#CG120: Escape para quando celular descarrega, orelhões ainda resistem em Campo Grande

Em uma época em que a tecnologia domina a sociedade e que fazemos tudo através do celular, os orelhões públicos ficaram esquecidos. Os telefones, que antes eram encontrados facilmente em qualquer esquina, se concentram em sua maioria no Centro de Campo Grande e em meio ao vandalismo e escassez dos cartões com unidades, orelhões servem […]

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Em uma época em que a tecnologia domina a sociedade e que fazemos tudo através do celular, os orelhões públicos ficaram esquecidos. Os telefones, que antes eram encontrados facilmente em qualquer esquina, se concentram em sua maioria no Centro de Campo Grande e em meio ao vandalismo e escassez dos cartões com unidades, orelhões servem apenas como escape para quando o celular descarrega.

#CG120: Escape para quando celular descarrega, orelhões ainda resistem em Campo Grande
Os cartões de 20 unidades só vendem quando bateria dos celulares do clientes acabam | (Foto: Leonardo de França, Midiamax)

Atualmente, os moradores de Campo Grande tem a sua disposição 710 orelhões, sendo 131 adaptados para cadeirantes e 18 para pessoas surdas.

O Jornal Midiamax foi às ruas e identificou que usar os aparelhos não é tão fácil pois, apesar de os telefones estarem instalados e funcionando, encontrar os cartões não é uma tarefa simples. E diferente daqueles cartões coloridos, com paisagens e que eram colecionáveis, os atuais são descartados após o uso.

Dos cinco estabelecimentos que a reportagem visitou na região central de Campo Grande, apenas dois tinham cartões telefônicos. Mas nada de variedade, só havia aqueles cartões com 20 unidades, daqueles que acabam rapidinho. Os comerciantes nem reclamam, pois afirmam que encontrar as fichas com mais de 20 créditos para revender ‘é lenda’. Com toda essa escassez, o preço sobe e quem precisar telefonar pode desembolsar até mais que R$ 15.

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Adriano conta que os cartões as vezes ficam por vários dias na gaveta esperando por consumidores | (Foto: Leonardo de França, Midiamax)

Quando a bateria do celular acaba, as cabines verdes são finalmente (ou novamente) notadas pelos moradores e a correria para encontrar os cartões levam os clientes até a banca de Adriano Guedes, que fica, inclusive, ao lado de dois orelhões.

“Eles [clientes] procuram sempre os cartões quando ficam sem o celular. Aí correm aqui para perguntar se tem”, disse Adriano. O estoque atual da banca é de 27 fichas e, para vender rápido, o jeito é torcer para que a bateria de alguém acabe bem na hora que precisar telefonar – e que não tenha um carregador portátil, de preferência.

Quando a bateria do celular resolve acabar, tem cliente que já leva três cartões de uma vez para garantir 60 créditos no telefonema. Na Banca Pop, na Rua de 13 de Maio, quase esquina com a Afonso Pena, restam poucos cartões de 20 unidades para quem precisar “de última hora”.

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O comerciante Mário não tem mais cartões no estoque para vender | (Foto: Leonardo de França, Midiamax)

Como a procura acaba sendo pontual, tem comerciante que desistiu de procurar para revender e relembra dos tempos que os cartões vendiam ‘igual água’. “As pessoas vem aqui na banca, mas a gente já trata de falar que não tem [cartões]. Faz uns dois anos que parei de vender e mesmo naquela época já estava vendendo pouco, não era como antes”, contou Mario Toshio, de 64 anos.

Outra situação que desanima os comerciantes a revenderem os cartões é a falta de manutenção nos aparelhos e o desrespeito de alguns moradores com o patrimônio, fazendo com que tudo isso acabe contribuindo para que os ‘verdinhos’ sejam esquecidos.

“As pessoas vandalizam os orelhões, quebram, picham, como que alguém vai querer usar? Eu desisti de querer colocar cartões para vender porque não achava mais, ninguém procurava e, quando procurava, as pessoas tinham que usar esses aparelhos todos danificados”, contou um comerciante que preferiu não se identificar.

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Orelhão vandalizado na esquina da Avenida Afonso Pena | (Foto: Leonardo de França, Midiamax)

Sumindo aos poucos

Anos atrás, os telefones eram estrategicamente instalados perto de escolas, UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) nos bairros, CRSs, hospitais e órgãos públicos. Mas aos poucos, a Oi, que é uma das operadoras que cuida da manutenção desses aparelhos, tem retirado equipamento das ruas e eles vão sumindo sem que ninguém perceba.

A reportagem percorreu os bairros União, Oliveira, Buriti e São Conrado, e em ruas desses quatro bairros, nenhum telefone público foi encontrado, nem mesmo perto de escolas ou unidades de saúde. O que resta são os sinais de cimento recém rebocado na calçada, colocado na fissura onde um dia o orelhão serviu para os moradores.

A expectativa é ir retirando os ‘verdinhos’ cada vez mais, segundo a Oi. Com os diversos planos de celulares móveis, a intenção é diminuir a disponibilidade dos orelhões a cada ano.

Em dezembro de 2018 a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) estabeleceu novas mudanças no PGMU (Plano Geral de Metas de Universalização), que prevê a retirada gradual dos orelhões. Mas se há mudanças de um lado, também haverá mudanças do outro.

“Em contrapartida à redução do número de telefones de uso público, as operadoras serão obrigadas a investir em telefonia móvel e banda larga, levando esses serviços às localidades ainda não atendidas e ampliando o que já existe nas outras localidades”, disse a Oi ao Jornal Midiamax.

Com isso, já temos a certeza que, daqui uns anos, os orelhões serão apenas uma lembrança de quem precisou telefonar.

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