Terminais de ônibus escondem histórias em meio à rotina apressada
Por dia, mais de 200 mil pegam ônibus
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Por dia, mais de 200 mil pegam ônibus
Observar qualquer um desses locais por apenas alguns minutos é um exercício que vai identificar um flash de corpos passando para lá e para cá. Além disso, o movimento nos terminais é, também, da grande máquina do transporte urbano, levando gente apressada de um canto para outro. Enquanto a rotina é marcada pela rapidez do movimento, as paredes dos terminais escondem as histórias de quem vive nesses locais diariamente. A cada 24 horas, são mais de 200 mil pessoas nesse vai e vem.
Amizades que começaram pelos corredores, brigas e personagens que tem no terminal um ganha pão são algumas dessas histórias. Confira a reportagem em vídeo:
A história de Alírio Ribeiro de Andrade, 73, é a história do tempo. Tempo que ele divide junto com a estrutura do terminal General Osório, no bairro Coronel Antonino, um dos primeiros a serem construídos na Capital. Alírio é daquelas pessoas que lembram do lugar “quando era tudo mato”, ou, no caso, quando era lama.
“A mudança que eu acompanhei muito é que tudo era barro, né, e com essa mudança veio melhorando, os ônibus veio melhorando, a gestão pública veio melhorando. Hoje de 200 a 300 mil pessoas circulam no terminal, então, antigamente, não gerava isso, hoje gera isso e mais ainda”, conta ele. O tempo ganha volume, conforme Alírio conta sua história. Mais rapidez e mais gente frequentando o terminal.
Agora, o idoso observa que as pessoas conversam menos. ‘Bom de amizade’ como ele fala de si, Alírio afirma que o papo às vezes acontece com pessoas da mesma religião, mais receptivos à conversa.“Eu sou bom de amizade. Às vezes me veem com o rosto assim fechado, acham que eu sou durão, mas não, eu sou um cara bom de amizade. Principalmente na área de evangélico, então nessa área a gente encontra bastante e sempre conversa”, relata.
Durante a noite, no entanto, o ar de tranquilidade dá lugar ao medo, já que ele observa muita violência nos terminais. “Às vezes a gente passa meio tarde aqui, e tem briga de vândalo, tem de tudo tipo, então a gente se assusta, a gente com celular, com uma carteira dessa. A noite mesmo eu não saio assim do jeito que eu estou”.
Cadê minha garrafa de café?
Maria Dionísia, 43, vende lanches, bebidas e balas no General Osório há 10 anos. Das muitas histórias que ela já viveu ali, uma ela não esquece: o dia em que perdeu uma garra de café no meio de uma briga. A garrafa acabou virando ‘arma’ de ataque de um casal durante o conflito. A cliente, no entanto, é fiel, e sempre compra na banca de Maria. A garrafa, no entanto, ela nunca mais viu.
“Chegou um casal brigando, dois casais, a filha e o marido. Eles começaram a brigar aqui, aí foram pra lá, a mãe veio, mas o marido também, entendeu? Era a mulher e o esposo, depois veio a mãe e o marido atrás. Vieram correndo, não sei como eles entraram, entraram no terminal, aí eles começaram a discutir e correr em volta desses pilares lá e quando chegou perto da minha garrafa de café, eles cataram a garrafa de café que estava em cima do bebedor e foi tacando um no outro”, lembrou ela.
E lá se vão 7 anos desde que o ‘causo’ ocorreu. “Tem tanta gente que eu tenho amizade aqui. Tem motorista da época que eu entrei que ainda existe aqui, que é cliente VIP, só compra o meu. De histórias que a gente conta, de coisas que a gente vê no terminal. Já vi alunos invadir o terminal aqui e querer encarar os motoristas, um monte de motoristas e um monte de alunos”, relata Maria.
Outras histórias, no entanto, não tem o desfecho tão engraçado assim. É o que lembra a técnica em enfermagem Mara Camargo, 48. Ela frequenta o terminal Morenão – também um dos primeiros a serem inaugurados em Campo Grande -, onde costuma ficar 40 minutos todos os dias. Mara lembra de uma personagem que chama atenção e está no terminal quase todos os dias. Uma senhora que aparenta ter problemas mentais, e muitas vezes é incomodada pelos transeuntes.
“Não esqueço o dia em que ela foi esfaqueada. Tem os andarilhos e ela batendo neles, e agora faz muito tempo que não vejo eles, mas ficam sempre por aqui. Eu acho que ela tem também um problema de cabeça e ela fica nervosa com eles”, relata.
É parecida a lembrança do estudante Rafael Dantas, 21. Foi no terminal Morenão que ele viu o que classificou como ‘falta de solidariedade’ das pessoas. “Ninguém ligou pra isso, e acabou me marcando estar ali e poder ajudar, ao mesmo tempo em que eu via cada um seguindo com a sua vida”, concluiu ele, que saiu apressado para pegar o ônibus.
Uma amizade pra vida toda
Há quem ainda se sinta estranho em meio a tanta gente que circula todos os dias no terminal. Prefere ficar de canto, com fone nos ouvidos, observando ou buscando demarcar um lugar para chamar de seu. É o caso da caixa de mercado Maxlaine dos Santos Palópoli, 43. Maxlaine vivem em Campo Grande há pouco menos de um ano, e veio de Cuiabá, Capital do Estado de Mato Grosso.
Foi no terminal Morenão, ainda assim, que Maxlaine fez uma das amizades que mais significaram em sua vida. Uma simples conversa durante a espera do ônibus fez a diferença na vida dela. Maria Algusta é o nome da amiga e da gratidão de Maxlaine.
“Eu trabalhava a noite, aqui no terminal, vinha pra cá todo dia umas 23h e pouco da noite e, às vezes, por ficar muito sozinha, só sentadinha ali esperando, como é a noite né, não tinha amizade, não conhecia ninguém e a partir do momento que todo dia era o mesmo horário, mesmo horário, eu conheci uma moça, ela se chama Maria Algusta”.
“Essa moça hoje se tornou muito importante na minha vida. Eu não tenho parentesco com ela, só amizade. Eu devo muito a ela, vira e mexe ela vai na minha casa pra ver a minha filha, porque, por causa do conhecimento que eu tive com ela, ela ficou cuidando da minha filha. Eu levava a minha filha todo dia 5h30 da manhã, pra mim vir trabalhar e ela levava minha filha pra creche”, relata.
Uma estranha, conforme relatou Maxlaine, foi responsável por cuidar da filha e fazer com que a mãe, sozinha, pudesse trabalhar. “Uma pessoa que eu não sabia quem era a família, quem que deixava de ser. Eu falo que hoje ela é minha irmã, ela não é de sangue, mas é de coração”, comentou Maxlaine.
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