Com ritual sagrado, Casa de Reza será reaberta na maior reserva indígena de MS
Destruída em julho do ano passado após um incêndio criminoso, a Gwyra Nhe’engatu Amba, que significa “Lugar onde o pássaro da Boa Palavra tem Assento”, considerada um símbolo centenário da cultura indígena, será reaberta no próximo sábado (15). A Casa de Reza e Cultura fica na Aldeia Jaguapiru da Reserva Indígena de Dourados, em Mato […]
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Destruída em julho do ano passado após um incêndio criminoso, a Gwyra Nhe’engatu Amba, que significa “Lugar onde o pássaro da Boa Palavra tem Assento”, considerada um símbolo centenário da cultura indígena, será reaberta no próximo sábado (15). A Casa de Reza e Cultura fica na Aldeia Jaguapiru da Reserva Indígena de Dourados, em Mato Grosso do Sul.
O ritual de transferência dos Xiru Rerovái (objetos sagrados), que foram resgatados entre as cinzas da Casa de Reza e guardados pelo casal de rezadores, Getúlio Juca e Alda Silva, enquanto era reconstruída, está programado para acontecer antes do nascer do sol, entre as 5h e 7h da manhã do dia 15 de agosto num evento interno e reservado à família extensa, tendo em vista a emergência em saúde decorrente da pandemia de coronavírus.
Com a voz ainda carregada de tristeza pela violência contra o patrimônio cultural e religioso dos Guarani e Kaiowá, Getúlio, um dos guardiões dos objetos sagrados, relata que na época do incêndio, pouco mais de 20 minutos de fogo foram suficientes para destruir o lugar. Segundo ele, boa parte do que estava ali, foi devorado pelas chamas.
O rezador também conta que, entre os objetos perdidos, estão alguns cocares (jeguaka), vestes (ponchito) e outros instrumentos (mbaraka e xiru) que eram utilizados por mulheres e homens nas cerimônias sagradas como, por exemplo, a cerimônia de atribuição de nome aos meninos e meninas.
“Vi um homem branco saindo de dentro da casa e correndo para o meio do milharal. Mas não deu para identificar”, afirmou Getúlio. Os bombeiros foram acionados, mas quando chegaram no local, já estava tudo destruído.
Passado um ano do acontecido, o ancião lembra que o crime ainda não foi solucionado pelas autoridades. Conforme ele, ainda existem muitas perguntas que ficaram sem repostas sobre esse ato violento contra as tradições indígenas.
Entretanto, apesar dos ataques sofridos em sua centenária trajetória, “a Casa sempre esteve aqui, mesmo que ausente fisicamente, mas viva dentro dos nossos corações e na memória de quem dela recorreu para espantar alguns males, principalmente na escuridão”, relata uma indígena que também cobra providências das autoridades.
Durante uma reunião realizada no começo de março na Aldeia Jaguapiru, ela foi umas mulheres que reclamaram contra a falta de segurança na Reserva. Segundo relatos dos moradores da Reserva, durante o dia o clima de tensão também é constante, mas pouco comparável com o que pode acontecer no escuro.
“As ruas das nossas aldeias não possuem iluminação e o medo toma conta das famílias, principalmente depois que o sol se põe. A hora do diabo é à noite”, afirmou a indígena ao procurador procurador do MPF (Ministério Público Federal), Marco Antônio Delfino e aos membros do CNDH (Conselho Nacional de Defesa dos Direitos Humanos).
A Casa de Reza é considerada um ícone na reserva. Alvo da falta de respeito aos símbolos sagrados da cultura indígena, ela foi ao chão e ressurgiu dos escombros, pelas mãos de voluntários da Reserva e com o apoio de instituições estrangeiras e brasileiras, como a UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), a CESE, a cooperação alemã e inumeráveis voluntários aos quais os líderes indígenas são agradecidos.
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