A carne do Big Mac é feita de um animal híbrido criado em laboratório. Lula é o dono da JBS. Xuxa fez pacto com satanás e sacrificou crianças em ritual. Um novo tipo de gripe está matando em 24h e o governo tenta abafar. Sim, encontraram um dos culpados pelo compartilhamento de notícias falsas – as fake news –  como as que acabamos de mencionar. Sim, a culpa pode ser daquele seu tio ou tia do grupo de família no WhatsApp.

Pelo menos é o que aponta uma pesquisa inédita da USP (Universidade de São Paulo), cujo levantamento indica que ao menos 51% dos falsos boatos que ligaram a vereadora do PSOL assassinada Marielle Franco a um traficante Marcinho VIP foram impulsionados por meio de grupos familiares criados em comunicadores instantâneos como o WhatsApp.

Pesquisa revela que 'grupos de família' propagam mais da metade das fake news
Imagem erradamente atribuída à vereadora assassinada Marielle Franco e ao traficante Marcinho VIP. No WhatsApp, foi compartilhada como verdade (Foto: Reprodução)

No caso, os boatos afirmavam que a vereadora assassinada seria ex-mulher do traficante Marcinho VIP e que teria engravidado aos 16 anos. Uma foto supostamente mostrando Marielle sentada no colo do traficante também foi disseminada como verdade. Vale lembrar que além do boato ser falso, a foto encaminhada não retratava nem Marielle, nem Marcinho VIP.

Aplicativo popular

A pesquisa aponta o WhatsApp como o aplicativo mais comum entre brasileiros e, por esta razão, o mais propício a ser utilizado na propagação de fake news, as notícias falsas. O levantamento da USP, que entrevistou mais de 2 mil pessoas em formulário on-line,  indicou que no caso ‘Marielle x Marcinho VIP’, 51% das mensagens com a fake news foram recebidas em grupos familiares no aplicativo – 32% do total chegou em grupos de amigos, 9% em grupos de colegas de trabalho e outros 9% em mensagens diretas.

Segundo o professor Pablo Ortellado, do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP e autor do estudo ao lado de Márcio Ribeiro, não foi possível apontar a distribuição dos tipos de grupos de WhatsApp: pode ser apenas que os grupos de família sejam mais numerosos que os demais.

Porém, uma das possibilidades é que os grupos de família sejam ambientes mais propícios para compartilhar conteúdos não checados. “Pode ser que grupos de família sejam ambientes mais ‘íntimos’ que permitam compartilhar seguramente conteúdos mais especulativos sem que quem compartilhe seja alvo de julgamento”, traz o pesquisador.

Fake news em MS

Para além do caso ‘Marielle Marcinho VIP’, comprovadamente falso, alguns boatos já foram fortemente disseminados em Mato Grosso do Sul por meio de grupos de WhatsApp. Um dos mais recentes foram arquivos de áudio que afirmavam que mortes repentinas por infecção do suposto supervírus H2N3 estariam sendo ‘abafadas’ pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Nem o nome do vírus foi escrito corretamente: é H3N2, e cada caso é cuidadosamente acompanhado pela SES (Secretaria Estadual de Saúde), com divulgação de boletins epidemiológicos, inclusive.

Pesquisa revela que 'grupos de família' propagam mais da metade das fake news
Vários boatos perigosos foram propagados em Mato Grosso do Sul por causa do WhatsApp (Foto: Reprodução)

Também em forma de boato, o caso do achocolatado envenenado que matou uma criança em Cuiabá, em agosto de 2016, chegou no Estado como boato de um lote inteiro do produto infectado por superbactérias. Assim como em outros casos, os arquivos de áudios compartilhados em grupos de WhatsApp reproduziam informações genéricas e imprecisas.

Porém, um dos casos mais emblemáticos foi o de uma suposta onda de suicídios coletivos de jovens em São Gabriel do Oeste, a 120km de Campo Grande. Mais uma vez, um áudio de WhatsApp afirmava que cerca de 20 jovens planejavam um suicídio coletivo na cidade, motivamos pela morte de dois adolescentes dias antes. O caso provocou entre moradores e levou autoridades policiais e grupos de prevenção ao suicídio à localidade.