Ônibus lotados e atrasados fazem passageiros migrarem para bicicletas, ‘carona’ e aplicativos

A ineficiência do transporte público de Campo Grande tem obrigado trabalhadores a trocarem o ônibus por transporte individual privado. Superlotação, escassez, ausência de veículos em linhas sem aviso prévio e desconforto são alguns dos vilões na hora de embarcar nos coletivos do Consórcio Guaicurus. Os campo-grandenses não veem mais saídas para os problemas dos ônibus […]

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A ineficiência do transporte público de Campo Grande tem obrigado trabalhadores a trocarem o ônibus por transporte individual privado. Superlotação, escassez, ausência de veículos em linhas sem aviso prévio e desconforto são alguns dos vilões na hora de embarcar nos coletivos do Consórcio Guaicurus.

Os campo-grandenses não veem mais saídas para os problemas dos ônibus que, segundo os usuários, são crônicos. A alternativa encontrada por quem não aguenta mais o descaso do Poder Público é enxugar a conta no final do mês e chamar um carro particular através dos aplicativos de mobilidade urbana.

Trabalhadores chegam a perder, em média, 3 horas diárias dentro do coletivo. Moradores garantem que a falta de logística urbana dificulta a locomobilidade de quem “pega do batente” todos os dias. Além disso, a situação precária dos veículos também é motivo de desconforto geral na hora de passar pelas catracas.

A maioria dos assalariados vê o fim da tarde como hora sagrada do descanso. Enfrentar a via sacra de três coletivos até conseguir espaço no veículo chega a desanimar até os mais resistentes. Assim, a alternativa encontrada para ser pontual nos compromissos e chegar em casa antes do anoitecer é colocar a mão no bolso.

O que deveria facilitar o ir e vir da comunidade acaba virando frustração na Capital de Mato Grosso do Sul devido aos problemas relacionados ao serviço oferecido pelo Consórcio. Willian de Oliveira é uma das pessoas quem engrossam o cadastro de passageiros diários dos aplicativos de transporte particular.

O jovem, de 26 anos, preferiu organizar as finanças e opta pelo aplicativo de mobilidade urbana diariamente para ir ao trabalho. Na volta para a casa, Willian utiliza a linha 081 – Nova Bahia / Bandeirantes.

Apesar do trajeto durar cerca de 20 minutos, a comodidade e agilidade falam mais alto na hora de sair de casa. O impacto no final do mês chega a R$ 400 que, de acordo com o jovem, são bem investidos.

“Caso eu fosse pegar ônibus teria que acordar uma hora antes todos os dias. Perderia muito tempo. Os veículos estão sempre superlotados e somente uma vez eu entrei em um com ar condicionado.”

Andressa Oliveira, de 26 anos, preferiu investir na bicicleta. “São cinco quilômetros de casa ao trabalho. Saio um pouco mais cedo, curto a vista e não preciso me estressar com atraso, já que o horário depende de mim. Fora que o custo foi só o da bicicleta e o da manutenção dela, que saem bem mais baratos que a passagem, com certeza”, conta.

Quando chove, a auxiliar de escritório prefere pegar carona. “Sempre tem uma amiga para levar em casa. No outro dia, eu chamo um carro por aplicativo e já volto de bicicleta. Não quero nem passar perto de ônibus mais”, brinca.

O não cumprimento dos horários determinados das linhas também é motivacional para a escolha dos transportes particulares. Moradores de Campo Grande utilizaram as redes sociais nesta semana para protestarem no que seria, de acordo com os usuários, falta de compromisso com a população. A ausência de fiscais nos terminais também é outro ponto de discussão entre os passageiros.

“Se tivesse um fiscal multando quando os ônibus simplesmente não aparecem, não estaria essa baderna. Tem poucas linhas e por isso o povo está preferindo mesmo ir com os carros de aplicativo. O que era para ser um direito nosso, transporte público de qualidade, vira um inferno com tanta demora, calor e ônibus velho. Até quem não tem condições prefere pagar do que ‘passar raiva’ nesses terminais,” comentou uma internauta.

Revolta

O aumento do passe de ônibus, que entrou em vigor nesta segunda-feira (3), gerou revolta unânime entre os usuários da Capital. O preço pulou de R$ 3,70 para R$ 3,95, representando 6,75% de reajuste na tarifa do transporte, ou seja, dois pontos percentuais acima da inflação oficial, de 4,56% nos últimos 12 meses, conforme o IBGE.

Para se ter uma ideia do que isso representa no orçamento, um passageiro que utiliza dois ônibus por dia, durante 30 dias, antes, gastava R$ 222 em um mês. Com o novo valor, serão gastos 237 no mesmo período.

Se a escassez dos veículos e a falta de acomodação já geram transtornos para os mais jovens, a situação fica crítica no caso dos idosos. Passageiros chegam a esperar no ponto de ônibus até três veículos antes de conseguirem embarcar.

Mais caro por menos ônibus

Levantamento realizado pelo Jornal Midiamax apontou que o transporte público de Campo Grande, comparado a outras capitais, é mais caro por menos ônibus. O resultado, além do valor, é a qualidade ofertada aos moradores.

A frota de ônibus na Capital sul-mato-grossense é de 598 veículos para atender 774 mil moradores. Um bom número, porém, muitos desses veículos acabam ficando nas garagens das viações na maior parte do tempo ou muitas vezes se quer circulam enquanto a população acaba contando com a sorte nos pontos de ônibus lotados.

Comodidade compensaria aumento

Se ao menos o transporte público oferecesse conforto aos passageiros, a situação poderia ser diferente. No último mês, a reportagem conversou com passageiros que afirmaram preferir os veículos climatizados, pois acredite se quiser, rola até briga para entrar nesses convencionais.

Edna Gonçalves, de 64 anos, disse que é mais confortável porque ‘pelo menos’ compensaria o valor da passagem. “Já andei nesses com ar algumas vezes no 061 [linha] e é realmente fresquinho. O calor com certeza faz as pessoas disputarem um lugarzinho neles porque já que é para pegar lotação no calor, que seja em um ônibus melhor”, disse.

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