Sem hospital em plena pandemia, bolivianos fecham Estrada Bioceânica em protesto

Hospital San Juan de Dios não tem equipamentos; moradores de Puerto Suárez se arriscam a entrar ilegalmente em Corumbá atrás de ajuda.

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Manifestantes bolivianos suspenderam totalmente nesta quarta-feira (8) a circulação entre Puerto Suárez e Corumbá –a 419 km de Campo Grande–, que já estava restrita por conta das ações de controle do novo coronavírus (Covid-19) nos dois países). O ato visou a chamar a atenção para a falta de estrutura do hospital San Juan de Dios, na cidade da Bolívia.

O bloqueio teve início à 0h, conforme o Diário Corumbaense, e deve ser mantido por tempo indeterminado. A Estrada Bioceânica foi fechada com montes de terra, impedindo a passagem de caminhões de carga –únicos veículos autorizados a circular entre os países para evitar o desabastecimento–, e os manifestantes também bloquearam a linha férrea.

O ato tenta chamar a atenção das autoridades bolivianas para o abandono do hospital San Juan de Dios, em Puerto Suárez. Presidente do Comitê Cívico local, Humberto Miglino Rau explicou que a unidade de Saúde tem apenas a estrutura, mas não conta com equipamentos e itens para uso dos médicos.

“Nós enviamos duas cartas à presidente do país com as reivindicações e não fomos atendidos. Fizemos um bloqueio de 48 horas e não fomos atendidos e desde a meia-noite de hoje iniciamos o bloqueio indefinido”, explicou Humberto, segundo quem a situação ficou mais crítica com o avanço do coronavírus.

Hospital San Juan de Dios não tem equipamentos; moradores de Puerto Suárez se arriscam a entrar ilegalmente em Corumbá atrás de ajuda.
Hospital San Juan de Dios aguarda por equipamentos há 5 anos; moradores buscam ajuda em Corumbá. (Foto: Diário Corumbaense/Reprodução)

Do lado boliviano, o hospital mais equipado da região está em Santa Cruz de la Sierra, a 630 quilômetros de distância. Até o fechamento das fronteiras, cidadãos bolivianos buscavam atendimento hospitalar em Corumbá –onde, inclusive, um paciente do país vizinho morreu de Covid-19.

“Agora com a pandemia isso foi suspenso e não temos para onde levar nossos doentes, não tem condições de atender ainda mais em caso de pandemia”, afirmou Humberto. “São 630 quilômetros do hospital mais próximo. Têm pessoas que não aguentam e infelizmente morrem na metade do caminho, nossos hospitais estão colapsados não temos como levar os doentes”.

Muitos têm se arriscado a entrar ilegalmente no Brasil por trilhas clandestinas em busca de tratamento na Santa Casa corumbaense.

Província de German Busch tem 181 casos de coronavírus e 20 mortes

O San Juan de Dios opera há 10 anos e é considerado de segundo nível pelo Departamento de Saúde, contudo, espera há 5 anos por equipamentos. A unidade atende aos cerca de 25 mil moradores de Puerto Suárez e também é referência para a província de German Busch, atendendo a moradores de Puerto Quijarro, Roboré e Carmen Rivero Tórrez.

“Hoje mais do que nunca, precisamos do hospital equipado. Em menos de dois meses, temos 56 pessoas falecidas”, afirmou o líder cívico. Humberto Rau ainda salientou que as mortes não tem uma explicação, já que os testes feitos vão para Santa Cruz de la Sierra para análise e demoram tempo para obter uma resposta.

Boletim epidemiológico da Bolívia aponta que German Busch tem 181 casos de coronavírus, concentrados principalmente em Quijarro (125) e Puerto Suárez (44). A doença matou 20 pessoas na província.

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