É comum? Família reclama de imobilização com tala de papelão em MS
A família de um rapaz de 22 anos foi surpreendida ao buscar atendimento no Hospital Municipal de Pedro Gomes, 306 km de Campo Grande. Isso porque, após sofrer acidente e machucar a perna, o paciente foi atendido e enfermeiras colocaram uma tala de papelão para imobilizar a fratura no joelho. A prima do rapaz, Grassiele […]
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A família de um rapaz de 22 anos foi surpreendida ao buscar atendimento no Hospital Municipal de Pedro Gomes, 306 km de Campo Grande. Isso porque, após sofrer acidente e machucar a perna, o paciente foi atendido e enfermeiras colocaram uma tala de papelão para imobilizar a fratura no joelho.
A prima do rapaz, Grassiele Inácio Cardoso, de 31 anos, disse ao Jornal Midiamax que após ter a perna imobilizada, o jovem foi liberado para ir para casa e sequer passou por exames. “Teve que vir com isso aí, depois enrolaram uma faixa, eles não têm nada para usar ou uma tala. Não ter nenhuma tala no único hospital é complicado”, disse a vigilante a reportagem.
Após receber alta, o rapaz ainda permaneceu com muitas dores e a alternativa da família foi colocar a mão no bolso e levar o rapaz até Campo Grande para receber o atendimento adequado. Ele precisou passar por cirurgia no Hospital do Trauma, pois foi constatado que ele estava com três fraturas no joelho.
“Um colega faz os tramites, porque nem ambulância foi disponibilizada. Esse hospital sempre foi esse caos, falta medicamento, há 10 anos, desde sempre. Sempre temos que correr em Coxim quando precisamos”, afirmou a moradora.
‘Não houve negligência’
A reportagem procurou o prefeito William Luiz Fontoura (PSDB) e foi informada que na ocasião, não houve negligência e que atendimento com o papelão foi necessário para o tipo de ferimento do paciente.
“Tem alguns procedimentos que parecem simples, mas é o recomendado, quando alguém tem alguma quebradura de algum tipo, imobiliza de alguma forma, não é questão de tala ou gesso, mas que ele aguardasse vaga. Tem algumas imobilizações que, por incrível que pareça, é recomendado. Não é nada de desprezo ou descaso com o paciente, muito pelo contrário”, disse o prefeito de Pedro Gomes.
O enfermeiro responsável pelo atendimento ao paciente naquela noite, Laender Soares, disse que procedimento é comum para esse tipo de fratura, ainda mais porque na cidade não há médicos ortopedistas para tratarem o ferimento.
“Aprendemos esse procedimento em um treinamento com o Corpo de Bombeiros. Não é a primeira e nem a última vez que será usado [papelão]. Se tivesse colocado um gesso na perna dele sem antes um ortopedista analisar, poderia dificultar a circulação e ele até poderia precisar amputar a perna. Não houve negligência, nós fizemos tudo o que tinha a nossa disposição”, comentou o enfermeiro.
Mas procedimento é correto ou não?
O médico ortopedista José Luiz Mikimba explicou a reportagem que o uso de talas de papelão é normal em casos de emergência, mas não é o caso de ser usado dentro de um hospital que, na teoria, deveria ter os equipamentos necessários para o atendimento.
“Dentro da ortopedia não existe esses tipos de procedimento, porque só se usa em caso de urgência. Vamos supor que um morador da zona rural se machuca e reclama de dores, o local onde ele machucou é colocado uma tala improvisada até que ele chegue a um hospital e lá é usado o material adequado. Mas esse procedimento ser realizado dentro de um hospital, não é natural”, disse Mikimba.
O médico ortopedista e especialista em joelho, Luis Fernando Prampero, comentou que o uso de petrechos para improvisar a imobilização de uma fratura é normal em situações em que o paciente não esteja amparado por profissionais e longe de um hospital.
“Se você estiver em um mato, é melhor imobilizar com alguma coisa até que se possa chegar a um hospital para ser socorrido. Mas em uma enfermaria não ter uma tala, é inaceitável. Não pode se comparar o serviço de saúde com uma selva ou uma pessoa leiga”, disse o médico.
Ainda segundo o especialista, procedimento usado no hospital de Pedro Gomes seria totalmente fora do que prevê a vigilância sanitária, pois material não tem higienização adequada. “Se vai imobilizar com papelão, nem precisa ir no hospital, qualquer um pode fazer em casa. É um procedimento precário”, pontuou Prampero.
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