O fim de semana registrou mais um caso de ataque de em Mato Grosso do Sul. Uma idosa de 63 anos foi atacada pelo animal de estimação em Corumbá, a 425 km de . Com o terceiro ataque a humanos em três meses, ressurge a polêmica sobre o comportamento dos bichos. Usados muitas vezes como cães de guarda, especialista alerta que pit bulls não foram feitos para isso. Usar o animal para uma característica que não é da natureza dele pode gerar agressividade.

Neste sábado (30), uma idosa foi levada para o pronto-socorro após ser atacada pelo próprio cão. O animal da raça pit bull mordeu a dona no braço, seio e costas. Ela contou aos socorristas do Corpo de Bombeiros que não sabe o que despertou o comportamento agressivo no animal.

Outro caso que chamou a atenção e gerou comoção em fevereiro deste ano envolve o animal na morte de um bebê de oito meses, na cidade de Antônio João, a 402 km da Capital. A criança foi atacada pelo pit bull da família quando estava engatinhando na varanda de casa. A criança teve perda de massa encefálica depois do cachorro atacar a cabeça, que teve afundamento de crânio e chegou ao hospital em sofrimento respiratório. O bebê sofreu parada cardíaca e morreu 15 minutos depois de dar entrada no hospital. O cachorro era considerado dócil pela família e familiares ficaram em choque.

No mês passado, outro caso marcante envolvendo cão da raça pit bull foi registrado em Rio Brilhante, a 158 km de . O dono do cachorro o matou ao tentar defender a esposa que estava sendo atacada. O ataque aconteceu quando a mulher de 31 anos ia sair de casa e Snoop, o pit bull da família, mordeu sua perna. O marido tentou ajudar, mas como não conseguia soltar o cachorro da perna da mulher, acabou matando o animal a marteladas.

Pit bulls não são cães de guarda

Com o surgimento de novos ataques de cães da raça pit bull aos donos, Tony Cão explica que os animais não foram criados para servirem como cães de guarda. Adestrador há 16 anos, ele explica que donos cometem o erro de achar que os cães podem proteger a casa por causarem medo em outras pessoas.

“Não é característico da raça, quando você usa ele para guarda, é um sinal de desvio do comportamento dele. Cães como rottweiller e pastor alemão é que são de guarda, é a característica deles. O pit bull tem muita força, ter um controle dele é mais difícil. É comum que as pessoas cometam este erro de comprá-los para guarda, já que muita gente tem medo”, afirma.

Tony alerta que outro erro cometido na criação dos pit bulls é deixar os cães apenas dentro de casa e no quintal. Segundo ele, os cachorros devem ser socializados e isto deve acontecer até os seis ou oito meses de idade, já que é uma fase em que ele levará o aprendizado para a vida inteira. Confira outros mitos e verdades sobre os cães da raça. 

Após ataques e morte em MS, adestrador alerta que pit bull não é cão de guarda
Tony adestra cães há 16 anos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Além disso, antes de adquirir um cão da raça, é preciso estar ciente de que eles precisam gastar energia para se manterem dóceis. “Ele é um cão que tem uma energia extrema, o nível de ansiedade ele é alto e ele tem que ter um gasto de energia maior. O que acontece é que a pessoa leva para casa e não gasta a energia que precisa, fazendo com que ele crie comportamentos agressivos, inclusive com os donos”. Tony aponta que os cães da raça precisam de limites na educação e devem ser lembrados que são de grande porte.

O contador Herculano Júnior é dono de um casal de pit bulls e afirma que os animais são dóceis, inclusive com as crianças da casa. Ele também acredita que os animais não podem ficar isolados, caso contrário, podem desenvolver um comportamento agressivo. “Minha filha monta nele [cão] como se fosse um cavalinho e ele não apresenta nenhuma agressividade. Mas se você cria ele fechado, sem ver ninguém, ele pode desenvolver um mal comportamento”.

Herculano está vendendo os filhotes que nasceram como resultado do cruzamento do casal de cães que tem em casa e conta que quem o procura, geralmente já tem uma admiração pela raça, por ser bonita e forte. “Quem cria e já teve sabe que é uma raça dócil”.

Criados para briga

Em entrevista à revista Superinteressante, Marcus Rito, do Kennel Clube de Brasília, explica que os pit bulls surgiram originalmente na Inglaterra no século XVIII, quando espetáculos de briga entre animais eram populares. Os cães lutavam com touros, quando mordiam o focinho deles e não soltavam.

Criados inicialmente para rinha, os pit bulls têm a maior abertura da boca entre os cães, assim eles conseguem mordem sem soltar. Atléticos, eles podem até conseguir subir em árvores ou correr por 10 km sem se cansar. Fortes, os cães chegam a arrastar até 950 kg em competições, o equivalente a um carro pequeno, como o fusca.

O adestrador Tony conta que os animais não foram geneticamente modificados, mas a raça foi sendo aprimorada com o tempo. “Sai uma ninhada com um cão mais forte e maior, aí cruzam este animal com outro que também é forte e maior, assim foram afinando e moldando a raça”.