Se o frio já é difícil para quem está bem agasalhado e quente dentro de casa, imagine para quem é morador de rua e desabrigado em Campo Grande. Contando com a ajuda de desconhecidos, os moradores disputam as cobertas que são doadas e se amontam até com cães para se esquentarem em meio à nova frente fria que chegou a cidade. Previsão alerta para a madrugada desta quinta-feira (23) deve ser ainda mais fria.
Afirmando que o frio está difícil de suportar, Maria Auxiliadora disse que as noites têm sido difíceis, uma vez que ela tem apenas dois cobertores finos, um casaco e uma calça para se abrigar do frio.
Morando na região da Rodoviária antiga há mais de 30 anos, Maria conta com a ajuda do próximo. “As pessoas vêm aqui e ajudam bastante. Elas trazem cobertas, roupas e a gente consegue se esquentar, mas ainda parece que é pouco”, disse a reportagem do Jornal Midiamax.
Também em meio aos usuários de droga nas plataformas da rodoviária, Kermen, que revelou apenas o primeiro nome, relatou que mora somente naquela quadra há 11 anos e diz que o serviço do Caps (Centro de Atenção Psicossocial) é excelente, mas que as vezes prefere ficar nas redondezas, pois tem o vício em pasta base (Leia a série de reportagens do Midiamax sobre os usuários de pasta base).
“A gente passa muito frio. O pessoal vem aqui, distribuiu cobertas, mas as vezes não dá tempo de pegar. Eu gosto muito de ir para o Caps, eles nos ajudam bastante, mas gosto de ficar por aqui às vezes”, disse a moradora de rua.
Questionada quais são os meios que recorre para se esquentar, Kermen disse que a solução momentaneamente é o álcool. “A droga é só para esquecer da tristeza e nem álcool estou tomando porque não tenho dinheiro”, finalizou Kermen, que se despediu afirmando que ia dar ‘uma cachimbada'.
Colchões espalhados nas redondezas, pedaços de papelão, trapos de roupa, cobertores umedecidos por causa da chuva que caiu incansavelmente nesta quarta-feira (22), são os recursos desses moradores para se aquecerem.
A assessoria de imprensa da SAS (Secretaria de Assistência Social), disse que nos dias de frio, os moradores recebem a visita dos funcionários do Caps, que oferecem abrigo nas unidades espalhadas na Capital, no entanto, muitos acabam negando atendimento.
“Nós vamos até eles e os que não querem atendimento e serem encaminhados para dormirem abrigados, damos cobertores para se esquentarem”, relatou assessoria de imprensa, uma vez que os moradores de rua não podem ser obrigados a saírem das ruas.
Frio provoca morte de morador de rua
Com a dificuldade de se aquecerem no frio extremo nas noites e madrugadas de Campo Grande, os moradores de rua acabam sendo vítimas das baixas temperaturas.
No último dia 11 de agosto, Jalba Mendes Feijó, de 51 anos, foi encontrado por populares de manhã no bairro Tiradentes. Ele morreu enquanto dormia e, segundo a Polícia Civil, a causa pode ter sido o frio.
Jalba foi encontrado morto em frente a uma empresa na Rua San Martim, por populares que chamaram a Polícia Militar. Ele era muito conhecido na região. A morte do morador de rua teria acontecido entre 1 e 3 horas da madrugada.
A vítima estava deitada no chão em cima de cobertores e com outro cobertor por cima do corpo. Ao lado foram encontradas várias sacolas.
Mais frio por aí
A previsão é de que com o fim da chuva, as temperaturas devem despencar com possibilidade de geadas no sul, sudoeste e sudeste.
O meteorologista Natálio Abrahão Filho, da Estação Meteorológica Uniderp, explica que a frente fria já está saindo da região e logo não deve mais chover no sul do estado. “O sol deve aparecer um pouco, mas um pouco só. À noite, a temperatura vai cair bastante e há previsão de geadas no sul, sudeste e sudoeste do estado. Durante a madrugada haverá nevoeiros e amanhece assim entre Dourados, Ponta Porã e Amambai”, diz.
Em Campo Grande, a chuva deve parar e a previsão aponta uma noite de frio intenso, com temperaturas mínimas abaixo de 6°C. A quinta-feira (23) deve ser de sol, mas a chuva volta com tudo na sexta-feira (24), com temperaturas ainda mais baixas.
