Desta lista, conforme os veículos que aparecem em tempo real no Mobilibus (clicando aqui), apenas a linha 082 – Terminal Aero Rancho/Shopping Campo Grande, aparece com ônibus equipado com ar – no caso, os veículos 3858 e 3854.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Consórcio questionando sobre o paradeiro dos veículos e aguarda resposta.

2,5% da frota tem ar condicionado

Em julho de 2019, o presidente do , João Rezende, conversou com o Midiamax e, em entrevista, disse que a empresa não tem a obrigação de manter os ônibus com ar condicionado circulando periodicamente. “Naturalmente como todo ônibus, todos eles rodam hora mais, hora menos. Não tem uma determinação que faz com que o com o ar-condicionado rode sem parar”, disse na época.

Vale lembrar que em Campo Grande, de uma frota com 558 ônibus para uma população de 774 mil habitantes, 14 veículos tem ar condicionado. Ou seja, apenas 2,5% são equipados com o equipamento. 

Em dezembro de 2018, em levantamento sobre a qualidade e serviço do transporte público do Centro-Oeste, o Midiamax apurou que em Campo Grande o serviço prestado pelo Consórcio Guaicurus é caro e oferece de menos.

Na época da reportagem, na capital do Mato Grosso, Cuiabá, com uma população de 607 mil pessoas, havia uma frota de ônibus de 364 veículos ativos durante o dia, sendo 80 carros com ar condicionado disponibilizados aos passageiros. O número corresponde a 22% do total da frota e passe, até então, a R$ 3,85.

A Capital do país, com população de 2,4 milhões de moradores, dispõem de 2,8 mil ônibus no transporte público. Do total, 213 são articulados, sendo 62 BRTs e 251 veículos tem ar condicionado. No a tarifa variava, na época, de R$ 2,50, podendo chegar a, no máximo, R$ 5 para viagens até as cidades satélites.

Sobe e desce da tarifa

O reajuste da tarifa de ônibus passou a valer no dia 28 de dezembro, quando o passe foi de R$ 3,95 a R$ 4,10 nas linhas convencionais em Campo Grande. O passe para os ‘fresquinhos’ foi de R$ 4,50 para R$ 4,90.

Dois dias após o reajuste, no dia 30 de dezembro, o Consórcio Guaicurus protocolou um recurso para elevar a R$ 4,25 o valor da tarifa de ônibus. Em agenda, o prefeito Marquinhos Trad (PSD) disse que negaria o novo aumento.

Em nota, o Consórcio Guaicurus explicou que pediu aumento porque o contrato de concessão, assinado em 2012, prevê que a tarifa seja reajustada a cada 7 anos, ou seja, além do reajuste habitual, o valor poderia subir em razão do contrato.

Entretanto, no dia 7 de janeiro, uma medida do TCE suspendeu o reajuste do passe de ônibus e a tarifa voltou para R$ 3,95. O Tribunal de Contas questionou a relação da tarifa e a prestação de serviço do transporte público em Campo Grande e alegando que não é contra o aumento da tarifa, mas ressalta que o valor cobrado deve ser condizente aos serviços.

Após a derrubada da liminar que suspendia o reajuste feito pelo TCE, a Prefeitura Municipal publicou decreto no dia 21 de janeiro em que oficializava a volta da tarifa a R$ 4,10.