Caminhoneiros presos em protesto na Estrada Bioceânica relatam dificuldades e medo do coronavírus

Protesto em Puerto Suárez para ativação de hospital dura 6 dias; caminhoneiros dizem se virar como podem para conseguir água e comida.

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Com o bloqueio da Estrada Bioceânica, na região da cidade boliviana de Puerto Suárez, fronteira com Corumbá –a 419 km de Campo Grande–, chegando ao seu sexto dia, caminhoneiros que tentam seguir viagem entre o país vizinho e o Brasil relatam dificuldades até mesmo para conseguir itens básicos, como água e comida, pois foram impedidos de irem às cidades vizinhas. O medo de contrair o novo coronavírus (Covid-19) é outra realidade.

O bloqueio é organizado pelo comitê cívico de Puerto Suárez como forma de chamar a atenção do Governo da Bolívia para a falta de investimentos no Hospital San Juan de Dios, referência na região e que foi inaugurado há cerca de 10 anos, mas ainda aguarda equipamentos básicos. Sem a unidade, e com o fechamento da fronteira com o Brasil, moradores só contam com unidades de Saúde em Santa Cruz de la Sierra (a mais de 600 km).

O bloqueio começou há seis dias e, até agora, não houve avanço nas negociações com o governo. Domingo (12), os manifestantes liberaram o tráfego por 2 horas, bloqueando-o de novo em seguida –o que os participantes do bloqueio qualificaram como “oxigenação humanitária”. Com isso, muitos caminhoneiros continuaram presos entre os dois países.

É o caso de Rogério Antônio Bassetto, que contou ao Diário Corumbaense que está “se virando como pode”. Morador de Corumbá, ele está há 20 quilômetros da fronteira, dentro da Bolívia.

“Saí de Corumbá para pegar uma carga de silo em Rolândia, no Paraná e de lá segui para a Bolívia, onde descarreguei em Warnes, cidade próxima a Santa Cruz de La Sierra. Isso no dia 6 de julho, e ao retornar peguei o bloqueio na Bioceânica. A situação é crítica, não temos o que comer, beber e nem tomar banho. Estamos nos virando”, relatou Rogério.

A água consumida pelos caminhoneiros é pega ao lado da rodovia. “Estrangeiro não pode entrar [nas cidades bolivianas], mas damos um jeito para pelo menos comprar mantimentos”, disse o caminhoneiro. “Não entendo esse bloqueio, pois só o setor de transporte é afetado, só uma classe está sendo prejudicada. Vemos aqui carros de passeio passando e até mesmo alguns ônibus de viagem. Além do caos, vivemos o risco de ser contaminados com o coronavírus, pois não existe medida de prevenção e segurança nenhuma”, reclamou Rogério.

O também caminhoneiro Claudemir Oliveira, outro morador de Corumbá, tem opinião semelhante. “Estamos aqui parados e a manifestação é contraditória, pois pedem melhorias para a Saúde, mas nos deixam aqui com risco de contrair o vírus, colocando a nossa própria saúde em risco, pois existe aglomeração. Somos proibidos de entrar na cidade para comprar mantimentos. Está difícil e complicado”.

Apesar das fronteiras fechadas, o transporte de cargas, por rodovia ou linha férrea, foi mantido a fim de evitar desabastecimento. Já a manifestação, iniciada na quarta-feira (8), segue por tempo indeterminado, embora haja previsão de que representantes do Governo da Bolívia irão ao local.

O San Juan de Dios é referência para toda a região da Província de German Busch, atendendo os cerca de 25 mil habitantes de Puerto Suárez e das cidades de Puerto Quijarro, Roboré e Carmen Rivero Tórrez, entre outras. Sem serviços satisfatórios na região, bolivianos têm tentado entrar ilegalmente no Brasil em busca de serviços de Saúde em Corumbá.

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