Cercas na BR-262 podem virar armadilha para animais silvestres, avalia especialista
No início do mês, a instalação de cercas no Pantanal, à beira da BR-262, começou a causar polêmica. Afinal, é possível que um animal rompa a barreira e não consiga sair, entrando em pânico em meio aos carros que passam nos dois sentidos? Para especialista, as cercas são importantes para impedir o atropelamento de animais, […]
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No início do mês, a instalação de cercas no Pantanal, à beira da BR-262, começou a causar polêmica. Afinal, é possível que um animal rompa a barreira e não consiga sair, entrando em pânico em meio aos carros que passam nos dois sentidos? Para especialista, as cercas são importantes para impedir o atropelamento de animais, mas da maneira como foram colocadas, podem causar o efeito contrário: colocar a vida dos bichos e também dos motoristas em risco.
Conhecida como uma das rodovias mais mortais para a vida selvagem, a BR-262 é objeto de estudo para o pesquisador da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e doutor em Ecologia e Conservação, Wagner Fischer, há mais de 20 anos. Para o especialista, a instação de cercas para impedir que os animais cheguem à rodovia é importante, mas da forma como foi colocada, a ideia pode se tornar uma armadilha.
Com 1,2 metro de altura, a cerca é muito baixa e feita de material frágil para impedir a entrada dos animais silvestres. Além disso, os animais precisam de passagens para ir de um lado a outro, como túneis e pontes.
“Eles vão ver a barreira e os animais que escalam, vão escalar. Assim, vão ficar presos entre uma cerca e outra. Vão criar um outro problema, podem entrar em pânico e começar a andar em meio aos carros. Isso é muito pior do que só o atropelamento, pode causar mais acidentes”, opina.
Em fotos divulgadas por motorista, as cercas ficam ao lado da vegetação. Para o pesquisador, este é um dos principais erros na iniciativa. A vegetação à beira da estrada já oferece um risco para o motorista, já que prejudica a visão e ele pode ser surpreendido por um animal que tenha conseguido romper a barreira.
Além disso, Fischer aponta que do modo como a cerca foi instalada, o animal terá mais facilidade de entrar na rodovia do que de sair. “Do lado de fora, tem as árvores, então o animal vai escalar e entrar na estrada, ficando entre as duas cercas. Agora, para sair, não tem nada [para escalar]. Ou ele vai se virar de algum jeito para sair ou vai ficar desesperado. Agora, imagine um cervo-do-Pantanal ou uma anta que consiga arrebentar a cerca [frágil]? O desastre é muito pior”.
Segundo o pesquisador, a vegetação deve ser eliminada da beira da estrada até a ponta do barranco. A cerca deve ser colocada inclinada em 45 graus para criar uma barreira difícil de escalar. “Assim você cria uma barreira física para o animal que vem de baixo para cima. Se, por acaso, o animal vencer aquilo, ele vem pelo acostamento, sobe na cerca e pula para o outro lado, a saída seria mais fácil”.
Segundo o pesquisador, a juntamente com as cercas inclinadas, é preciso incluir pontes ou túneis para a travessia dos animais. Além disso, é preciso monitorar, já que a instalação das cercas deve servir como um projeto piloto. Caso a redução de atropelamento de animais seja comprovada, só então estender a iniciativa para outros trechos da rodovia.
A instalação de cercas pelo DNIT-MS (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes em Mato Grosso do Sul) faz parte do Programa de Monitoramento de Atropelamento de Fauna. O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) diz que vai avaliar se medida tem funcionado.
BR-262: ‘Estrada para o inferno’
Com mais de 20 anos de pesquisa sobre o atropelamento de animais na BR-262, o estudo feito pelo professor Wagner Fischer, pela Engenheira Ambiental Raquel Faria de Godoi e pelo também professor da UFMS Antonio Conceição Paranhos Filho virou reportagem no The New York Times. Os estudiosos monitoraram a estrada que liga Campo Grande a Corumbá de 1996 a 2000 e registraram 930 atropelamentos de animais. “A BR-262 mantém sua fama inglória como uma ‘estrada para o inferno’ para vidas humanas e selvagens”, destacou Fischer.
MPF recomendou medidas protetivas à fauna
Em dezembro de 2018, o MPF (Ministério público Federal) em Corumbá ajuizou ação pública para que o DNIT cumprisse com as medidas protetivas à fauna de animais silvestres na BR-262, no trecho entre Aquidauana e Corumbá. A medida visa proteger os animais e também a segurança no trânsito.
O DNIT chegou a promover algumas ações e medidas para tentar diminuir a mortalidade dos animais na BR-262, como a instalação de radares e sinalização horizontal e vertical, como placas nos trechos mais críticos. No entanto, as medidas não foram suficientes para conter o problema e ainda estão pendentes as obrigações de instalação de cercas para a passagem de fauna e outras medidas previstas na licença ambiental.
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